Dakar 18 – Análise

O Rally Dakar é provavelmente uma das provas desportivas mais duras de todo o mundo, e seguramente só os mais ousados têm a coragem necessária para enfrentar o deserto por três países diferentes durante vários dias. A taxa de pilotos que conseguem terminar o evento ronda apenas a metade dos participantes.

Para além do desafio imposto aos participantes da prova, houve aqui também um desafio igualmente grande para o estúdio português de Vila Nova de Gaia, Big Moon Studios,em conseguir entregar um jogo que difere em quase tudo de qualquer outro jogo de desportos motorizados. Dakar 18 cobre uma extensão total de 15 mil quilómetros quadrados recriando na íntegra cada etapa principal da última prova de Dakar. Vais encontrar muita areia, dunas e trilhos com solos irregulares que vão tornar a navegação num ponto crucial para que te dês bem com a proposta apresentada pelo estúdio português.

Em primeiro lugar, Dakar 18 assume-se como um jogo de navegação e só depois como um simulador automóvel. O foco é claro, aprender a manusear os road books de forma a que cada etapa se torne mais acessível e se conjugue com o realismo desta competição, que se considera a si própria como a prova mais dura de rally raid.

Apesar de em Dakar 18 encontrarmos tudo fielmente retratado, desde os reconhecidos road books, passando pela dedicação entregue a cada duna e chegando às licenças oficiais da prova, será que mesmo com toda esta amostra de potencial, o jogo consegue, no essencial, cumprir? Para o sucesso de Dakar 18 é essencial que todos estes elementos, juntamente com todas as categorias presentes neste (buggys, carros, camiões, motas e quads), consigam mostrar um nível de estabilidade rentável para que se possam realizar provas que podem ultrapassar as duas horas de duração.

O grande problemas que acabamos por encontrar neste jogo foi precisamente nas suas físicas, que não mereceram a mesma atenção que foi dada aos detalhes do deserto, que embora com um aspeto ambicioso, carece de muita diversão e de uma real experiência de condução, focando a sua visão no realismo e dureza inerentes à prova, esquecendo-se de que talvez o jogo seja demasiado radical para atrair um grande número de fãs. Claro que os amantes da prova vão ter aqui uma boa oportunidade de experimentar aquele que talvez seja o conceito que mais se aproxime do Dakar real.

A sua essência é de tal forma focada na simulação e em retratar a exigência da competição que o prazer de conduzir se torna num papel de fundo relativamente à sua exigência ao nível da navegação. Prova disso é que se temos o pequeno azar de nos distrairmos com o que quer que seja, é muito provável que percamos o nosso rumo, mais concretamente o nosso way point e que tenhamos de andar à procura de um “oásis” que nos tire dali. Perdemo-nos de facto!

Contudo, o nível de detalhe da prova não se fica por aqui. Em Dakar 18 as penalizações também se baseiam na dureza real da prova. Caso não ativemos um sinal de leitura de um ponto intermédio, as penalizações e ainda perseguidos com outro tipo de acontecimentos como é o caso dos acidentes que podem ocorrer durante a prova. E como imaginam, as motas são bastante fáceis de ser derrubadas. É um realismo que talvez passe os limites do razoável pois nem todos os jogadores terão a disponibilidade para se adaptarem ás dificuldades impostas por Dakar 18.

O jogo inicia-se em forma de tutorial onde nos são dadas a conhecer todas as especificidades que vamos encontrar ao longo da nossa aventura pelas 14 pistas principais da prova. Sendo que a primeira prova introdutória serve apenas para nos dar a conhecer o road book (guia de navegação), como nos orientamos durante a mesma e todas as funcionalidades do veículo. Mas atenção, as restantes etapas chegam a ter trajetos de centenas de quilómetros. Nesse aspeto a Big Moon Studio esteve irrepreensível e interligou o desporto de forma muito bem conseguida ao mundo dos videojogos. O jogo contou ainda com a presença de Bianchi Prata, piloto que já participou na prova dando o seu contributo ao estúdio com toda a sua experiência.

O afinco pela simulação foi levado a um nível de detalhe tal que existem pormenores que fazem de Dakar 18 um jogo que visivelmente foi feito para entregar o que todos os outros não conseguem. Os pilotos podem contrair lesões nas colisões, as avarias que requerem de nós muita cautela pois um acidente pode muito bem entornar o caldo todo e até as areias traiçoeiras que nos prendem o carro e temos de usar um gancho de um outro veículo para nos conseguirmos livrar do lamaçal e voltar à prova. Todos estes acontecimentos podem ser vistos em provas reais de Dakar, sendo este um dos motivos pelos quais o estúdio merece a melhor das considerações. Embora claro, existam as suas limitações, como é o caso das colisões.

