Dead Space Remake (PS5) – Análise

Começo esta análise por dizer que o remake de Dead Space é dos melhores survival horror que joguei recentemente – a par com Signalis. Já se passaram uns largos anos desde que peguei na série Dead Space, sendo que gostei do primeiro, adorei o segundo e joguei 15 minutos do terceiro antes de desistir. Honestamente, não me lembrava de muito do primeiro jogo, para além dos pontos mais identificativos e básicos, quer em jogabilidade, quer em narrativa – pelo que a experiência de jogar este remake foi ainda mais prazerosa pelas “surpresas” que ia tendo pelo caminho.

A essência de Dead Space está aqui, mas atrevo-me a dizer que temos um remake ao nível de Demon’s Souls mas ainda melhor. O jogo é extremamente fiel ao original mas não se deixa ficar pela recriação de um mundo centímetro por centímetro, adicionando vários elementos que expandem e melhoram a experiência de jogo.

A esta altura do campeonato (já se passaram 15 anos pessoal), já toda a gente sabe que Dead Space nos coloca no papel de Isaac Clarke, um engenheiro que se desloca à nave USG Ishimura com a sua equipa, com o objetivo de investigar uma falha de comunicações da imensa nave, bem como reparar a mesma. Escusado será dizer que muitas coisas acabam por correr mal e a equipa acaba por se deparar com uma infeção alienigena que transforma a tripulação em monstros com membros afiados. Não, o enredo do jogo não é só isto mas se nunca jogaram Dead Space (como não?), não vos quero estragar a experiência. Enquanto que no original, Isaac era uma personagem muda, aqui foram buscar o ator de voz das sequelas e as falas e escrita foram retrabalhadas. Todos os diálogos com os vossos colegas de equipa e não só permitem uma maior imersão no jogo e na sua história, percebendo muito melhor o que se está a passar e as motivações de cada um.

Ir à casa-de-banho a meio da noite às escuras não é divertido.

Foram ainda adicionadas algumas side quests, que não são em demasia e que ajudam a trazer um pouco mais de dimensão e sumo ao enredo principal. Estas side quests envolvem por vezes algum backtracking, que é facilitado considerando que desta vez todas as áreas da Ishimura foram criadas como espaços efetivamente interligados, como se de uma nave real se tratasse. Isto adiciona positivamente à sensação de exploração e à tensão de termos de novamente passar por aquele corredor escuro… acham que já limparam aquela área de inimigos? Não tenham tanta a certeza. No entanto, o jogo é claramente scripted nos encontros com inimigos, algo que acaba por diminuir a tensão e medo sentido para aí a partir do meio do jogo. É certo que este é um problema com muitos survival horrors e, na minha opinião, francamente difícil de resolver. O jogador rapidamente se habitua aos inimigos, o aperto no coração já não é o mesmo e sentimo-nos mais fortes e capazes. Isto é, até chegarem aos inimigos da nave Valor (socorro).

Nada como uma paisagem cénica para alegrar o dia.

Outra das grandes diferenças deste remake é a utilização da mecânica de gravidade zero, já presente nas sequelas. Enquanto que no original, apenas podíamos movimentarmos através de “saltos gravitacionais” bem calculados, nesta versão podemos movimentar-nos livremente em zonas de gravidade zero, adicionando à exploração e sensação de verticalidade de alguns dos cenários, bem como tornando mais interessante sequências como a luta com o Leviathan. Uma das sequências mais mal amadas do original era a utilização dos canhões da Ishimura para destruir asteroides. Esta sequência foi substituída por mais instâncias de utilização da movimentação em gravidade zero, dando outro envolvimento à sequência, com Isaac a ter de resolver a situação fora da nave, sujeito a levar com um calhau na cabeça e ainda andar a desviar-se de bebés demoníacos. Foi efetivamente uma alteração inteligente, envolvendo muito mais o jogador e deixando de lado uma parte do jogo que preferimos esquecer.

Graficamente, as diferenças também são bem notórias, mantendo de todo o modo a estética do original. Os modelos dos NPC’s foram retrabalhados, de modo a refletir as feições dos seus atores respetivos, enquanto que o ambiente sofreu uma imensa melhoria face ao original, em virtude as melhorias técnicas que temos disponíveis em 2023. Para mim, um dos pontos fortes e de destaque de Dead Space como jogo de terror, é sem dúvida alguma a sua utilização de iluminação e sombras. É fácil ver vídeos do jogo e assumir que é demasiado escuro, que o original se via melhor bla bla bla, mas acreditem que a escuridão trabalha em prol do jogo, ao invés de contra e apercebi-me disso quando o jogo me obriga a escolher entre dar energia à luz da sala onde estava ou ficar sem suporte de vida, arriscando-me a morrer sem oxigénio. Hesitei, juro que hesitei. Apesar de escuro, nunca tive momentos em que senti que o jogo era demasiado escuro, com a iluminação de painéis e outros a funcionar de forma bem estratégica, a par com a luz emanada pelas armas de Isaac. Qualquer sombra a mexer me fazia saltar e às vezes podia ser só uma ventoinha a funcionar. São estas pequenas coisas que no seu todo criam uma boa experiência de terror.

Os verdadeiros amigos são aqueles que não se transformam em necromorphs pelo caminho.

Quanto às armas, também foi melhorada a forma como as obtêm. Se no original tinham de as comprar, agora são encontradas durante a exploração da nave, o que faz muito mais sentido e permite que guardem os vossos créditos para coisas mais importantes. O que se mantem é toda a forma de as poderem melhorar, bem como os mesmos tipos de armas, permitindo que enfrentem os inimigos da melhor forma – se bem que o desmembramento se manterá sempre a forma privilegiada de matar um necromorph.

Todas as migalhas de informação que vamos encontrando na Ishimura pintam um pouco do quadro abominável daquilo que aconteceu na nave. Dead Space tem tanto de The Thing como de Event Horizon, com variadas situações e diálogos a demonstrarem e envolverem o jogador na descida ao inferno da loucura. A paranóia neste jogo é real, em parte devido ao excelente trabalho de iluminação e em parte devido à forma em que vamos descobrindo o verdadeiro motivo da infeção. Dead Space vale-se de jump scares, é certo, mas ao invés de um jogo como The Callisto Protocol, que trata tudo como uma maratona sem perceber ao certo o que é que efetivamente faz a atmosfera, Dead Space leva-nos com calma q.b., atirando-nos com um necromorph à cabeça quando menos esperamos e lançando-nos para momentos frenéticos em que sentimos efetivamente que estamos a lutar pela nossa vida. Dead Space de 2023 é uma viagem aos confins da loucura e do terror, um remake é sem dúvida alguma a melhor versão deste clássico.

 

Vídeo Gameplay do jogo Dead Space. Venham ver, cliquem no vídeo e vejam o nosso gameplay.

Opinião Final:

Dead Space é um clássico do survival horror, um excelente título que já acusava a sua idade e que foi largamente melhorado neste remake, que ainda assim manteve todo o respeito pelo título original, ao mesmo tempo que nos entrega a melhor experiência possível dos horrores da USG Ishimura.

Do que gostamos:

  • Utilização da iluminação e sombras;
  • Novos diálogos e atuações de voz, inclusive de Isaac;
  • Experiência de terror sólida;
  • Tremendo respeito pela experiência original, entregando ainda assim algo de novo.

Do que não gostamos:

  • Nada?

Nota: 10/10

Análise efetuada com um código PS5 cedido gentilmente pela distribuidora.


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