Dark Souls: Remastered – Análise

Por esta altura, Dark Souls é já um clássico dos videojogos, amado por muitos e elevado ao estatuto de quase um Cabo das Tormentas, apenas ultrapassado pelos mais corajosos. Já lá vão uns anos e umas sequelas e como tantos outros títulos, Dark Souls levou com o tratamento de remaster, tanto em consolas como a Playstation 4 e Xbox One – como agora na Nintendo Switch. Regozijem-se! Agora já podem morrer vezes sem conta onde quiserem!

Como muito boa gente, apesar de nunca ter tido o prazer (ou flagelo) de ter jogado Dark Souls, já tinha ouvido falar muito da série- tendo inclusive interesse acrescido por Bloodborne e toda a sua estética. Mas mesmo assim, apesar de estar à espera de uma experiência extremamente difícil, nada me poderia preparar para o que enfrentei.

Peguei no comando, andando um pouco a medo, ganhando confiança a pouco e pouco à medida que ia avançando – e morrendo – até chegar ao primeiro boss. É agora, pensei eu, é agora o grande teste, o combate que separa o trigo do joio e vai definir se estou preparada ou não. Umas quatro mortes depois (em Dark Souls comecei a medir o tempo pelas vezes que ia morrendo), consegui derrotá-lo. Espetáculo, sou maravilhosa, a última bolacha do pacote e isto não é tão difícil assim.

Primeiro erro. Assim que saí da primeira área e fui largada no mundo a sério de Dark Souls, comecei a sentir-me como o Paulo de Carvalho com a música E Depois do Adeus a ecoar-me na cabeça. Hoje em dia vivemos numa altura em que, seja qual for o género, se sofre de um excesso de apaparicamento do jogador, explicando-se tudo ao ínfimo detalhe para que nada da experiência lhe passe ao lado. Dark Souls está-se bem a lixar para tudo isto. Como já devem saber, apesar de Dark Souls ter efetivamente história e lore, nada é explicado. Não existem quest logs ou mapas. É o mais puro exemplo de show, don’t tell e cabe ao jogador levar a exploração até ao limite.

Fogueiras, o único refúgio que têm em Dark Souls. Devia haver uma em cada canto,

Confesso que tudo isto é um conceito que me apelou logo desde o início, ainda que me sentisse perdida e sem objetivo. Não é usual, e como jogadores acabamos por estar muito dependentes de dicas por parte do próprio jogo, de uma orientação sem a qual já não sabemos viver. Por isso, em Dark Souls acabamos por sentir que o único caminho é em frente – e assim seguimos.

Tenho um grande problema como jogadora e que logo desde o início me causou stress a jogar Dark Souls. Sou impaciente, quero levar tudo à frente e sou firme crente de que se consigo aumentar as habilidades da minha personagem, então tudo vai correr bem – exatamente por estar habituada a uma curva de dificuldade ascendente e progressiva, que me permite uma atitude de combate mais direta.

Dark Souls fez logo questão de me cortar as pernas, uma e outra vez, obrigando-me a repetir a mesma porção de jogo vezes sem conta até finalmente cair em mim que tinha de ir com calma, medir os inimigos com cuidado e olhar bem antes de virar uma esquina. Dark Souls recompensa o jogador paciente, não aquele com mais pontos nas suas habilidades ou o que tem melhor equipamento – apesar de tudo isto também influenciar. Não vale de nada serem espetaculares nestes aspectos se depois subestimarem os inimigos. A morte chega depressa e às vezes sem aviso.

Este port de Dark Souls: Remastered para a Nintendo Switch foi-nos trazido pela Virtuos e, apesar de conseguir ser deslumbrante, é fácil perceber que estamos a olhar para um jogo que já mostra um pouquinho da sua idade. Ainda assim, mantém-se na tradição que tem vindo a ser criada de adicionar grandes jogos, ainda que já com alguns anos, ao catálogo da Switch. Apesar de com Dark Souls, as hipótese de ver a consola a voar pelo ar ser bastante mais elevada do que com outro jogo qualquer.

Com esta paisagem até é fácil esquecer que estamos prestes a morrer pela enésima vez.

Algo que poderia ter sido afinado é sem dúvida o esquema de controlos e os menus. Vezes sem conta me vi quase às portas da morte porque não me apercebi de que tinha um menu aberto (sob a forma de um ínfimo rectângulo no canto superior direito) e continuava a poder mover a minha personagem, mas sem poder atacar. Dark Souls não espera por ninguém, não existem cá pausas ou momentos para respirar num menu qualquer. Quanto aos controlos, existe uma inversão dos botões A e B e confesso que após umas horas de jogo ainda me consigo baralhar – o B é utilizado para aceitar ações ou opções no menu e o A para sair. Um pouco confuso e francamente escusado.

Graficamente, Dark Souls levou uma boa lavagem e apresenta-se aqui com uma nova cara. É certo que não temos aqui perante nós uma versão PS4 ou Xbox One (e isso já é um dado adquirido, visto a Switch ser menos poderosa), mas temos uma versão que ainda assim consegue ter bom aspecto tanto numa televisão (a 1080p) como no pequeno ecrã (a 720p) da consola. E acreditem que vão levar um enxerto de porrada tal que nem vão ter tempo de se preocupar com texturas e outras coisas que tais. Algo que sofreu e bem com este port foi o som. É certo que após morrerem uma dezena de vezes vão estar demasiado irritados para se aperceberem, mas a compressão sonora é notória e acaba por prejudicar a qualidade geral do produto final.

Ninguém está à espera que esta seja a versão definitiva de Dark Souls em qualquer plataforma – não o é. A qualidade gráfica e framerate nunca estarão ao nível de outras versões e o som também não é o melhor. Mas a experiência e jogabilidade estão presentes em toda a sua essência e é disso mesmo que Dark Souls vive – de uma experiência inigualável que o consagrou como um dos grandes videojogos de todos os tempos. Não vos posso com consciência tranquila recomendar que se atirem de cabeça – Dark Souls não é definitivamente para todos. Mas se já forem velhos fãs da saga ou simplesmente não conseguirem aguentar com curiosidade, Dark Souls de bolso consegue proporcionar-vos mil e uma maneiras de morrer, estejam onde estiverem.

Opinião Final:

Num catálogo de jogos que está a ficar cada vez melhor, Dark Souls: Remastered para a Nintendo Switch destaca-se pela sua dificuldade e constante castigo dos jogadores que teimam em não aprender com os seus erros. Apesar de já ter uns anos, continua a ser uma experiência sólida e que se destaca da maioria que o mundo dos videojogos tem para oferecer. Uma excelente adição à coleção dos jogadores de Switch mais destemidos… e pacientes.

Do que gostamos:

  • Mais um clássico na Nintendo Switch;
  • Apesar de mostrar a sua idade e estar claramente um grau abaixo das versões de outras consolas, consegue ainda ter cenários impressionantes.

Do que não gostamos: 

  • Colocação do menu e controlos invertidos podem causar mortes sem sentido;
  • Compressão de som e respectiva qualidade mais baixa é notória;
  • Dark Souls castiga o meu estilo de jogo impaciente sem dó nem piedade.

Nota: 8/10