Commandos: Origins marca o regresso estratégico de uma das séries mais emblemáticas do género tático em tempo real, agora redesenhada para a nova geração. Desenvolvido pela Claymore Game Studios e publicado pela Kalypso, o título chega à PlayStation 5 com a promessa de modernizar a fórmula clássica, mantendo-se fiel ao ADN que conquistou fãs desde o final dos anos 90. Com o apoio do Unreal Engine 5 e uma campanha que explora as origens da equipa original de comandos, este é um jogo pensado para os puristas, mas com o suficiente para atrair novos recrutas ao campo de batalha.
A campanha principal inclui 14 missões ambientadas em cenários variados da Segunda Guerra Mundial, desde florestas europeias e desertos norte-africanos até postos avançados no Ártico. Em vez de cutscenes longas ou narrativas expositivas, o jogo utiliza diálogos breves e objetivos diretos para contextualizar a missão. O foco mantém-se na ação tática em tempo real, com pausas opcionais para planear movimentos, essencial para sincronizar ações entre os seis membros jogáveis. Cada um deles tem um conjunto de habilidades e equipamentos únicos: o Boina Verde pode escalar paredes e carregar corpos, o Sniper tem balas limitadas mas letais, o Espião pode distrair e usar uniformes inimigos, o Engenheiro coloca armadilhas, o Mergulhador desloca-se por água, e o Condutor pode usar veículos e metralhadoras fixas. Esta diversidade é crucial para resolver os múltiplos quebra-cabeças que cada mapa propõe.
Um exemplo claro de design engenhoso encontra-se numa missão passada numa vila costeira ocupada. O jogador pode optar por envenenar o vinho do oficial nazi, usar o Mergulhador para colocar explosivos debaixo do cais ou infiltrar-se disfarçado pelo pátio traseiro. Todas as abordagens são válidas e recompensam a experimentação. A estrutura das missões incentiva precisamente isso: observar padrões, testar hipóteses e aprender com o erro. Uma das ferramentas mais eficazes é o modo de comando sincronizado, que permite preparar múltiplas ações e executá-las em simultâneo com um único botão. Este sistema é particularmente útil para emboscadas silenciosas, como quando usamos o Espião para distrair dois guardas enquanto o Boina Verde e o Sniper eliminam os alvos.
Apesar desses acertos, a inteligência artificial continua a ser o calcanhar de Aquiles do jogo. Guardas que ignoram corpos caídos, deteções atrasadas e reações contraditórias quebram a ilusão de realismo e exigem save/load frequentes. É comum o jogador repetir a mesma sequência cinco ou seis vezes até acertar no tempo perfeito, não por desafio, mas por inconsistência.
Visualmente, Commandos: Origins beneficia bastante do motor gráfico moderno. A iluminação dinâmica destaca áreas de sombra importantes para a furtividade, e o detalhe dos uniformes e edifícios históricos acrescenta imersão. A rotação completa da câmara revela pormenores escondidos, como portas secundárias, janelas abertas ou emboscadas à espreita. A fidelidade visual nunca compromete a clareza das mecânicas, o que é vital num jogo em que a posição e o cone de visão inimigo são cruciais.
O jogo oferece ainda modo cooperativo local e online para dois jogadores, permitindo dividir o controlo das personagens. Esta funcionalidade é um dos pontos mais fortes da experiência na PS5. Há algo de taticamente delicioso em planear com um amigo a sequência perfeita de neutralizações coordenadas. Infelizmente, o jogo limita o cooperativo a dois jogadores e não inclui matchmaking automático, o que restringe o seu uso a sessões previamente combinadas.
Em termos de desempenho, a versão PS5 mantém uma taxa de fotogramas estável a 60 fps, mesmo em mapas grandes como o da ponte ferroviária ou do aeródromo alpino. Os tempos de carregamento são curtos e o comando DualSense é usado com alguma subtileza. Pequenas vibrações ao passar rasteiramente ou ao abrir uma porta são bem-vindas, mas o feedback háptico poderia ser mais explorado, especialmente durante alarmes ou tiroteios. As opções de acessibilidade são limitadas, faltam modos de alto contraste ou leitura de texto.
O som acompanha sem grandes surpresas. A banda sonora raramente se impõe, surgindo sobretudo como realce de momentos de tensão ou descoberta. Os efeitos sonoros são bem conseguidos, especialmente os sons ambientes como o ranger de madeiras, latidos de cães ao longe ou conversas em alemão entre soldados. As vozes principais cumprem, mas nenhuma se destaca. A ausência de dobragem em português é uma pena, embora a tradução dos textos e menus seja de boa qualidade.
Opinião Final:
Commandos: Origins é, no seu melhor, um puzzle militar meticuloso, onde cada ação tem peso e cada falha ensina. No seu pior, sofre de problemas técnicos e de uma IA que compromete a estratégia. Ainda assim, para os fãs de tática pura, é uma adição valiosa à PS5. A estrutura das missões é engenhosa, os cenários memoráveis e a sensação de sucesso após uma operação perfeita é inigualável. É um regresso que, mesmo com imperfeições, merece ser jogado com calma, atenção e um dedo sempre pronto no botão de guardar progresso.
Do que gostamos:
- Missões com múltiplas soluções e liberdade de abordagem;
- Personagens com papéis e habilidades diferenciadas;
- Excelente ambientação visual e sonora com boa leitura tática.
Do que não gostamos:
- IA com comportamentos erráticos
Nota: 6,5/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.