O já conhecido Hideo Kojima será, sem dúvida o auteur mais aclamado pelos fãs mais graúdos de videojogos. Para além de ter deixado a sua marca na indústria ao ter sido o pai de “Metal Gear” e de todo o estilo de jogo stealth que daí saiu, em 2019 lançou Death Stranding com o seu novo estúdio independente Kojima Productions, revolucionando as convenções do género ao misturar exploração em mundo aberto com uma forte ênfase narrativa e mecânicas sociais inovadoras. Recordam-se da COVID-19 e o quão importante foi a internet para ultrapassar a distância entre família e amigos? Pois bem, Kojima quase que previu os eventos do ano seguinte quando nos fez refletir sobre a importância de “estabelecer ligações” num mundo completamente desconectado. Podem ler ou reler a nossa Análise a Death Stranding publicado em 2019 e que mereceu a nossa Nota de 10/10, aqui.
Os jogadores assumiram o papel de Porters e realizavam entregas em paisagens pós-apocalípticas, desenvolvendo conexões indiretas com outros Porters através do Sistema de Social Strands (SSS). O SSS permitia construir estruturas (estradas, pontes, escadas) para ajudar outros jogadores, colocando a “ligação” no centro da experiência.
Essa abordagem híbrida – entre aventura a pé, combate ocasional e multijogador assimétrico – tornou Death Stranding único e garantiu-lhe aclamação global e vários prémios da indústria. Embora não tenha sido um jogo para toda a gente – alguns sites jornalísticos classificaram o jogo com notas pouco favoráveis – certo é que Death Stranding ajudou a industria a seguir em frente, avançando aquilo que é a nossa compreensão dos videojogos como forma de arte.
Chegamos finalmente ao momento de conhecer Death Stranding 2: On the Beach, uma sequela direta desenvolvida pela Kojima Productions em parceria com a Sony Interactive Entertainment.
Não nos querendo alongar demasiado sobre os pontos importantes da narrativa, para não estragar as surpresas a ninguém, segundo dizer que a luz da ribalta é dada a Lou (o BB do primeiro jogo) explorando melhor quem ela é e a sua relação com Sam (Norman Reedus), que parte numa nova aventura cujo objetivo é conectar a Austrália à Chiral Network. Num mundo em que a sobrevivência ou extinção do ser humano está consistentemente em cima da mesa, Kojima utiliza a sequela de Death Stranding para levar mais longe a mensagem sobre os ricos de estarmos constantemente ligados, contando-nos uma história sobre a importância de continuar a caminhada, independentemente de tudo o que possa aparecer. De certa forma, é notável a influência que o legado de Metal Gear e o afastamento da Konami tem na narrativa, que também é uma forma de dizer adeus à obra que mais identificamos com o gênio de Kojima.
Juntamente com Sam, temos um elenco de luxo, com o regresso de Fragile (Léa Seydoux), Higgs (Troy Baker) e novas adições que incluem as atrizes Shioli Kutsuna, Elle Fanning e o realizador George Miller (da série de filmes Mad Max), entre outros.

Sam Porter Bridges está de volta!
A nível de jogabilidade, Death Stranding 2: On the Beach é uma evolução do mesmo estilo do primeiro jogo, embora adicione várias mecânicas novas. Em primeiro lugar, ficamos felizes por anunciar que o combate foi completamente repensado. Foi simplificado o sistema de munições e em DS2 já não é preciso trocar constantemente o tipo de bala para cada inimigo – o combate ficando bem mais simplificado e intuitivo. As mecânicas de tiro foram afinadas para maior agilidade, adicionando efeitos de câmara lenta em combates para encadear ataques de forma satisfatória. As armas foram redesenhadas como objetos de carga (como caixas ou contentores) que se podem dobrar. Essa solução estética reforça o tema de logística: transportar armas torna-se parte estratégica da jogabilidade, sem quebrar a imersão. É possível equipar a roupa (ou a mochila) de Sam com todo o tipo de bolsos e de gadgets que nos irão ajudar no transporte de mercadorias e nos combates. Os veículos (carros e motos) foram tornados mais acessíveis, aumentando a liberdade de movimento. O conceito das entregas mantém-se, pelo que o objetivo de DS2 contínua a ser essencialmente o de DS, nisto não há grande inovação, mas agora há mais formas de o abordar. Introduz-se finalmente um ciclo dia/noite realista. O mundo muda visualmente com o tempo, tornando a exploração mais rica. Por exemplo, novas montanhas nevadas exigem percursos desafiantes, recompensando o jogador com vistas “belíssimas” no topo. O SSS regressa em grande. Quem leu a nossa primeira análise sabe que adoramos a capacidade de criar infraestruturas de forma assíncrona! Os jogadores podem agora construir infraestruturas maiores – Kojima mencionou que adicionaram a possibilidade de erguer monorails – permitindo ligações ainda mais complexas que nos fazem viajar de um lado ao outro do mapa em poucos minutos. O sistema de “likes” também permanece, mantendo-se como algo puramente simbólico (não gera recursos), mas foi refinado através da análise de dados do primeiro jogo e do Director’s Cut. Em síntese, temos a certeza que cada jogador continuará a encontrar formas únicas de conectar-se socialmente no mundo do jogo.
Sem querer avançar muitos spoilers, há novos inimigos gigantescos, incluindo um misterioso Ghost Mech desenhado por Shinkawa (diretor artístico da série Metal Gear). Kojima desafiou a equipa a conceber algo completamente novo, criando não apenas o design visual, mas também uma história de origem para este boss.

