Dude, Where Is My Beer? – Análise (PC)

Aventuras de point and click aparentam ser dos jogos mais simples de fazer, mas essa ideia é enganadora. Apesar da jogabilidade simples e de não requererem a espetacularidade gráfica dos AAA de hoje em dia, é um género que é difícil de fazer bem. Afinal, já há muitos anos que não vemos sair um verdadeiro clássico do género, apesar de existirem alguns estúdios que continuam a manter o mesmo vivo.

Dude, Where Is My Beer? apresenta-nos uma premissa simples mas com vislumbres de um cenário cheio de horror – imaginem que, depois de uma viagem cansativa, só queriam uma Super Bock fresquinha, mas o local onde se encontram apenas vende variadas cervejas artesanais. Não bastando, descobrem que parece existir uma conspiração que levou ao banimento de todas as cervejas pilsner, num mundo repleto de estereótipos de hipsters amantes de gentrificação.

Dude, Where Is My Beer? aborda este cenário de um modo satírico e bem humorado, sem nunca recair numa ridicularização dos estereótipos que nos apresenta. A nossa personagem é simplesmente um homem da velha guarda, com o seu farto bigode, que gosta das coisas simples e descomplicadas. Mas também é alguém persistente e aquilo que apenas deveria ser uma pequena paragem, torna-se em toda uma aventura à procura da pilsner perdida.

Criado por apenas duas pessoas, Arik Zurabian e Edo Brenes, Dude, Where Is My Beer? consegue ser um jogo bastante agradável, apesar de existirem vários momentos em que se notam as “costuras” do mesmo. Existe aqui claramente um amor pela velhas aventuras gráficas, com várias referências a jogos como Monkey Island, e isto é também notório no tipo de interface escolhida, se bem que se existe algo que acho que deveria ser deixado no passado é a obrigatoriedade de andar a escolher verbos para interagir com o mundo do jogo.

Essencialmente, têm no lado esquerdo do ecrã vários verbos como Pick Up, Look At, Talk To, num total de nove, de entre os quais têm de selecionar um para depois interagirem com algo ou alguém. Podem “limpar” esta seleção ao clicarem com o botão direito do rato. No mercado atual de videojogos, e por mais que compreenda o callback a jogos de uma outra era, teria sido muito melhor optar por um sistema mais linear de interação. Já que falámos de Monkey Island, um sistema como o de The Curse of Monkey Island seria muito mais simples e agradável para o jogador. Ainda assim, é de louvar o facto de os comandos terem sido associados a atalhos no teclado, como por exemplo, T para Talk To ou O para Open. Facilita um pouco, principalmente para os mais preguiçosos, como eu.

“Uma mine e uns tremoços, faxabore.”

Outra das coisas que eram características de alguns títulos do passado e que lá deveriam ter ficado, são sem dúvida os puzzles ilógicos. Um bom jogo do género funciona quase como um grande puzzle, com diversos objetivos que motivam a exploração dos cenários e personagens, podendo os anteriores ser atingidos de forma linear, ou não. As soluções não devem ser dadas de mão beijada ao jogador (se não, não teria piada), mas deve existir um certo grau de pistas que vão sendo dadas, quer via diálogo, quer na descrição dos objetos quando interagimos com estes. Infelizmente, estas nuances parecem ter passado um pouco despercebidas em Dude, Where Is My Beer?.

Este não é de todo um jogo difícil, mas existem algumas instâncias em que é impossível não ficar a coçar a cabeça e a pensar como raio é que é suposto o jogador chegar àquela conclusão, sem andar a testar todos os objetos do inventário. Muitas das vezes, tentava usar o comando Look At em diversos objetos, quer no inventário, quer nos cenários, e obtia respostas completamente genéricas e óbvias que em nada ajudavam. Mesmo que não dessem pistas, seria bom obter algumas descrições um pouco mais engraçadas. Se há coisa que detesto num point and click, é ser reduzida a tentativa e erro e se a solução, mesmo depois de chegarem a ela, não parece plausível, então desculpem mas é mau design. Adicionalmente, o jogo parece não se decidir quanto à forma de interação com portas, umas vezes obriga a usar o comando Open, outras não. São pequenas coisas, mas que acabam por dar uma sensação de que ainda havia muita coisa a polir no jogo.

