Dynasty Warriors: Origins chega à PlayStation 5 com a ousadia de se apresentar como um novo ponto de partida para a veterana série, sete anos depois do polémico Dynasty Warriors 9. Ao assumir um protagonista anónimo – o “Viajante” –, introduzindo batalhas capazes de colocar vários milhares de soldados em ecrã e tirando partido do hardware da PS5 com modos a 60 fps/120 Hz, gatilhos adaptativos e feedback háptico, a Omega Force procura conciliar reinvenção e tradição. No essencial, consegue-o: a estrutura narrativa ganha ritmo, o combate beneficia de mecânicas de parry e bravura, e a direção artística deslumbra com reconstituições épicas da China dos Três Reinos. Nem tudo é perfeito – a IA aliada continua frágil, há momentos de repetição no ato final e a ausência de vozes em chinês na versão PS5 é uma lástima –, mas o resultado global é um dos capítulos mais consistentes, ambiciosos e tecnicamente robustos de toda a franquia.
O anúncio de Dynasty Warriors: Origins surgiu no State of Play de maio de 2024, imediatamente apresentado como exclusivo de nova geração com lançamento marcado para 17 de janeiro de 2025. A equipa da Omega Force descreveu o projeto como “um novo começo”, decidido a recuperar o ímpeto perdido após a receção morna de Dynasty Warriors 9, de 2018. O tempo extra de desenvolvimento permitiu refinar motor gráfico, rever a estrutura de mundo aberto e apostar numa narrativa mais focada, centrada num único herói em vez de dezenas de campanhas paralelas.
Durante o Tokyo Game Show 2024, o produtor Tomohiko Shō revelou um dos objetivos da equipa: conseguir até 10 000 inimigos simultâneos no campo de batalha. Embora a meta ideal não tenha sido atingida de forma estável – “ficámos por vários milhares”, admitiu-se mais tarde – a ambição tecnológica marca presença nas secções de cerco, onde as ondas de soldados pintam verdadeiras muralhas humanas perante a fortaleza que precisamos de capturar.
Com versões também para Xbox Series e PC, a edição PS5 que analisamos distingue-se pelo suporte dedicado ao DualSense, incluindo vibração háptica contextual e gatilhos adaptativos que variam a resistência conforme o tipo de arma. A resolução 4K nativa é acompanhada por dois modos de desempenho: Qualidade a 60 fps fixos ou Performance a 1080-p/120 Hz, assumindo um ecrã compatível.
Ao contrário das entradas anteriores, Origins abdica de múltiplas campanhas para seguirmos o percurso do Viajante, um guerreiro sem nome que desperta no meio da Rebelião dos Turbantes Amarelos, em 184 d.C., sem memória do seu passado. A premissa permite uma progressão linear, mas não necessariamente limitada: as missões principais conduzem-nos pelos grandes eventos dos Três Reinos – de Dong Zhuo a Chi Bi – enquanto objetivos opcionais desbloqueiam ramos narrativos alternativos e missões de fidelidade para generais históricos como Cao Cao, Liu Bei ou Sun Jian.
As sequências em motor de jogo exibem um grau de encenação que a série raramente alcançou: travellings sobre exércitos intactos, diálogos com full lip-sync em japonês e inglês (a ausência de áudio mandarim foi confirmada pela produtora como limitação de licenciamento na versão PlayStation). O guião, ainda que inspirado no Romance dos Três Reinos, toma liberdades poéticas – há momentos de flashback em que o Viajante recorda ligações com Lu Bu, sugerindo uma relação de rivalidade prévia que nunca existiu nos registos históricos, mas que adiciona tensão dramática aos duelos.
Reduzir a perspetiva a um só protagonista não impediu a inclusão de figuras célebres. Os oficiais lendários continuam jogáveis em missões de episódio – minicapítulos opcionais que desbloqueiam artefactos exclusivos – e surgem como aliados ou antagonistas em momentos‑chave da campanha. A luta contra Lu Bu em Hulao Gate, por exemplo, é reimaginada como um combate 1 vs 1 apenas após o extermínio de duas ondas sucessivas de 400 soldados, sublinhando tanto a ferocidade do general quanto o sentimento de “chegada” do jogador.
A caracterização visual respeita armaduras clássicas da série, mas adota um tom menos extravagante do que nos capítulos 6‑8, aproximando-se de texturas realistas. Ainda assim, surgem acenos estilizados: os mantos vermelhos de Guan Yu ondulam como se soprados por um ventilador de estúdio, e a lança de Zhao Yun deixa um rasto lumínico azul‑claro a cada golpe de impulso – exageros que lembram ao público que estamos perante fantasia histórica. Esta opção estética foi elogiada por publicações como a Polygon, que salientou o “equilíbrio saudável entre verosimilhança e espetáculo de anime”.
A jogabilidade de Dynasty Warriors: Origins também recebe melhorias substanciais. O sistema de combate agora conta com opções mais táticas, como a possibilidade de realizar aparos temporizados que abrem brechas nas defesas inimigas. Além disso, cada arma possui árvores de habilidades específicas, encorajando o jogador a experimentar diferentes estilos. Existe também um sistema de moral em campo de batalha que altera o comportamento das tropas conforme o desempenho do jogador, adicionando uma camada de estratégia à ação caótica. Este novo enfoque torna os combates mais imersivos e recompensadores.
A longevidade do jogo também merece destaque. Para além da campanha principal, há modos adicionais como o “Desafio de Resistência”, onde o jogador enfrenta ondas crescentes de inimigos em arenas fechadas. Há ainda um modo cooperativo online que permite jogar determinadas missões com amigos, algo que expande significativamente a diversão. A inclusão de uma galeria com detalhes históricos e fichas de personagens também é um atrativo para os fãs da época retratada. Esses elementos extra asseguram que, mesmo após terminada a narrativa, haja sempre algo novo para descobrir.
Graficamente, o jogo impressiona. As texturas são ricas em detalhe, desde as armaduras cintilantes dos oficiais até às paisagens vastas e movimentadas que recriam fielmente a China feudal. O jogo mantém uma performance estável mesmo com centenas de inimigos no ecrã, e o uso das capacidades do DualSense na PS5 proporciona uma experiência ainda mais envolvente – cada golpe, cada impacto de flecha, é sentido com nuances graças à resposta tátil do comando.
Em termos de som, a banda sonora mantém o tom épico característico da série, com misturas de instrumentos tradicionais chineses e arranjos orquestrais modernos. Os efeitos sonoros são impactantes, e as atuações vocais, sobretudo em japonês, são convincentes e emocionalmente ressonantes. A ausência de vozes em mandarim é, sem dúvida, uma perda, mas as opções disponíveis são competentes o suficiente para manter a qualidade da apresentação.
Opinião Final:
Dynasty Warriors: Origins é, no geral, um renascimento digno para uma série que precisava de se reinventar. As melhorias técnicas e de jogabilidade, aliadas a uma narrativa mais coesa e um design artístico impressionante, fazem deste título uma das melhores entradas na saga em muitos anos. Ainda há espaço para evolução, especialmente no que toca à inteligência artificial dos aliados e à repetitividade de certas missões, mas o futuro da franquia parece mais promissor do que nunca.
Do que gostamos:
- Combate melhorado e mais estratégico;
- Narrativa mais coesa com protagonista único;
- Design visual e sonoro impressionante.
Do que não gostamos:
- IA aliada continua fraca;
- Missões repetitivas.
Nota: 7/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.