
Dying Light: The Beast é um regresso sombrio ao universo da série, agora com Kyle Crane transformado numa arma viva que precisa de encontrar o equilíbrio entre o humano e o monstruoso num cenário rural mais tenso e claustrofóbico do que nunca. A Techland decidiu apostar numa abordagem mais contida e atmosférica, com um regresso ao universo de Kyle Crane, agora transformado por anos de experiências inumanas. A ação desenrola-se em Castor Woods, um novo cenário rural que contrasta de forma inteligente com as cidades verticais dos títulos anteriores. Aqui, a verticalidade dá lugar à densidade, e a tensão instala-se com a ajuda de árvores cerradas, trilhos mal iluminados e estruturas abandonadas que escondem tanto recursos como ameaças.
A jogabilidade base permanece familiar, mas com melhorias subtis que fazem toda a diferença. O sistema de parkour foi afinado ao ponto de se tornar quase intuitivo, com movimentos fluidos que transformam a travessia do mapa numa atividade prazerosa. A introdução do Beast Mode é, sem dúvida, a maior novidade em termos mecânicos. Esta capacidade temporária permite a Kyle libertar o lado mais monstruoso de si, oferecendo força bruta, regeneração acelerada e ataques devastadores. Não é algo para usar de forma descuidada, mas sim um recurso tático que acrescenta variedade aos combates.
O combate corpo a corpo continua a ser o grande destaque, com impacto visceral, feedback tátil eficaz e uma variedade de armas que convida à experimentação. Os inimigos não se limitam aos habituais zombies. Criaturas mutantes, experimentos falhados e variantes mais inteligentes forçam o jogador a adaptar estratégias e usar o ambiente a seu favor. A inteligência artificial não é perfeita, mas consegue surpreender em momentos pontuais. E sim, os Volatiles continuam a ser motivo suficiente para pensar duas vezes antes de sair à rua depois do pôr do sol.

Visualmente, Dying Light: The Beast é impressionante, especialmente em PlayStation 5. A floresta respira, literalmente. O vento abana as folhas, a luz filtra-se entre os ramos e a névoa envolve tudo com um ar de mistério permanente. O ciclo dia-noite não é apenas estético. Durante o dia, exploras e preparas-te. À noite, sobrevives. A iluminação dinâmica, os reflexos em poças de água e os efeitos de partículas são mais um passo na direção de uma geração gráfica madura, mesmo que alguns compromissos tenham sido feitos para manter os 60 FPS estáveis no modo performance.
O áudio desempenha aqui um papel crucial. Desde os sussurros no meio da floresta, aos rugidos distantes que te fazem pensar se deves mesmo investigar aquele celeiro, tudo contribui para uma imersão constante. A banda sonora é discreta, mas eficaz, e os efeitos sonoros têm a agressividade certa para dar peso às ações. Quando estás a ser perseguido, o som torna-se o teu maior aliado e o teu pior inimigo. Cada passo, cada respiração, cada som de galho partido faz-te pensar se não devias ter ficado quieto por mais uns segundos.
A estrutura do jogo favorece a exploração. Ao contrário de mapas abertos inflacionados que se tornaram moda, Castor Woods aposta na densidade em vez da escala. Cada canto parece conter algo: um segredo, uma emboscada, uma memória deixada para trás. As missões secundárias são mais consistentes que no passado, embora ainda haja algumas repetições. A campanha principal tem uma duração razoável, entre 20 a 30 horas, mas o conteúdo extra pode facilmente estender a experiência para o dobro, especialmente para quem gosta de colecionáveis, desafios e limpar zonas infestadas.

Narrativamente, o jogo apresenta uma história sólida, mas que não se afasta muito dos arquétipos clássicos. Há um vilão com motivações moralmente cinzentas, aliados que talvez não o sejam tanto e uma sensação constante de que nada é exatamente o que parece. O maior trunfo está no conflito interno de Kyle, dividido entre a sua humanidade e os poderes que o transformam. Essa dualidade é explorada de forma interessante, embora pudesse ter sido mais aprofundada em alguns momentos chave.
O modo cooperativo está presente e é funcional, mas não está isento de falhas. A sincronização de progresso entre jogadores continua a ser problemática e pode causar frustração a quem espera uma experiência contínua a dois. Tecnicamente, o jogo está estável, com poucos bugs relevantes, ainda que existam relatos pontuais de glitches visuais e pequenos problemas com scripts de missões. Felizmente, a Techland já mostrou ser proativa com atualizações rápidas, o que deixa boas perspectivas para o suporte pós-lançamento.

A progressão de personagem é mais direta e recompensadora do que em Dying Light 2. Aqui, cada melhoria parece ter um impacto real na forma como jogas. Não há a sensação de grind forçado e os upgrades ao Beast Mode são particularmente interessantes, dando-te a liberdade de escolher se queres ser mais resistente, mais rápido ou mais destrutivo quando a transformação ocorre. As árvores de habilidades foram simplificadas sem perder profundidade, o que torna as escolhas mais intuitivas e menos penosas a longo prazo.
Há ainda pequenos detalhes que fazem a diferença. A interface foi melhorada e está mais limpa. Os tempos de carregamento são curtos. O sistema de crafting continua a ser relevante sem se tornar intrusivo. E as opções de acessibilidade foram alargadas, permitindo que mais jogadores possam desfrutar do jogo sem barreiras desnecessárias. Tudo isto demonstra uma maturidade no desenvolvimento que nem sempre é evidente em jogos deste género.
Opinião Final:
Dying Light: The Beast é uma entrada sólida que mostra bem o que a Techland aprendeu ao longo da última década. Não quebra as convenções da série nem tenta reinventar o género, mas sabe onde afinar e como entregar uma experiência mais tensa, mais sombria e mais coesa. O novo ambiente rural, o Beast Mode e o regresso de Kyle são apostas certeiras que mantêm o ADN do jogo, mas oferecem espaço suficiente para respirar e evoluir. Mesmo com falhas pontuais, há aqui qualidade suficiente para agradar aos veteranos e despertar o interesse de quem só encontrou este universo agora.
Do que gostamos:
- Atmosfera densa e assustadora bem construída;
- Parkour fluido e intuitivo;
- Beast Mode acrescenta variedade;
- Visual impressionante, especialmente à noite;
- Combate visceral e satisfatório;
- Progressão de personagem bem pensada.
Do que não gostamos:
- Modo cooperativo com problemas de sincronização;
- Narrativa com momentos previsíveis;
- Algumas missões secundárias repetitivas.
Nota: 8,5/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.