Só mesmo com álcool em cima é que me obrigam a explorar a casa de banho de um pub.

Dude, Where Is My Beer? inclui ainda um medidor de sobriedade. A nossa personagem, infelizmente, tem problemas de ansiedade social e tem de recorrer a beber cervejas artesanais a saber a pão para poder interagir com outras personagens. Consumir algumas cervejas resulta no aumento deste medidor, que eventualmente acaba por descer também. Apesar de ser uma ideia engraçada, a sua implementação no jogo e respetivos puzzles acaba por ser um pouco forçada. Existem algumas instâncias em que a nossa personagem nos diz diretamente que está demasiado sóbrio para uma determinada tarefa, ou que o nível de álcool no sangue não lhe permite fazer algo. Adicionalmente, não é possível beber muito e quaisquer interações que possam ser mais cómicas devido ao nível de álcool acabam por ser cortadas e talvez relegadas para uma eventual segunda parte.

Quanto à parte gráfica, para mim é aqui que o jogo definitivamente brilha. É sempre de admirar quando temos em mãos um jogo completo feito por apenas duas pessoas e Dude, Where Is My Beer? consegue destacar-se em pleno, com o seu estilo cartoon, com uma paleta de cores limitada, mas com imensa personalidade e detalhe nos cenários. Quanto à parte sonora, infelizmente não temos qualquer tipo de vozes, mas já seria de esperar considerando o tamanho reduzido da equipa que criou o jogo. Os efeitos sonoros e música cumprem o seu propósito, mas não achei que existisse nada particularmente de destaque.

A narrativa consegue ser um ponto de destaque em muitos jogos do género mas, infelizmente, em Dude, Where Is My Beer? acaba por se resumir à sua premissa. Existem muitas referências que aludem a uma grande conspiração relativamente ao banimento das pilsners, mas o jogo acaba abruptamente, a seco, sem qualquer conclusão que satisfaça o jogador, principalmente depois de termos andado a correr todos os pubs de Oslo. Infelizmente, isto deixa um sabor amargo na boca, após toda a experiência.

Não há nada como um hamburger vegan, sem glúten e bio, que custa o triplo do preço.

Sendo que basicamente o jogo está inacabado, seria bom ver a equipa de Dude, Where Is My Beer? aproveitar esta oportunidade para fazer uma revisão a algumas partes do jogo, polindo-o ainda mais. Já há muito tempo que o género de aventura point and click clama por mais títulos de qualidade e, apesar de eu não parecer mega simpática nesta análise, gostaria efetivamente de ver o que poderiam fazer com Dude, Where Is My Beer?. Se este é o produto inacabado, fico francamente na expectativa de ver quais os planos futuros que Arik Zurabian e Edo Brenes. Não é perfeito, não, mas o potencial está lá. É só dar-lhe um bocadinho mais de amor.

Opinião Final:

Dude, Where Is My Beer? é uma aventura gráfica à moda antiga (para o bem e para o mal) que detalha a demanda de um homem que apenas queria uma cerveja pilsner fresquinha. Com algumas arestas a limar e um final insatisfatório, fica infelizmente aquém do seu potencial.

Do que gostamos:

  • Estilo gráfico;
  • Premissa engraçada;
  • Queremos ver mais point and clicks!

Do que não gostamos:

  • Mecânicas um pouco datadas;
  • Alguns puzzles com soluções ilógicas;
  • Narrativa fraca que ainda piora à conta de não ter um final.

Nota: 6,5/10


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