Forza Horizon 4 – Análise

Se há uma série (entre as poucas que existem) que podemos definir como verdadeira “vendedora de consolas” podemos firmemente considerar a série Forza como uma delas. Desde a sua origem, no remoto ano de 2005 na Xbox original, a série tem nos proporcionado entrega após entrega de crescente qualidade, tanto no seu formato original de simulador automóvel como nas suas iterações de “mundo aberto” e menos realistas, porém apontadas para um maior divertimento), a série Horizon. Esta série baseia-se em festivais de musica e automóvel passados em diversos locais do planeta sendo que já passámos por Colorado nos Estados Unidos da América, França e Itália na Europa, nas praias e desertos da Austrália e agora de volta à Europa, desta feita no Norte do Reino Unido com este Forza Horizon 4.

Mantendo a tradição de Outono bi-anual volta então um novo Horizon baseado no famoso festival, desta feita passado em terras de sua Majestade, mais propriamente no Norte do reino Unido. Para trás ficam as luxuosas praias, florestas tropicais e desertos da Austrália para dar as boas vindas a paisagens mais rurais, pitorescas e verdejantes. Curiosamente, o mapa parece ser ligeiramente mais pequeno, comparativamente ao oferecido no jogo anterior, apesar de parecer também haver uma maior e melhor compactação de eventos neste mesmo mapa.

Ao invés do seu antecessor, desta vez temos só um sítio principal do festival. Em Horizon 3 podíamos montar vários festivais e subir de nível desbloqueando assim mais eventos. Agora só temos um único festival, no entanto a novidade é que temos a possibilidade de comprar várias casas dispostas pelo mapa. A aquisição destas casas permite desbloquear não só regalias como pontos de viagem rápida (se não quisermos conduzir todo o trajeto até certas zonas do mapa, o que pode levar alguns minutos, como também desbloquear certos elementos e recursos que o jogo nos proporciona. Um bom exemplo é a primeira casa que obtemos que desbloqueia, entre outras coisas, o drone que podemos usar para “voar” um pouco e tirar fotos.

As casas permitem-nos também mudar de bólide, de cara do personagem, de roupa, buzina, comprar, vender e melhorar carros além de os pintar também e outras mais opções que normalmente estariam associadas a um sítio de festival. Obviamente que a partir da compra da primeira casa o jogo abre-se consideravelmente e assim podemos optar por participar numa diversidade de eventos desde corridas normais, desafios de rivais, acrobacias e proezas e afins. Tudo isto para ganhar influência, que é o sistema de progresso mais importante, para avançar nas várias estações sazonais, Outono, Inverno, Primavera e Verão. O jogo permite-nos ganhar influência em praticamente tudo o que fazemos. Até mesmo se fizermos stream através do Mixer, ganham influência não só nós como também os nossos espetadores.

Tudo isto faz parte do que é agora chamado de “Horizon life” que é basicamente a base de todo o jogo que desta feita está construído de forma a que a longevidade desta vez seja ainda maior. O jogo não exige vitórias em todas as corridas ou eventos. Seja o que for em que o jogador participa, ganha alguma influência. Melhores resultados equivalem a maior influência ganha, claro está, no entanto o jogo está de tal forma bem estruturado que acaba por conseguir ser desafiante para os amantes mais fervorosos do desporto automóvel como para os novatos do género ou na série Forza Horizon.

As corridas geralmente são nos apresentadas em cinco categorias principais como corridas de rua citadina, de estrada, cross country (andar a abrir pela paisagem todo-o-terreno), de terra e de drag (de ponto a ponto numa curta distância). Os habituais eventos de demonstração (showcase event) voltam também com toda a sua espetacularidade além das “histórias” que são desafios baseados em vários temas contendo uma pequena história de fundo. De volta também estão os placares de experiência (influência desta vez) e de redução de custos de “viagem rápida”. Mais, as zonas de velocidade e sinais de perigo ainda estão presentes, desafiando os jogadores a obter a máxima pontuação possível, sendo comparados de imediato com os resultados dos nossos amigos.

Uma grande novidade neste Horizon 4 é a introdução dos drivatars. Sim, eu sei que já são usados desde Forza Motorsport 5. Ao que me refiro é que esses estão de volta mas também agora estamos em constante partilha no mesmo mapa com até 73 outras pessoas além desses drivatars. Ou seja, quando antes apenas tínhamos essas representações virtuais dos nossos amigos e outros jogadores, desta feita além disso temos no mesmo mapa até 74 pessoas ao mesmo em tempo real partilhando o mesmo servidor. Um “mundo partilhado” por assim dizer. Os jogadores reais aparecem translúcidos e é apenas possível chocar contra os mesmos quando entramos em eventos com eles. A partir daqui podemos tanto entrar em eventos competitivos como cooperativos, fazendo com que se sinta um pouco como se estivéssemos em um jogo MMO (massive multiplayer online). De notar que podemos interagir com os outros jogadores com um “quick chat” pressionando no D-pad para a esquerda. Já agora, tirar uma foto está mais rápido, para isso bastando pressionar o mesmo botão para cima a qualquer momento para congelar o jogo e entrar no interface de fotografia.

