Dune: Awakening – Análise

Dune: Awakening apresenta-se como uma proposta ambiciosa da Funcom que tenta fundir o espírito do universo Dune com os sistemas característicos dos jogos de sobrevivência em mundo aberto. Num cenário onde a adaptação é lei, os jogadores são lançados em Arrakis, um planeta implacável, onde a escassez de água, as tempestades de areia e os vermes gigantes são apenas algumas das ameaças que moldam cada decisão. Utilizando o motor Unreal Engine 5, o jogo aposta em visuais impactantes e num ecossistema dinâmico que reage à presença humana. Mas será que esta fusão entre lore denso, sobrevivência e MMO resulta num todo coeso?

A primeira impressão ao iniciar Dune: Awakening é de escala e hostilidade. O jogo evita introduções cinematográficas e mergulha o jogador diretamente na areia. Arrakis não é um local de conforto. As temperaturas extremas, a ausência de água potável e os inimigos imprevisíveis criam uma curva de dificuldade acentuada desde os primeiros minutos. Sobreviver é um desafio em si: é necessário construir um stillsuit funcional, procurar fontes de humidade, evitar movimentações bruscas para não atrair vermes da areia e, sempre que possível, recolher recursos que permitam criar abrigo. É uma abordagem que se afasta das convenções de um MMO tradicional e se aproxima mais de experiências como Rust ou Conan Exiles, mas com uma identidade muito própria.

O sistema de crafting é profundo, mas evita o excesso de complexidade. Existem múltiplas categorias de itens, desde ferramentas básicas até módulos de habitação e veículos terrestres. O jogador é incentivado a experimentar e especializar-se através de sistemas de perícias que evoluem conforme o uso. Por exemplo, alguém que passe mais tempo a colher minerais ou a purificar água desenvolverá mais rapidamente competências associadas à engenharia e à logística. Estas competências não se limitam a oferecer bónus numéricos: desbloqueiam receitas, reduzem tempos de construção e aumentam a durabilidade dos objetos. Esta progressão contextual cria uma sensação constante de crescimento orgânico.

Um dos elementos que distingue Dune: Awakening de outros títulos do género é a forma como introduz a política e a economia como mecanismos centrais do gameplay. Para além das ameaças ambientais, existe um mundo humano em constante conflito. Casas nobres disputam zonas de extração de especiaria, facções independentes tentam negociar acordos e os jogadores podem integrar estas estruturas de poder através de sistemas de reputação. Participar em lutas territoriais, apoiar caravanas ou sabotar estruturas rivais tem consequências diretas no equilíbrio de poder do servidor. Há um paralelismo claro com a política do universo literário, onde cada ação tem peso geoestratégico.

No entanto, este sistema não é imposto. Os jogadores podem perfeitamente optar por um caminho mais solitário e exploratório, evitando as zonas de conflito e focando-se na construção de um império comercial, numa base subterrânea ou até na simples sobrevivência como nómadas. A liberdade de escolha é respeitável e encoraja estilos de jogo distintos, algo raro num MMO de larga escala. A comunicação com outros jogadores é facilitada por um sistema de pings e mensagens rápidas, embora as interações mais significativas surjam naturalmente através de alianças e conflitos.

O combate em Dune: Awakening é talvez o aspeto mais divisivo. Embora não seja desinspirado, carece da profundidade de títulos focados em ação. A abordagem combina elementos de tiro em terceira pessoa com habilidades especiais baseadas em equipamento e treino. É possível criar personagens focadas em sigilo, em tecnologia, ou em confronto direto, mas a fluidez dos combates nem sempre corresponde ao rigor exigido por outras áreas do jogo. Por vezes, a deteção de colisões ou o feedback dos impactos deixa a desejar, quebrando a imersão. No entanto, os duelos em campo aberto, especialmente em zonas de tempestade ou perto de fontes de especiaria, continuam a ser momentos de grande intensidade.

Do ponto de vista técnico, o jogo é impressionante. Arrakis é um mundo vivo, com ciclos de dia e noite, eventos climáticos dinâmicos e áreas que se transformam com o tempo. As tempestades de areia são não só visuais como mecânicas, obrigando à utilização de abrigo e à recalibração de instrumentos de navegação. Os vermes da areia surgem com frequência variável, mas a sua presença é sempre sentida: vibrações no solo, sons graves e deslocações repentinas do terreno alertam o jogador antes do ataque. Ver uma unidade de extração ser engolida diante dos nossos olhos é tanto uma lição como um espetáculo.

Em termos de performance, a versão de PC apresenta resultados sólidos, embora dependa muito das especificações da máquina. Em sistemas médios, é possível jogar a 60 fps com qualidade média-alta, mas as opções gráficas são extensas e permitem otimizações detalhadas. O suporte para ray tracing e DLSS é bem-vindo, tal como a integração com comandos e monitores ultrawide. Ainda assim, em zonas densas de jogadores ou durante eventos globais, podem surgir quebras de desempenho, algo que a Funcom promete mitigar com atualizações frequentes.

O aspeto sonoro merece destaque. A banda sonora, com composições atmosféricas que evocam tanto o épico como o desolador, contribui para a imersão. Os efeitos sonoros são detalhados e funcionais: desde o som abafado dos passos na areia até ao eco das armas em vales abertos. As vozes estão presentes em certos NPCs e transmissões, sempre com uma entrega competente. A localização em português de Portugal, embora limitada a textos e menus, é de boa qualidade.

No que diz respeito à progressão a longo prazo, Dune: Awakening adota um modelo híbrido. Existem objetivos diários e semanais que incentivam atividades regulares, mas também eventos globais que afetam todos os servidores. Estes eventos incluem tempestades solares, surtos de especiaria ou guerras entre casas nobres. Participar neles oferece recompensas únicas e altera o estado do mundo. A capacidade de moldar o ambiente, de construir estruturas permanentes e de influenciar decisões políticas garante longevidade e relevância ao progresso individual.

No entanto, nem tudo é positivo. A densidade de sistemas pode ser intimidante para novos jogadores. A falta de um tutorial robusto e de missões introdutórias claras pode fazer com que muitos abandonem antes de perceberem o verdadeiro potencial do jogo. Além disso, o equilíbrio entre PvP e PvE nem sempre é o ideal, com zonas onde grupos organizados dominam recursos e dificultam a progressão de jogadores a solo. A promessa de servidores com regras distintas poderá resolver parte destas questões, mas ainda não está plenamente implementada.

Opinião Final:

Dune: Awakening é uma aposta arriscada e complexa, mas também profundamente ambiciosa. Para quem procura uma experiência de sobrevivência com densidade política, liberdade de construção e um universo riquíssimo, é difícil encontrar um paralelo. A fidelidade ao espírito de Dune é sentida em cada decisão, em cada ameaça, em cada aliança instável. É um jogo que exige tempo, paciência e dedicação, mas que recompensa com momentos únicos e memoráveis.

Do que gostamos:

  • Atmosfera intensa e fiel ao universo Dune;
  • Sistema de crafting e construção profundo e funcional;
  • Eventos globais e dinâmicas políticas impactantes;
  • Liberdade total na abordagem do jogador.

Do que não gostamos:

  • Curva de aprendizagem íngreme e falta de tutoriais eficazes;
  • Combate algo rígido e pouco refinado;
  • Performance inconsistente em momentos de grande densidade.

 

Nota: 8/10

Análise efetuada com um código Steam cedido gentilmente pela distribuidora.