Final Fantasy VII Remake – Análise

Uma das categorias de videojogos que mais fãs agrega será sempre a dos RPGs. A sigla inglesa que significa Role Playing Game – em português, jogo de interpretação de papeis – encontra as suas origens nos jogos de mesa dos anos 70, nomeadamente com o famoso Dungeons & Dragons. O RPG, ao contrário do sidescroller ou do shooter, é caracterizado principalmente pela narrativa na qual os jogadores mergulham, vivendo o papel da sua personagem como se fosse a sua própria vida. Para o mundo dos videojogos, o RPG transforma-se, muitas vezes, num conto de fadas interativo. É comum os RPGs conterem centenas de horas de jogo, elementos de desenvolvimento das personagens extremamente complexos, e, finalmente, mundos fantásticos e extremamente imersivos.

É seguro dizer que a franquia Final Fantasy da Square Enix – originalmente Squaresoft – encontra o seu nome escrito no livro d’honra do género. Entre franquias conhecidas como Ultima, Dragon Quest, Fire Emblem ou mesmo Pokémon, a franquia que em 1987 salvou a Squaresoft de ir à falência e que atualmente conta com 15 títulos principais (títulos numerados) e mais de 30 spin offs, séries, filmes e um império de merchandising, tornou-se verdadeiramente no sinónimo de RPG.

A imagem de Cloud a olhar para o reator n.º 1 foi contracapa do jogo original, sendo icónica do título! Aqui está a sua versão moderna!

Embora já não seja comum na atualidade, na década de 90 do século passado e nos anos imediatamente seguintes, possuir a franquia com exclusividade numa certa consola entregava aos seus fabricantes um certificado de qualidade! Assim foi com a NES e SNES da Nintendo durante os anos 80 e a primeira metade dos anos 90. Todavia, com o advento da quinta geração de consolas de videojogos e os eventos da indústria que levaram ao nascimento da PlayStation e da Nintendo 64 a Squaresoft – que sempre foi um estúdio exclusivamente dedicado às consolas Nintendo – frustrada com a Nintendo 64, especialmente na sua dependência de cartuchos com pouca capacidade, abandona a Nintendo e a aposta na nova consola da Sony.

Os frutos da aposta da Squaresoft no hardware da PlayStation foram colhidos em janeiro de 1997 com o lançamento do mítico Final Fantasy VII. Argumentavelmente conhecido como o melhor Final Fantasy de todos os tempos – Final Fantasy VII é recordado pelos fãs como aquele com a personagem principal mais fixe, ou aquele que possui um vilão que consistentemente se encontra comparado a Darth Vader. Mesmo quem nunca jogou um Final Fantasy sabe que existe uma personagem chamada Aerith, e que esta morre no final do segundo disco.

Final Fantasy VII é sinónimo da PlayStation original, é sinónimo de RPG e sinónimo de qualidade. É um jogo que os fãs têm vindo, há pelo menos uma década, a pedir uma recriação moderna do RPG clássico. Um pedido a que a Square Enix finalmente acedeu, anunciando na E3 de 2015 que Final Fantasy VII Remake estava em desenvolvimento.

As personagens estão recriadas de uma forma extremamente fiel ao título original!

Cinco anos, uma demo e um adiamento depois, Final Fantasy VII Remake chega às nossas mãos. Bem, a primeira parte de um conjunto de jogos que irá contar a história do original, com os primeiros capítulos na cidade de Midgar a ocupar o primeiro título.

Final Fantasy VII Remake traz-nos o enredo que junta Cloud à organização eco-terrorista, Alavanche e a Tifa, a sua amiga de infância, na luta contra a organização maléfica Shinra, ao encontro de Aerith, a jovem descendente dos Ancients e ao seu destino para impedir a destruição do planeta às mãos de Sephiroth.

Quem nos conhece sabe que gostamos de começar as nossas análises com pequenas introduções históricas, mas também com indicações breves sobre a qualidade do jogo – não restem dúvidas, Final Fantasy VII Remake é um clássico instantâneo, um sonho de videojogo que assenta principalmente no mérito da recreação cuidada do conteúdo original, assim como nas novidades que traz consigo.