Uma nova categoria associada a este “mundo partilhado” é o #FORZATHON Live e a loja #FORZATHON. Este é um evento apontado a todos os que se encontram a jogar no servidor no qual até 12 pessoas podem participar para cumprir um certo objetivo em comum para todos, focando-se assim em trabalho de equipa. Estes eventos aparecem a cada hora em vários pontos do mapa e normalmente consistem em simplesmente durante 15 minutos terem um alvo como um sinal de perigo ou uma zona específica do mapa onde têm de chegar amealhando pelo caminho o máximo de pontos de habilidade possível. Este evento tem 3 fases, sendo que se o grupo atingir a primeira, passa para a segunda e no final da terceira todos recebem pontos #FORZATHON que podem ser gastos em prémios à nossa escolha na loja #FORZATHON. Novos prémios e recompensas são adicionados à loja semanalmente.

Voltando a falar um pouco das estações do ano, é um dos elementos novos com mais importância no jogo. Em primeiro lugar porque, obviamente, alteram com mais ou menos relevância, a maneira como se joga e controla os carros.  Curvas, velocidade, aderência aos diversos tipos de piso alteram conforme a estação, além dos tempos de travagem e de derrapagem e até de saltos e lombas. As famosas “poças de água” voltam a estar presentes, principalmente nas estações do Outono e Primavera. Todas estas condições querem dizer que, um carro que eventualmente seja de fácil manuseio no Verão (como de rodas motorizes à retaguarda) poderá ser muito mais difícil de o fazer em condições de neve ou lama e vice-versa.

De mencionar que as estações têm a duração de uma semana em tempo real, sendo assim, mudam semanalmente de Outono para Inverno, na semana seguinte para Primavera e assim por diante. Estas mudanças ocorrem todas as terças-feiras e, como já mencionado, é uma mudança universal para todos os jogadores. Isto irá conferir uma constante mudança e variedade ao jogo, com eventos específicos como campeonatos sazonais, eventos e até conteúdo. O jogo irá estar constantemente a mudar e a evoluir o que é de louvar e de ficar positivamente surpreendido com a Playground Games por superar-se a si própria e a presentear-nos francas melhorias e novidades em relação ao jogo anterior.

Visualmente posso dizer que já estava à espera de uma certa evolução, dado o histórico de qualidade visual a que a série nos tem habituado e se superado a cada jogo. E as expetativas foram superadas. Este é o primeiro jogo a ser lançado com melhoramentos em resolução 4K nativos desde o início na Xbox One X entregando-nos a melhor fidelidade possível juntamente com o HDR (também disponível na Xbox One S) que confere uma profundidade de cores ainda mais impressionantes. Aos jogadores é dada a possibilidade de escolha entre “qualidade” ou “performance” sendo que a primeira permite-nos disfrutar da fidelidade máxima em 4K, porém com o framerate bloqueado em 30 frames por segundo, ou então optando pela segunda (desempenho) temos os 1080p de resolução mas desta feita com uns suavíssimos 60 frames por segundo. A escolha é nossa. Devo mencionar que testei ambas e apesar da diferença de resolução, os 60fps da seleção “performance” tornam o jogo uma delícia, algo nunca antes conseguido nos jogos anteriores que sempre tiveram o máximo de 30 fps. No final a escolha acaba sempre por ser do jogador e em qualquer uma das hipóteses estamos excelentemente servidos.

Falando em termos visuais menos… digamos, técnicos, posso com toda a certeza afirmar que uma vez mais, e apesar da evolução do último jogo em relação a Horizon 2, este Horizon 4 consegue na maioria dos aspetos melhorar em relação a Horizon 3. Algo que já na minha última análise ao jogo passado na Austrália ter mencionado pensar não ser possível e que volto a confirmar de novo que não pensei que fosse possível melhorar ainda mais no entanto a Playground Games, uma vez mais, superaram-se e entregam-nos um espetáculo visual soberbo cheio de delícias de paisagens, efeitos de luz realistas, efeitos meteorológicos (como a chuva, neve, neblina, até o vento), pequenos pormenores até o mais ínfimo detalhe não só nos carros como nos objetos do mundo onde estamos, casas – incluindo seus interiores, para onde podemos olhar e ver objetos como cadeiras, estantes, livros.

