Devil May Cry 5 – Análise

Devil May Cry está de volta! Sim, foram muitos anos de espera. Foi em 2013 a última vez que vimos um jogo da série, no entanto, não foi a continuação da história de Devil May Cry 4 que saiu na geração anterior, em 2008. Nesse espaço, houve também uma coleção de jogos da série, mas é em pleno 2019 que os desejos dos fãs foram finalmente realizados, com Devil May Cry 5, que continua as aventuras de Dante, Nero e companhia. Há quem diga que a série passou por um lado menos positivo, devido à prequela que foi desenvolvida pela Ninja Theory – que a meu ver até foi o melhor Devil May Cry lançado até àquela altura,  pela forma como explicou muito bem o universo e história das personagens que viriam a dar vida aos outros jogos e por contar ainda com bosses dos mais memoráveis da série. Mas, gostos à parte, será que a Capcom acertou na fórmula com o seu mais recente jogo?

Já lá chegaremos. Tudo começa quando Urizen, um demónio extremamente poderoso, ressuscita e causa o caos numa cidade ao plantar uma árvore demoníaca chamada de Qliphoth com o objectivo de matar as pessoas da mesma, sugando o seu sangue. Não irei dar mais detalhes sobre o enredo para não estragar surpresas, mas obviamente que este é apenas o ponto de partida. Os três protagonistas, Nero, Dante e V, irão tentar a todo o custo parar Urizen, mas rapidamente se irão aperceber que é talvez a maior ameaça que alguma vez tiveram de enfrentar.

Na maioria dos níveis da história não será possível escolher o protagonista, mas claro que há excepções. Devil May Cry sempre foi um Hack and Slash rápido e brutal, e Devil May Cry 5 segue o exemplo dos títulos que o precederam e talvez até eleve a fórmula. É, e provavelmente sempre será, o grande destaque dos Devil May Cry a jogabilidade, e o grande ponto de destaque deste novo jogo. Como referi anteriormente, há três protagonistas que teremos a possibilidade de controlar, e cada um deles apresenta um estilo próprio, de tal forma que o gameplay muda bastante cada vez que jogamos com uma personagem diferente.

Nero a fazer uso de um Devil Breaker para atacar os demónios.

Nero faz uso da pistola e espada, mas devido a ter “perdido” um braço, a sua companheira, a Nico, fez uma nova invenção chamada de Devil Breaker, um tipo de braço mecânico. No total há 8 Devil Breakers, cada um completamente diferente, que ajudam Nero no combate contra os demónios. Há um que dá um tiro forte que faz Nero e o inimigo atingido serem projetados uns metros, há outro que electrocuta os inimigos e há outro que dá para puxar um inimigo distante para perto de nós. Claro que estas são apenas algumas das possibilidades, até porque cada Devil Breaker tem um ataque normal e um ataque forte que destrói esse mesmo Devil Breaker. Se utilizarmos o ataque normal e nessa mesma altura o inimigo nos atingir, o Devil Breaker é na mesma destruído, pelo que há que saber utilizá-lo nos momentos certos.

Dante, tal como Nero, também faz uso das pistolas e espada, mas em vez dos Devil Breakers, tem outras habilidades de ataque e até mesmo defesa e esquiva que modificam completamente a experiência jogável, sendo talvez a personagem mais complexa neste sentido. Embora não deva especificar quais são esses ataques e armas, até porque fazem parte de momentos-chave da narrativa, posso dizer que é impressionante como cada uma das armas modifica tanto a jogabilidade, ao ponto de parecer que estamos a jogar outro jogo, mas com o feeling de Devil May Cry. Obviamente, isto é um elogio: diversidade é sempre bem-vinda e com ela a repetitividade das lutas é extremamente diminuída.