A narrativa de Final Fantasy VII Remake, embora se baseie na estória que todos conhecemos, tem tendência para disparar em várias tangentes que por vezes esclarecem o que se passou em certos momentos desconhecidos, e outras se esforça em apresentar uma visão alternativa dos eventos. Todavia, o padrão dos momentos principais mantém-se geralmente o mesmo, ou seja, aconteça o que acontecer, no final dos capítulos todas as personagens estão nas posições em que nos lembramos estarem. Isso não quer dizer que a estória seja uma recontagem absolutamente fiel de Final Fantasy VII. Aliás, a narrativa contém imensos elementos novos, incluindo personagens novas, com o potencial para encontrarmos, no momento em que os créditos passarem, uma história familiar, embora contada de uma forma absolutamente diferente. Para um jogo que apenas conta os primeiros capítulos de uma mega-história, quando cai o pano, demos por nós a conhecer melhor cada personagem, cada lugar, cada pedaço de lore do mundo fantástico de Final Fantasy VII.

A narrativa traz consigo imensos elementos novos!

Esta visão alternativa da narrativa que Final Fantasy VII Remake traz consigo conta com um sistema de batalhas bastante diferente do original – embora igualmente complexo. O sistema clássico de combate por turnos foi substituído, em parte, por um sistema de combate de ação, o qual apresenta uma versão atualizada do sistema ATB, permitindo às personagens utilizarem habilidades, magia ou itens sempre que a barra ATB se preencher. É possível dar comandos específicos às restantes personagens, ou mesmo assumir o controlo das mesmas com o objetivo de conjugar os estilos de combate e habilidades destas e assim derrotar os vários inimigos que o jogo nos lançar. Neste sistema, inserem-se ainda os summons e os limit breaks, que quando usados, também consomem uma barra de ATB. O sistema de combate, em pleno funcionamento, com várias personagens, habilidades e magias, faz lembrar uma dança complexa, em que nos encontramos a gerir minuciosamente cada técnica disponível, o estado das nossas personagens e o dano causado aos bosses.

O sistema de combate traz consigo o sistema de stagger já conhecido de FFXIII, as suas sequelas e FFXV – isto é, a capacidade de provocar uma falha crítica no inimigo, permitindo aos heróis causar danos altíssimos ao mesmo durante um tempo limitado. Cada inimigo é vulnerável a certos elementos ou habilidades, que farão a barra de stagger crescer rapidamente. Após a mesma atingir o seu limite, o inimigo entrará em stagger e ficará vulnerável a ataques de várias naturezas, especialmente técnicas destinadas a causar danos sérios.

De regresso está também o sistema de matéria, embora com uma atualização muito interessante. Como sabemos a matéria equipada permite a utilização de magia (a qual consome uma barra ATB), todavia, com o uso, a matéria irá evoluir, permitindo a utilização de feitiços mais potentes. Assim, por exemplo, a matéria de tipo fogo, evoluindo, permitirá de modo progressivo a utilização dos 3 feitiços: Fire > Fira > Firaga. É possível comprar matéria em lojas e máquinas de venda automática, mas também é possível encontrar matéria no mundo, tal como  ao ajudar uma personagem a desenvolver matéria.

As armas equipadas, que podem ser compradas nas lojas ou adquiridas no mundo e em combates, também sobem de nível, ganhando pontos SP e podem ser melhoradas com o investimento desses pontos em vários Stats que afetarão as personagens. Esses pontos SP podem ser automaticamente investidos, caso desejemos, ou então geridos pelo jogador – todas as armas, incluindo as que não estão a ser utilizadas, sobem de nível juntamente com o jogador, tornando-se bastante útil ter o sistema automático a melhorar as armas que não estamos atualmente a utilizar. Melhor que tudo, cada arma traz consigo uma habilidade, que após utilizada várias vezes é adquirida pela personagem.

