
O lançamento do Football Manager 2026 no dia 4 de novembro de 2025 ficará registado na história da Sports Interactive (SI) como um momento de profunda ambiguidade. Após o cancelamento do seu predecessor, o título chegou ao mercado carregado de expectativas imensas e da promessa de uma revolução impulsionada pelo novo motor de jogo Unity. No entanto, o que se revela ao longo das primeiras semanas de gestão intensiva é uma realidade mais complexa e, infelizmente, predominantemente dececionante. O Football Manager 2026 é, na sua essência, um simulador que deu um passo lateral dispendioso no campo visual, enquanto ignorou teimosamente as falhas estruturais que há muito comprometem a sua profundidade humana e social.
O foco da SI recaiu quase totalmente sobre o aspeto técnico e visual, e aqui encontramos a primeira grande falha. O motor Unity, embora capaz de gerar gráficos mais detalhados, resultou numa Otimização Gráfica Pobre. O FM 26 exige hardware significativamente mais potente do que qualquer um dos seus antecessores para correr as novas animações e aprimoramentos visuais sem stuttering ou perda de fluidez. Esta decisão da SI de priorizar a estética em detrimento da acessibilidade penaliza grande parte da base de jogadores, forçando muitos a manterem as configurações no mínimo ou, ironicamente, a regressarem ao modo 2D das “caricas” para manterem a velocidade da simulação. A “nova era” do Football Manager 2026 é, para muitos, apenas o jogo anterior a correr mais devagar.
Relativamente ao Dia de Jogo, a tão aclamada melhoria visual é inconsistente. Embora o relvado e a iluminação sejam superiores, as novas animações volumétricas e a física da bola, apesar de em certos momentos serem excelentes, demonstram frequentemente falhas na lógica do motor de decisões. Vemos jogadores em posições irracionais a realizar movimentos acrobáticos que não resultam em jogadas credíveis, e a movimentação sem bola, uma falha histórica da série, continua a ser rígida e robótica em momentos cruciais. A imersão é quebrada quando um passe aparentemente simples é mal processado pela IA, ou quando um defesa se congela inexplicavelmente a meio da jogada. O motor de jogo foi reequipado com um motor visual novo, mas a inteligência por detrás dos movimentos não evoluiu ao mesmo ritmo, perpetuando a sensação de que o problema está na tomada de decisão e não apenas no aspeto gráfico.

A Interface de Utilizador (UI), vendida como um avanço na eficiência, revela-se um exercício frustrante de design estético. A eliminação da tradicional e densa barra lateral em favor de um sistema moderno de Mosaicos e Cartões (Tiles e Cards) compromete a navegação rápida. O jogador veterano, acostumado a atalhos e a um fluxo de trabalho direto, é obrigado a dar mais passos e a enfrentar ecrãs visualmente mais vazios, mas funcionalmente mais lentos. O Portal, a nova página inicial, rapidamente se torna uma fonte de poluição visual à medida que a caixa de entrada enche, falhando na promessa de centralizar a informação de forma clara e acessível. A SI conseguiu tornar o FM 26 visualmente mais contemporâneo, mas comprometeu a sua usabilidade, valorizando a aparência sobre a função, uma crítica grave para um jogo de gestão de dados.
Aclamado como a principal inovação de gameplay, o Controlo Tático Dual é menos uma revolução e mais uma camada complexa de microgestão que a IA do jogo parece incapaz de processar de forma fiável. A capacidade de definir formações com e sem posse de bola é fantástica na teoria, mas no campo, as transições são frequentemente desorganizadas, com os jogadores a demorarem a reposicionar-se ou a ficarem taticamente perdidos. Esta falha na execução sugere que a SI construiu uma ferramenta tática avançada sem equipar o motor de simulação subjacente com a inteligência necessária para a gerir. O resultado é que muitos jogadores são forçados a simplificar as suas táticas complexas para regressar a esquemas mais rígidos e tradicionais, de modo a garantir resultados, o que anula a própria finalidade da nova funcionalidade.