No entanto é a nova personagem, o V, que traz a maior diferença no que toca à jogabilidade. Nero e Dante, embora possam atacar de longe com as suas armas de fogo, são personagens mais de close-combat, afinal de tudo são muito caracterizados pelas suas espadas. V, pelo contrário, não consegue lutar pessoalmente contra os demónios, utilizando uma Sombra com formato de pantera negra, um Grifo, parecido com uma águia, e, quando tem poder demoníaco suficiente, um monstro mais poderoso chamado “Pesadelo”. A Sombra pode mudar de forma para lâminas afiadas e espinhos para o ataque corpo-a-corpo, o Grifo consegue desferir raios nos inimigos e carregar o V pela cidade e o Pesadelo, embora seja lento, os seus ataques básicos fazem mais dano, e pode ainda disparar raios de luz. Obviamente que, nos combates, temos que manter V distante dos inimigos, e se isso não for possível, desviá-lo dos ataques dos demónios. Caso os nossos aliados sofram dano, ficam temporariamente fora de combate, mas depois recuperam e voltam a lutar contra os seus inimigos.

V tem um aspecto calmo, mas consegue ser badass de forma peculiar, e a nível de jogabilidade, é o que apresenta uma maior diferença em comparação com Nero e Dante.

Este não seria um Devil May Cry se não houvesse a possibilidade de comprar melhorias para as nossas armas. Ora fazer um disparo carregado que faça mais dano, ora desbloquear novos combos. As possibilidades de outrora regressam. No entanto, os fãs da série irão estranhar que já não se pode comprar vida, o que no entanto não foi totalmente excluído, pois é possível estender a vitalidade e até mesmo o poder demoníaco. Ao ler isto, uma pergunta que vos poderá ocorrer é: então o jogo será extremamente difícil, pois antes dava para comprar vida e agora não, correcto? Errado. Quando se começa o jogo, há duas dificuldades à escolha: Human, que corresponde a fácil, e Devil Hunter, que representa a dificuldade normal. Escolhi a dificuldade Devil Hunter, e depois de terminar o jogo, a opinião com que fico é que é um jogo mais acessível que os anteriores nessa mesma dificuldade, embora seja na mesma desafiante. Diria que é um jogo mais moderno nesse sentido, e achei a dificuldade perfeita. Nem fácil, nem extremamente difícil, mantém ali um equilíbrio necessário, algo que também foi feito com DmC Devil May Cry. Então e se sofrermos muito dano nos combates? Há demónios que largam vida e há orbes de vida no mundo de jogo, portanto não há com o que se preocuparem. Além disso, em modo demoníaco, recupera-se vida, o que é especialmente útil nas lutas contra os bosses.

Claro está, por muito que possa dizer da jogabilidade, do quão frenética, fluída e divertida é, as personagens ajudam na experiência, pois além de podermos fazer taunt aos inimigos para os provocar, os protagonistas são badass. Até mesmo V, que é mais calmo, consegue ser badass à sua maneira, de forma peculiar. Nesse sentido tenho que dizer que as cutscenes estão fantásticas, as animações, tanto através das cinemáticas como durante a jogabilidade, estão muito bem feitas, graficamente é bom, mas também tem os seus defeitos.

Se a jogabilidade é talvez aquilo que mais posso elogiar no jogo, o level-design por si só fica um bocado aquém das expectativas. Não digo que não há bons cenários, pois há, mas são poucos, e a maioria dos locais de combate, para a geração em que estamos, são muito genéricos. E infelizmente as paredes invisíveis são especialmente irritantes em Devil May Cry 5, pois impedem a deslocação para sítios de fácil acesso. O jogo, por vezes, nem deixa que saltemos para cima de uma ambulância destruída, ou para alguma extremidade ao nosso alcance, e por vezes isso é um bocado frustrante. Num dos casos, o jogo “obrigava” a dar a volta para apanhar orbes vermelhos, pois do outro lado não dava para saltar para o tal sítio devido à parede invisível. Isto nem seria mencionado se não fosse algo que tivesse sido tão intrusivo em certas alturas, mas também não é algo propriamente grave, até porque Devil May Cry 5 é um jogo linear, e numa geração em que há tantos Open World, sabe bem jogar um jogo deste tipo.

