Doraemon Story of Seasons – Análise

Já são bem conhecidos os problemas que existiram com a série de farming sims mais conhecida de sempre e como os mesmos foram ultrapassados. Apesar de continuarem a existir títulos com o nome Harvest Moon, os jogadores também têm sido presenteados com outros tantos títulos similares, sob o nome de Story of Seasons. Infelizmente, apesar do novo nome, estes parecem estar presos ao passado e a uma fórmula que precisava desesperadamente de uma reforma.

Por momentos ainda achei que Doraemon Story of Seasons fosse o título que fosse trazer coisas novas. Sim, sou demasiado optimista ao achar que isto não iria passar de um mero crossover, uma capinha de Doraemon em cima de um jogo que já cheira a mofo. A história é bem simples. Depois de plantarem uma misteriosa semente, Nobita e os seus amigos são transportados numa tempestade para uma misteriosa aldeia, que parece estar num mundo completamente diferente do seu. Felizmente, os habitantes são extremamente amáveis e não só providenciam um lugar onde ficar, como também dão trabalho aos miúdos. Sim, porque nesta cidade mesmo as crianças são obrigadas a trabalhar, com todas as implicações ilegais que isso teria. Mas todos têm prazer a ajudarem-se uns aos outros e, na sua busca por um local onde possam trabalhar, Nobita fica com uma quinta meio desprezada à sua guarda, como já seria de esperar.

Vacas felizes!

Doraemon Story of Seasons é, à primeira vista, um jogo adorável. Desde as suas sequências animadas que relembram na perfeição a série, aos gráficos que parecem retirados directamente de um livro de histórias pintado a aguarela. O seu encanto é notório e é um dos pontos mais fortes e que me prenderam ao jogo, fazendo com que o jogador sinta que efetivamente foi transportado para um conto de fadas, à semelhança das personagens principais.

A jogabilidade é, a bem dizer, idêntica aquilo que já foi feito em tantos outros jogos do género, e é aqui que começam os problemas. Ao terem a vossa própria quinta, terão de plantar e regar, cuidar dos vossos animais, podem ainda pescar e até apanhar insectos com uma rede. Têm à vossa disposição uma miríade de ferramentas que podem melhorar e podem ainda pagar ao carpinteiro do sítio para que vos melhore a vossa quinta e até para que construa mais edifícios. Acontece que estas melhorias custam recursos e dinheiro – recursos esses que podem obter deitando árvores abaixo, quebrando rochedos ou a brincarem aos mineiros numa caverna próxima.

Tudo isto obriga a uma gestão à minúcia do vosso dia de trabalho, uma vez que todas as atividades gastam a vossa energia – sendo que a podem repor através de alimentos ou de sestas. Sim, o Nobita pode fazer sestas em qualquer lado (claro!) e, não vou mentir, é uma mecânica que dá bem jeito, quer seja para recuperar um bocadinho de energia ou simplesmente avançar as horas para poder ir a uma determinada loja.

Trabalhar é uma coisa complicada para o Nobita.

O problema que se apresenta é o custo massivo de recursos que o jogo nos apresenta para melhorarmos as nossas ferramentas ou quinta. Por exemplo, a tarefa de mineiro é extremamente aborrecida. Como é usual, temos uma caverna bem linear, com um espaço dividido em vários quadrados e onde podemos usar a nossa picareta. Podemos assim ter a sorte de obter o minério que pretendemos, minerais preciosos ou até descortinar um buraco para descer ao próximo nível. No entanto, não existe grande indicação no cenário de que minério é que podemos obter ao cavar em determinado quadrado. Existem alguns que obrigam a que nossa picareta seja melhorada, dando assim alguma motivação para o fazermos se quisermos avançar pelos níveis. Mesmo começando com a energia completa e usando itens para recuperar a mesma, é difícil de conseguir apenas num dia minério suficiente para melhorar as ferramentas. Ok, ao início não é tão mau, quando apenas precisamos de 30 peças de cobre. Mas à medida que avançamos, as melhorias começam a requerer os mesmos tipos de minério, bem como tipos adicionais, mas em quantidades cada vez maiores. Este sistema faz com que exista uma dificuldade acrescida, mas artificial, que a única coisa que faz é aborrecer o jogador.