No que toca à substância de gestão, o Football Manager 2026 é dolorosamente estagnado. A SI perdeu o tempo extra de desenvolvimento do Unity, ignorando o aspeto humano do jogo. As interações com a Imprensa e o sistema de Dinâmica de Balneário são notavelmente superficiais e repetitivos. As conferências de imprensa continuam a ser um loop de perguntas e respostas genéricas, onde o impacto das declarações na moral do plantel ou na reputação pública é previsível e efémero. Os conflitos de balneário são frequentemente resolvidos com uma opção de diálogo que funciona como um botão de “reset” para o ego do jogador. Onde estão os dramas de balneário complexos, as greves de jogadores ou a intervenção imprevisível dos media? A SI falhou em criar uma IA social que refletisse a realidade volátil de gerir personalidades de alto nível.
A questão do conteúdo incompleto também pesa. A promessa de integração total do Futebol Feminino, embora um passo positivo, chegou com um número limitado de ligas e nações no lançamento, o que dilui o impacto da “expansão total” prometida. Além disso, a SI repetiu o erro de lançamentos anteriores ao não incluir funcionalidades chave no Day One, nomeadamente a Gestão de Seleções Nacionais no modo principal, que só foi disponibilizada numa atualização posterior, pré-Mundial. Esta prática de lançar um produto incompleto, mesmo após um cancelamento e um ano extra de desenvolvimento, demonstra uma falta de respeito pelo consumidor e enfraquece a credibilidade da SI.

Por último, as falhas na autenticidade visual no late-game mantêm-se. O motor Unity não foi aplicado para resolver a persistente falta de qualidade na criação de managers e, principalmente, na geração dos “Regens” (novos jogadores). A aparência dos managers personalizados continua a ser bizarra, e as faces dos Regens gerados por IA são inconsistentes, muitas vezes irreais ou genéricas. É inaceitável que o jogo com o melhor motor visual da série ainda tenha os newgens a parecerem personagens de um jogo de há uma década, quebrando a imersão na gestão de longo prazo.
Opinião Final:
Football Manager 2026 não correspondeu às espatativas. A SI gastou o seu capital de tempo e recursos na modernização de um aspeto (os gráficos) à custa do aprofundamento do que realmente torna o FM um simulador superior: a complexidade social e a coerência tática no campo. É um jogo que, apesar da nova pintura Unity, sofre dos mesmos problemas de estagnação de jogabilidade que assolavam os seus antecessores. A SI perdeu a oportunidade de fazer a verdadeira revolução do management, entregando em vez disso um produto incompleto, mal otimizado e focado em demasia na superfície. O preço a pagar pela nova era é, atualmente, demasiado alto.
Do que gostamos:
- Motor Unity proporciona um salto visual drástico, com animações volumétricas e física da bola incrivelmente realistas no Dia de Jogo;
- Controlo Tático Dual revoluciona a jogabilidade central, permitindo formações e instruções distintas para as fases com e sem posse de bola;
- Integração total do Futebol Feminino expande o conteúdo e as narrativas do jogo com o mesmo rigor estatístico do jogo masculino.
Do que não gostamos:
- A exigência de hardware para usufruir totalmente do novo motor gráfico Unity aumentou, o que pode penalizar os computadores mais antigos;
- A mudança radical da UI exige que os jogadores veteranos se adaptem, causando uma perda inicial de familiaridade e eficiência;
- A complexidade do Controlo Tático Dual, apesar de inovador, pode ser esmagadora para os gestores com menos experiência;
- O ritmo de progressão da carreira, embora melhorado, ainda pode apresentar repetitividade em certas interações de staff em saves de longo prazo.
Nota: 6/10
Análise efetuada com um código Steam cedido gentilmente pela distribuidora.