Mas estes não são os únicos pontos negativos a reter. A câmara tem algumas falhas: nem sempre se situa corretamente no acto de a virar; e em algumas situações não sei se foi uma descida repentina de frame-rate, ou se foi a câmara que não virou de forma fluida. Claro que isso não ocorreu muitas vezes, mas é um ponto que tenho que assinalar. Isso, e as legendas em Português, que tal como já reparei noutros jogos e até mesmo em filmes: a tradução incorrecta de uma palavra inglesa para Português, resulta obviamente numa frase estranha e que não faz muito sentido. Lá está, isto são apenas alguns momentos, não corresponde ao produto como um todo, mas são coisas que não posso deixar passar.

São aspectos negativos que são na sua maioria abafados pela tremenda qualidade do jogo no geral. O enredo é bastante interessante do principio ao fim, com momentos de ação que nos ficam na memória e acontecimentos inesperados, o jogo é badass de uma forma única, tem uma jogabilidade extremamente fluida, muito frenética acima de tudo, e, o motivo pelo qual jogamos um jogo, é divertida. A banda sonora é fantástica, o jogo tem uma longevidade muito boa (a campanha dura quase 15 horas) e conta com as tradicionais missões secretas. De destacar ainda algo que infelizmente não é assim tão comum, principalmente no género, que é o modo Galeria. Nesse modo é possível ver as informações dadas pela Nico, como a descrição das personagens, dos inimigos, das armas, os itens e um tutorial dos sistemas de jogo. Claro, sendo que estamos a falar da Nico, aliás, como estamos a falar de Devil May Cry, há humor até aí. A Galeria está bem composta por opções, e exemplo disso é poder ver as cutscenes do modo história, ver artes conceptuais das diversas personagens, inimigos e armas, ler as cartas do Morrison e outros documentos, e até mesmo aceder à Jukebox e ouvir umas músicas. Em relação ao famoso Bloody Palace, neste momento ainda não está disponível, mas a Capcom já confirmou que irá disponibilizar esse modo de forma gratuita no dia 1 de Abril.

Opinião Final:

Devil May Cry 5 é o melhor jogo da série. Pode não ser um jogo perfeito, tem as suas falhas, como a câmara, as paredes invisíveis, o level-design e até mesmo a tradução incorrecta de certas palavras de Inglês para Português, mas um jogo serve para divertir, para nos entreter, e é por esse simples motivo que somos jogadores, e Devil May Cry 5 é um jogo muito divertido. Devido à sua maior acessibilidade e uma jogabilidade rápida e brutal, acompanhada de uma banda sonora que nos fica no ouvido e que nos dá ainda mais prazer de jogar, esta é uma experiência simplesmente bastante divertida. A conjugar com isso, temos uma história que irá surpreender os fãs de longa data, mas não só. Se não jogaram nenhum Devil May Cry, este jogo tem um vídeo que explica o enredo e acontecimentos dos jogos anteriores, para que não se sintam perdidos ao jogarem este. Em suma, aquilo que o jogo faz bem, faz muito bem, e o que não faz tão bem, nota-se em certos momentos, mas no geral passa um bocado despercebido devido àquilo que faz bem. É definitivamente um dos melhores Hack and Slash desta geração, e um jogo a que devem certamente dar uma oportunidade.

Do que gostamos:

  • Jogabilidade fluida, frenética e badass que resulta garantidamente em diversão;
  • Nero, Dante e V têm estilos próprios, e isso tem influência na jogabilidade, que se torna diversificada;
  • Muita ação acompanhada de uma banda sonora fantástica;
  • História e acontecimentos muito bons, capazes de surpreender;
  • Boa quantidade/qualidade de bosses;
  • Longevidade a rondar as 15 horas, o que é bastante bom para um jogo deste tipo;
  • Graficamente é bom, mas…

Do que não gostamos: 

  • Tem um level-design um bocado genérico;
  • Alguns problemas de câmara;
  • Paredes invisíveis demasiado intrusivas;
  • Má tradução de algumas palavras em Inglês para Português em certos momentos, que resulta em frases que não fazem muito sentido.

Nota: 9/10

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Informações adicionais:                                                           Versão analisadaXbox One X

Produtora: Capcom

Editora: Capcom

Género de jogo: Hack and Slash

Data de lançamento: 8 de Março

Preço do jogo base: 59.99€

Página do jogo na PlayStation Store

Página do jogo na Xbox Game Store

Página do jogo no Steam