A variedade de gameplay também é identificável na inclusão de side quests opcionais, as quais nos brindam com itens, matéria e até mesmo cutscenes extra assim que cumpridas. Num jogo que é largamente linear, foi uma boa surpresa verificar a inclusão destes conteúdos opcionais, até pelo avanço na narrativa que é oferecido com a conclusão dos mesmos. Este incentivo à realização das side quests tem como resultado motivar os jogadores que estão mais preocupados com a narrativa, sendo, portanto, um toque de excelência da Square Enix.

Os limit breaks são absolutamente fantásticos!

Final Fantasy VII Remake traz consigo vários mini-jogos, algo que, aliás, já era comum no jogo original, não iremos tocar neles porém, digamos apenas que são incluídos na narrativa de uma forma absolutamente natural.

A nível da apresentação, Final Fantasy VII consegue ser um jogo muito bonito, não obstante alguns problemas persistentes com a implementação da Unreal Engine 4. Sim, falamos do efeito pop-in das texturas. É bastante comum darmos por nós a olhar para um cenário em que os polígonos aparecem sem texturas, para depois as mesmas aparecerem alguns segundos depois – este problema mantém-se na PS4 Pro. Estando esta questão colocada de parte, é na direção artística que o jogo brilha, apresentando-nos uma criação tridimensional maravilhosa dos cenários pré-renderizados de outrora. O sucesso desta recriação assenta principalmente no respeito pelo material original, que, com as tecnologias atuais, ganha vida de um modo que nem o fã mais ardente conseguiria imaginar. Não há nada como estar nos slums, quer seja do Sector 7 ou 5 e olhar para cima, apenas para ver o prato imponente de Midgar no céu, criando uma sensação poderosa de presença naquele mundo. É sentir que o mundo “sonhado” há 23 anos atrás se tornou real. Tudo neste mundo, desde os cenários, aos inimigos, e às personagens, se encontra extremamente detalhado, dando vida a uma direção artística com mais de duas décadas. Absolutamente fantástico.

No que toca à sonoplastia, a Square conseguiu o impossível, melhorar aquilo que já era perfeito. Nem falamos dos remixes da banda sonora original, cuja qualidade é digna de uma grande produção de Hollywood, mas sim da sua utilização detalhada nos vários momentos da narrativa. A forma como a música acompanha o que se passa no ecrã é verdadeiramente um trabalho de carinho, mas não só. Também traz consigo várias surpresas para os fãs. Ficamos positivamente surpreendidos quando ouvimos os acordes do tema “The Promised Land” do filme Final Fantasy VII: Advent Children. Uma banda sonora inesquecível.

Existe uma ideia de continuidade que premeia Final Fantasy VII Remake – para além do que explicámos, existem pequenas referências a elementos presentes em Crisis Core Final Fantasy VII e a Final Fantasy VII: Dirge of Cerberus que enriquecem o mundo de Final Fantasy. Além disso, o jogo gosta de brincar com as nossas expectativas do que irá acontecer a seguir, por vezes alterando alguns eventos de formas inesperadas.

Verifica a nossa video Análise de Final Fantasy VII Remake acima.

Opinião Final:

Final Fantasy VII Remake é um dos RPG’s mais esperados da década. Além de explorar e expandir a narrativa de um dos jogos mais queridos de sempre, também traz melhorias no gameplay e sistemas de matéria e equipamento. O cuidado com que trata o material original premeia cada milímetro do novo título, quer seja a nível de gameplay, apresentação gráfica ou banda sonora. Já temos o nosso jogo de 2020! Absolutamente recomendado! Parabéns Square Enix!

Do que gostamos:

  • Narrativa clássica expandida com elementos novos e fantásticos;
  • Novo gameplay RPG de ação com novos sistemas de matéria e equipamento;
  • Apresentação gráfica e sonora absolutamente inesquecível.
  • Um clássico instantâneo!

Do que não gostamos:

  • Ligeiros problemas com a implementação do Unreal Engine 4.

Nota: 9/10