Quanto às restantes atividades, não existe nada de espectacular que não seja idêntico a outros jogos da mesma série. E o grande problema de Doraemon Story of Seasons recai mesmo aí. Com tantos anos de experiência, seria de esperar que este género de jogo fosse melhorado e apresentasse coisas diferentes em 2020, que fizessem com que o apelo deste título fosse para além do facto de ser um título Doraemon. A verdade é que os estúdios parecem simplesmente ter-se encostado à sombra da bananeira, sem qualquer interesse em melhorar a fórmula. Tal é ainda mais gritante quando vemos jogos independentes, como Stardew Valley, a melhorar continuamente este género, mantendo-o divertido para novas gerações de jogadores.

Não há nada melhor que uma sesta a meio da manhã… ou da tarde… ou a qualquer hora.

Doraemon Story of Seasons tenta introduzir algumas ideias novas, é certo, através da utilização de alguns dos gadgets de Doraemon (cuja maioria se perderam convenientemente na tempestade), mas não é suficiente para agarrar um jogador que já está grego de saber como estes jogos são, e muito menos para agarrar novos jogadores. A história e as personagens são encantadoras e conseguiram agarrar-me muito mais do que por exemplo, Friends of Mineral Town. É feito um esforço genuíno para que conheçamos as várias personagens e para que também queiramos continuar a relacionar-nos com elas. O jogo tem vários momentos em que nos apresenta história, mas também peca por uma falta de direção que por vezes é demasiado prevalente. Por exemplo, a certo ponto, deparo-me com um cão que fica preso por trás de um deslizamento de rochedos. Necessito de um dos gadgets de Doraemon para o salvar. Mas existem uma série de requerimentos escondidos, que não são de todo claros, para que a história avance nesta porção. Esses requerimentos podem ser, por exemplo, ter um determinado nível de amizade com uma certa personagem, sem que em momento algum o jogo nos diga que tal é o caso. Se forem uma pessoa cujo estilo de jogo passa mais por se focarem na vossa quinta, ao invés de socializarem, aqui têm logo um handicap, sem saberem que o têm.

É ainda de notar que nos menus (bastante intuitivos e bem construídos) do jogo, existe uma parte de Quest, que esteve sempre vazia e sem indicação do que fazer nestes momentos. É pena, porque de resto o jogo é bastante user friendly, permitindo uma utilização e troca de ferramentas de uma forma muito fácil, assim como a gestão do nosso inventário. O mapa é também bastante fácil de ler, tendo sempre a indicação de onde determinadas personagens se encontram naquele preciso momento, facilitando a vida do jogador caso esteja à procura de alguém.

Doraemon Story of Seasons não deixa de ser um jogo engraçado, mas é um jogo que não ata nem desata. Apesar de ser um crossover, consegue ser bem sucedido com o seu tema e faz com que este seja um dos seus principais pontos apelativos. Infelizmente, no que toca à fórmula de jogo não faz nada para reinventar uma roda que precisava desesperadamente de várias melhorias. É um jogo que consegue prender o jogador no início, que é bem-sucedido ao criar um pequeno mundo de personagens que queremos conhecer, mas que, no fim, é vencido por mecânicas repetitivas, dificuldade artificial e um aborrecimento geral. E isso, francamente dá-me pena, porque no fundo não posso dizer que é um mau jogo. Longe disso. Só precisava de uma bela de uma reforma.

Opinião Final:

Doraemon Story of Seasons consegue fugir à preconcepção daquilo que seria um crossover do género, ao apresentar personagens queridas e um mundo de conto de fadasm, que é o cenário perfeito para um farming sim. No entanto, não se consegue descolar das suas origens e não apresenta nada de novo, nem para os fãs do género, nem para novos jogadores. Se nunca sentiram o apelo deste tipo de jogos, não vai ser Doraemon Story of Seasons que vos vai fazer mudar de ideias.

Do que gostamos:

  • Por mais estranho que pareça, a temática de Doraemon encaixa muito bem neste crossover;
  • Gráficos lindos, que nos levam a crer que estamos perante um livro de histórias;
  • Personagens encantadoras;

Do que não gostamos:

  • Jogabilidade está mais que ultrapassada e não foi feito nenhum esforço para a revitalizar.
  • O jogo não indica com clareza quais os objetivos a cumprir para avançar com certas partes da história.

Nota: 7/10