Close to the Sun – Análise

Hoje em dia é muito difícil encontrar algo verdadeira e puramente original. Estamos numa época extremamente prolífera em termos de entretenimento e é simplesmente difícil termos algo que não tenha sido inspirado por outras obras.

E isso não tem de ser necessariamente negativo. Existem obras de ficção cuja influência será eternamente vivida em muitas outras obras. Ao entrarmos no mundo de Close to the Sun, é impossível não sermos relembrados de outros jogos – aliás, as inspirações quase que nos são marteladas em cima, à medida que vamos avançando. Close to the Sun desenrola-se numa realidade alternativa, no final do século XIX, em que Nikola Tesla decide juntar as mentes mais brilhantes do mundo num único local – o navio Helios – em busca de uma utopia científica, um paraíso de descoberta e investigação. A jornalista Rose Archer – a nossa protagonista – sobe a bordo deste navio em busca da sua irmã, Ada Archer.

A juntar a isto uma estética art deco e uma espécie de cidade em movimento, aparentemente atingida por uma desgraça, temos uma série de componentes que invariavelmente nos fazem lembrar de BioShock. Mas as semelhanças (e já são bastantes) terminam aí. Ao invés de um FPS, o que temos aqui é na sua essência um walking simulator. A exploração é o foco principal do jogo, cujo mundo é pintado através de documentos e jornais que Rose vai encontrando. Esta irá ainda comunicar com algumas personagens através de um rádio, providenciando-nos alguma companhia num navio que aparenta estar deserto.

O Tesla é um maroto!

Close to the Sun tenta em alguns momentos estabelecer uma atmosfera tensa, quase de filme de terror, mas acaba por recorrer muito aos jump scares. Estes são infinitamente mais eficazes num jogo do que num filme, mas não devem ser a única ferramenta. Close to the Sun tem elementos suficientes para que fosse possível criar um ambiente mais pesado e gerar uma tensão de cortar à faca, mas apenas me senti aborrecida pela lentidão de Rose e a revirar os olhos em determinados momentos. Por isso, quando apareceu a primeira ameaça, o efeito não foi propriamente o desejado, como por exemplo num Amnesia.

Quanto ao combate, e como é usual nos jogos deste género, o mesmo é, a bem dizer, inexistente. Se encontrarem um inimigo, o preferível será esconderem-se, evitarem o mesmo e, em última instância, fugirem como se a vossa vida dependesse disso. Normalmente neste tipo de jogos a agilidade nunca é muita, adicionando ao sentimento de pânico e indefesa. Em Close to the Sun esta tendência mantém-se, mas acabou por se revelar mais chata do que propriamente uma mecânica com uma influência positiva na imersão do jogador.

Os controlos são bastante simples, permitindo correr e até saltar, mas na verdade Rose movimenta-se com a graciosidade de um elefante numa loja de porcelana. Os pontos de interação com os itens do mundo requerem alguma precisão. No geral, isto não é problemático (só mais chato, ao termos de mover um pouco para a esquerda ou para a direita para mexer naquela alavanca), à excepção de quando temos de saltar sobre algum obstáculo. Apesar de existir um comando para saltar, inexplicavelmente não o conseguimos utilizar para saltar por cima de obstáculos. Mais uma vez, este é um walking simulator, não um FPS. Mas quando encontramos alguma ameaça e temos de fugir, basta não conseguirmos acertar naquele ponto de interação e pronto… fim da linha.

O design dos cenários é sem dúvida um dos pontos fortes de Close to the Sun.

Apesar de a estória e do seu desenrolar serem até interessantes, a imersão era constantemente quebrada pelos diálogos. A escrita é completamente desconexa e o discurso das personagens não faz sentido, considerando a época em que o jogo se desenrola, mesmo contando com o facto de ser uma realidade alternativa. É impossível não morrer por dentro ao ouvir a frase “cut out the nerd shit”.

Mesmo tendo em conta os diálogos fraquíssimos, o desempenho dos atores consegue até brilhar. É pena que a escrita não tenha sido melhor, de modo a acompanhar a qualidade dos atores. A nível visual, já referi acima que Close to the Sun optou por uma estética bastante art deco, quase a puxar para o steampunk e os cenários são belíssimos. São tão bonitos que acabam por destoar completamente no que toca aos gráficos e animações das personagens que encontramos. Parece que foi tido um imenso cuidado e carinho com a criação dos cenários, acabando por deixar outros componentes meramente sofríveis, com várias instâncias de texturas a demorarem séculos a carregarem (principalmente quando abria um documento).

Close to the Sun poderia ser muita coisa, e tenta sê-lo, mas acaba por não conseguir criar uma identidade própria. Apesar das suas inspirações óbvias, a utilização de uma figura real como Nikola Tesla dá-lhe um charme próprio e aguça a curiosidade dos jogadores. As suas criações são colocadas em destaque logo no início do jogo e é uma personagem deveras intrigante. Mas a sua jogabilidade fraca falha em conseguir criar uma imersão apropriada a um jogo de terror, fazem com que rapidamente se perca o interesse na história de Close to the Sun. O que, no final de tudo, é uma pena.

Opinião Final:

Close to the Sun poderia ser um excelente walking simulator, com grandes inspirações mas também com elementos suficientes para se conseguir destacar dos demais. No entanto, as suas ambições provaram ser insuficientes devido a uma má execução de boas ideias.

Do que gostamos:

  • Premissa interessante;
  • Design de cenários;
  • Nikola Tesla ajuda a aguçar a curiosidade dos jogadores.

Do que não gostamos:

  • Controlos;
  • Diálogos completamente desenquadrados da época;
  • Falha na criação de imersão e suspensão de descrença.

Nota: 6.5/10