Falando mais assertivamente sobre a mecânica dos carros e continuando a dissertação da simulação de Dakar 18, onde carros podem sofrer avarias a meio de uma especial o que vai fazer com que este tenha de ser reparado no local, e quanto maior for o dano também o tempo o é, e tempo é tudo o que nos interessa ter a menos para que coligámos concluir uma prova à frente dos nossos adversários. E é preciso uma atenção extrema aos acidentes porque às vezes um pequeno embate pode causar danos de grande escala e portanto, mais tempo.

Se o nível de condução tivesse atingido o nível de detalhes e realismo no jogo, este seria certamente muito melhor. Foi realmente uma pequena infelicidade verificar que muitas das físicas aplicadas a todos os veículos inerentes a Dakar 18 não estejam da forma à qual os jogadores se identificam, estando até já um pouco datadas. Em determinados momentos a condução é satisfatória e sem grandes percalços. No entanto existem outros momentos em que o controlo do carro ganha vida e nos deixa a patinar de forma um pouco estranha e para voltar a tomar o controlo do bicho, leva o seu tempo. As dificuldades técnicas mais vistas por nós, foram precisamente nas motas onde o seu contacto com a superfície também não corresponde aos padrões de um jogo com esta ambição. O atrito entre mota e terreno parece não representar de forma muito coerente a realidade tornando a condução muito forçada e pouco gratificante.

Além das complicações associadas à condução de cada tipo de veículo existe um outro que acaba por ser de dimensões semelhantes. A monotonia associada a cada especial. Volto a frisar que apesar de um bom trabalho do estúdio Português o grande erro terá sido o da enorme dedicação ao realismo da prova esquecendo-se um pouco da definição básica de um videojogo, que é ser produzido para entreter e cativar os seus jogadores através de novos estímulos que nos continuam a colar ao ecrã por mais e mais tempo. A duração das etapas é muito grande, e apesar de ser possível sair em determinados waypoints sair e voltar de novo ao jogo, o cenário e o contexto vai ser o mesmo. Atravessar dunas, áreas rochosas e uma concentração imensa no road book para que não nos percamos e voltemos a andar às aranhas.

O que nos leva então a um outro fator de elevado interesse, os visuais. Graficamente o jogo Português a uma primeira vista pode conceder-nos uma reação de surpresa (no bom sentido). Mas há medida a que o vamos jogando vamos também percebendo que são visuais já um pouco desatualizados e  apesar de toda a sua área não deixa as melhores impressões a um jogador mais exigente, mesmo com a dinâmico ciclo dia/noite implementada em Dakar 18, que embora seja uma boa adição acaba por não nos trazer nada de realmente novo ou surpreendente. Por outro lado, vemos que todos os veículos estão corretamente modelados e apresentam visuais muito representativos da sua versão real, desde da carroçaria aos patrocínios.

Para além das 14 especiais disponíveis temos ainda a possibilidade de jogar online com outros jogadores nas diferentes categorias que englobam a prova, jogar também em modo split screen. O modo treasure hunt é também uma adição com o intuito de promover a diversão que consiste em que encontremos as relíquias deixadas deserto fora através  do nosso road book, são adições importantes de facto para promover a continuidade pós termino da realização do rally.

A Big Moon Studios merece toda a nossa consideração, principalmente a dos verdadeiros apoiantes da industria em Portugal. Um estúdio que pegou num nome de enorme escala e ganhou a confiança da realização para avançar com o projeto e que fez de um modo geral um bom trabalho. Um pouco morno em vários aspetos mas que no seu todo deixa boas impressões e prespetivas de futuro. Muito do seu trabalho foi feito para recriar uma prova coerente em que tudo retratasse a fidelidade das adversidades passadas pelos concorrentes de rally e talvez tenha sido também o seu maior erro, deixando muita da diversão e imersão do propósito de um videojogo de lado.

Opinião Final:

Um jogo que simula de forma quase perfeita a realidade de uma prova tão acarinhada pelos fãs de desportos motorizados mas que ao mesmo tempo carece em pontos fundamentais para o sucesso de um jogo que pretende vender para as massas. Se estão a procura de algo que vos divirta e agarre ao ecrã pela novidade, profundidade e diversão este não é o jogo perfeito para vocês. Apesar disso o jogo consegue cumprir com o seu objetivo porque de todo o modo o seu foco é a simulação pura e dura do Dakar. Um jogo com várias nuances que detém bons e maus momentos, apesar de alguns desses maus momentos se sobressaírem ao que de bom foi feito pelo estúdio Português.

Do que gostamos:

  • Fidelidade da prova;
  • Prova devidamente licenciada;
  • Muliplayer e modo Treasure Hunter.

Do que não gostamos: 

  • Físicas não convencem;
  • Visuais datados para a atualidade;
  • Falta de diversão e imersão;
  • Simulação levada ao extremo.

Nota: 6/10