O continente australiano é muito inóspito! Um novo desafio para Sam!
Graficamente, Death Stranding 2 explora ao máximo a Decima Engine no hardware poderoso da PlayStation 5 e PlayStation 5 Pro. Um dos avanços visuais confirmados é o novo ciclo dia/noite no mundo aberto, que gera transições de luz realistas entre manhã, tarde e noite, tornando a exploração mais variada e imersiva. Death Stranding 2: On the Beach oferece duas opções gráficas distintas na PlayStation 5 e na PS5 Pro, permitindo ao jogador escolher entre fluidez e fidelidade visual. O modo Prioritize Quality aposta numa resolução 4K nativa com um nível de detalhe impressionante, mas limitado aos 30 fotogramas por segundo, ideal para quem privilegia o impacto visual e a riqueza dos ambientes. Já o modo Prioritize Performance reduz a resolução interna para valores próximos dos 1440p, com um eficaz sistema de upscaling para 4K, garantindo uma experiência a 60 fps que beneficia a jogabilidade, especialmente nas secções mais intensas ou em combates. Na PS5 Pro, este modo é ainda mais aprimorado, com melhorias subtis na distância de visão, sombras e reflexos, tornando-se a escolha recomendada para quem procura o equilíbrio perfeito entre performance e qualidade gráfica.

Recordam-se do que escrevemos sobre os gráficos na última análise? Voltamos a repetir: Sim! Este nível de detalhe existe!!!
A atmosfera sonora de Death Stranding 2 consegue ser mais rica que a dos gráficos. A banda sonora fica a cargo novamente de Ludvig Forssell, compositor veterano da série, que mistura melodias orquestrais dramáticas com temas eletrónicos e ambientais. Com temas novos assim como arranjos e remixes de temas de DS1, esta é uma banda sonora surpreendente! Não apenas Forsell, mas também Ryan Karazija (Low Roar) terá músicas na sequela, mantendo a melancolia característica da série. Outra colaboração musical destacada é com Woodkid, que também contribui com temas originais.
Opinião Final:
Death Stranding 2: On the Beach é a continuação do curioso e melancólico DS1. Kojima Productions reafirmou a sua ambição de criar algo novo, mas continua fiel ao seu estilo inconfundível de narrativa cinematográfica e à filosofia de ligar as pessoas. Para quem gostou de desenvolver o SSS, criando infraestruturas em conjunto, ligando os vários pontos do mapa, e realizando entregas contra um ambiente inóspito e hostil, este jogo é obrigatório! Para quem gosta da forma única e especial com que Kojima narra histórias, este jogo é obrigatório! Para quem quer um espetáculo visual (cada vez mais incomum nos dias de hoje) este jogo é obrigatório!
Não é inovador como Death Stranding fora em 2019, nem irá revolucionar aquilo que pensamos sobre os videojogos como forma de arte em 2025, mas é mais um excelente título que nos é trazido pelo génio de Hideo Kojima, e isso faz dele obrigatório!
Do que gostamos:
- A narrativa aprofunda a história de Sam e de Lou, trazendo um elenco de personagens novas muito interessantes;
- Graficamente, Death Stranding 2: On the Beach consegue aprofundar na apresentação já incrível de DS1 e Director’s Cut;
- A banda sonora é mais vasta, com temas novos e interessantes.
Do que não gostamos:
- Não consegue ser tão inovador como o jogo original, repetindo fórmulas e mecânicas às quais os jogadores já se habituaram.
Nota: 9/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.