Darkestville Castle – Análise

Não é mentira nenhuma dizer que a era de ouro das aventuras point & click já chegou e se foi embora há uns bons anos. Deixou-nos clássicos intemporais, como The Secret of Monkey Island, e uma miríade de jogos cujas histórias serão sempre alvo de saudosismo. Apesar de alguns deles voltarem e meio termos um remake ou um remaster de um título mais conhecido, não acredito que voltemos a ter jogos de peso como na década de 90, ainda que volta e meia se tente um revivalismo do género. Darkestville Castle é um jogo feito claramente por uma equipa que adora o género e acaba por funcionar não só como um exemplo competente, mas também como uma carta de amor a jogos de uma outra era.

A primeira impressão conta muito e ao começarmos a nossa aventura, a primeira sensação que tive foi de que tinha em mãos um misto de Tim Burton nos seus primórdios, com um jogo que gritava The Curse of Monkey Island. Até a música parecia ecoar um pouco de Danny Elfman e as minhas expectativas começaram a subir, confesso.

Assumimos o papel de Cid, um demónio que vive no castelo de Darkestville e passa os seus dias a aterrorizar a população. Ou, pelo menos, acha ele. Tendo crescido em Darkestville, para Cid a ideia de fazer o mal é, basicamente, causar algumas inconveniências e pregar partidas. Os cidadãos de Darkestville já estão mais que habituados a Cid e apenas o veem como um brincalhão inconveniente. No entanto, nem todos são tão benevolentes e o seu arqui-inimigo Dan Teapot decidiu contratar os irmãos Romero – uma troupe de caçadores de demónios – para pôr fim à brincadeira de Cid. Como é óbvio, Cid não acha piada nenhuma a este plano e eventualmente o caos acaba por acontecer.

Concordo.

Darkestville Castle é uma boa representação daquilo que eram os jogos de point & click na sua era de ouro, tanto no bom como no mau. Apesar de ter um sentido de humor encantador e uma personagem principal carismática, Darkestville Castle sofre do terrível mal que assombrou inúmeros jogos do género ao longo dos anos – puzzles completamente ilógicos. Se ao início ainda fui conseguindo desbravar caminho ao prestar atenção a todas as descrições e diálogos, rapidamente fui percebendo que muitas das soluções para os puzzles do jogo não faziam sentido nenhum. Um bom jogo do género não deve ser excessivamente fácil mas não deve ser tão obtuso ao ponto de obrigar os jogadores a recorrer a um guia. Deve ir deixando algumas migalhas de informação que permitam ao jogador ir descortinando a solução.

Darkestville Castle não só tem soluções que obrigam a experimentar todos os itens do inventário em todos os hotspots do cenário, como também tem demasiadas fetch quests e demasiados puzzles em que a solução é obter todos os itens numa lista fornecida por uma determinada personagem. No segundo acto, isto acontece não só uma, nem duas, mas três vezes. Sinceramente, ao invés de inventivo, isto faz com que o jogo pareça só preguiçoso.

Dois dos elementos que ajudam a conferir personalidade a qualquer jogo, mas ainda mais a um deste género, é a sua arte e escrita, aliada ao desempenho dos atores de voz (caso existam). Infelizmente, tanto a arte como as vozes são terrivelmente inconsistentes, oscilando entre o bom e o terrivelmente medíocre. A voz de algumas das personagens é simplesmente sofrível e por vezes seria melhor se não tivessem sequer vozes. Felizmente, a voz de Cid é excepcional, o que melhora imenso a experiência considerando que os seus monólogos e pensamentos nos acompanham durante todo o jogo. Quanto à arte, foi adoptado um estilo cartoonesco que faz muito lembrar não só The Curse of Monkey Island, mas também Day of The Tentacle… isto até chegarmos a alguns dos irmãos (e irmã) Romero ou a outras personagens cujo estilo é completamente diferente e, francamente, amador. As animações também não ajudam e dá a sensação de que a arte do jogo foi trabalhada por duas pessoas que não comunicaram entre si.

Quanto à escrita, este é o ponto onde Darkestville Castle francamente brilha. O seu sentido de humor e texto é muito reminiscente dos clássicos de outrora e faz-nos querer explorar todos os cantinhos só para ouvir o que Cid tem a dizer sobre, bem, tudo. O mundo é tudo menos normal e todas as personagens que encontramos têm imensa personalidade e contribuem para cenários memoráveis. Sinceramente, fiquei com pena de Darkestville Castle ter terminado tão rapidamente (apesar de se poder considerar que tem a duração ideal) porque acho que tem um enorme potencial cómico que deveria ser mais explorado.

Todo um cenário paradisíaco, ainda que um bocadito quente.

Apesar de alguns soluços, a experiência global foi felizmente divertida e agradável. Os controlos foram bem adaptados para a PS4 e fico sempre surpreendida quando vejo uma experiência que associo unicamente à utilização de um rato ser tão bem adaptada a um gamepad. O enredo, ainda que superficial, é divertido e a experiência relembrou-me de porque é que sempre gostei tanto de aventuras point and click. Cid é uma personagem engraçada e carismática, e gostaria que Darkestville Castle fosse o ponto de partida para jogos similares, mas maiores e melhores.

Opinião Final

Darkestville Castle não reinventa o género, mas é uma bela carta de amor de alguém que claramente adora os clássicos point and click, com todos os seus defeitos e virtudes.

O que gostámos:

  • Aventura point and click evocativa dos melhores títulos do género;
  • Cid é uma personagem que dá imenso gozo de controlar;
  • Experiência divertida.

O que não gostámos:

  • Arte e trabalho de vozes inconsistentes dão um ar pouco polido;
  • Puzzles conseguem ser bastante ilógicos;
  • Utilização excessiva de fetch quests no segundo acto.

Nota: 7/10