Nota-se aqui um tremendo esforço para não só manter o nível de qualidade ao qual o estúdio já nos tem habituado mas também como elevar a fasquia mais além e realmente demonstrar que não se conformam com um simples “copy/paste” e mudar apenas alguns detalhes. O mundo não é feito apenas de estradas e árvores, por assim dizer. O mapa é “populado” por outros carros, trânsito, animais que reagem ao perigo e até objetos que com mais ou menos interação acabam por conferir um tom espetacularmente realístico e de um mundo “vivo” à nossa volta.

Um dos pontos mais importantes na série Horizon, por ser um festival, tem sido obviamente a sua banda sonora. Devo dizer que uma vez mais que Horizon 4 não dececiona como todos os anteriores. De facto, e a nível de preferência pessoal, devo dizer que a seleção musical para este novo jogo está melhor do que em Horizon 3. Ainda não supera o original, porém lá está, trata-se de uma opinião mais pessoal, tendo a ver com os gostos musicais de cada um. De volta estão a maioria das rádios Horizon já conhecidas como a Bass Arena, Horizon Pulse entre outras. Sim, também a rádio que dá música clássica está de volta. De lamentar é a remoção da possibilidade de termos a nossa própria lista personalizada como no jogo anterior disponibilizava através do Groove Music. No meu ver este foi um passo atrás, quando poderia perfeitamente ter sido integrado o Spotify ou algo assim. A nível sonoro, apesar de não ser o mais realista de sempre, os variados motores dos carros e toda a ambientação que nos rodeia continua excelente contribuindo para uma melhor envolvência.

Existem ainda tantos outros factos que poderia mencionar sobre o nível de excelência de jogo que a Playground Games nos traz uma vez mais porém irei apenas nomear alguns tais como os novos Barn finds (caça a carros especiais), a mudança de estações como altera toda a ambientação e forma de conduzirmos, a interatividade social não só a nível de estarmos constantemente no mesmo mundo com até mais 73 pessoas como também de organizar desafios, corridas, torneios, comprar e vender carros e pinturas, comunicar, competir e cooperar, a quantidade estarrecedora de carros, o modo drone e modo de foto onde podemos partilhar as nossas melhores com a comunidade, a sensação de condução otimizada mantendo ainda algum realismo mas claramente apontada para a diversão, a possibilidade de os mais puristas sentirem-se “em casa” podendo afinar manualmente diversos detalhes dos seus bólides para maximizar o desempenho, o mundo aberto… onde podemos simplesmente passear virtualmente para qualquer lado sem tempos de carregamento ou procurar provas e avançar no jogo.

Opinião Final:

Poucas vezes podemos que um jogo supera o seu antecessor. Esta é uma delas. Forza Horizon 4 oferece mais, melhor e com mais profundidade do que os seus antecessores e consegue ainda, surpreendentemente com alguma facilidade elevar a fasquia imposta por Forza Horizon 3. Estamos perante um marco não só nos jogos de corridas, sendo possivelmente o melhor de sempre, como também nesta geração e nos jogos em geral.

Tendo tudo isto em conta e contando desde já com toda a certeza com imenso conteúdo a nos ser trazido pela Playground Games – começando já daqui a algumas semanas com um criador de percursos – é claramente percetível que o jogo não se deixará ficar por aqui e promete envolver os jogadores mais do que nunca no futuro próximo. Arte, excelência e quase perfeição.Volto a repetir, não sei sinceramente como será possível um futuro jogo superar este, mas se há estúdio capaz de o fazer é a Playground Games. Forza Horizon 4 senta-se, sem qualquer sombra de dúvida, comodamente entre os jogos mais recomendados deste e de vindouros anos e com o selo de “obra prima” e de ser absolutamente obrigatório na coleção de jogos de qualquer jogador, mesmo para quem não é fã de jogos de corridas.

Do que gostamos:

  • Dos melhores gráficos e visuais desta geração;
  • Enorme quantidade, qualidade e variedade de veículos;
  • Mundo aberto envolvente e entusiasmante;
  • As estações mudam tudo;
  • A multitude de possibilidades multijogador;
  • Horas e horas de conteúdos para jogar;
  • É um jogo Xbox Play Anywhere e de Game Pass: comprar versão Xbox temos grátis no PC, “grátis” por Game Pass.

Do que não gostamos: 

  • No meu ver, desnecessário a novidade de mudar as roupas do nosso personagem;
  • Os emotes dos personagens, desnecessários também

Nota: 10/10