Ghost of Tsushima – Análise

A Sucker Punch, estúdio que já nos trouxe jogos como Sly Cooper e mais recentemente inFamous, decidiu apostar numa nova propriedade intelectual. O objectivo era fazer algo totalmente diferente do que fizeram até ao momento e mostrar o seu grande talento. Foi ai que nasceu a ideia de fazer um jogo de Samurais passado no Japão, algo que levou a equipa a visitar esse País frequentemente, mais especificamente a ilha de Tsushima, de forma a fotografar as folhas, gravar os sons dos pássaros e da natureza, de forma a recriar de forma minuciosa e detalhada vários elementos, para que o jogo fosse o mais autêntico e imersivo possível. A paixão e dedicação mostrada neste jogo é de tal forma notório, que isso reflete-se durante todo o jogo, e qualidade do mesmo.  

A história de Ghost of Tsushima decorre no século XIII, quando o império mongol devastou nações inteiras para conquistar o Oriente, sendo a ilha da Tsushima a última linha de defesa no território Japonês. Com a invasão Mongol liderada pelo astuto e impiedoso general Khotun Khan, rapidamente cria-se o caos, e o povo é morto, feito de “escravo” ou tem que se sujeitar a tudo o que os Mongóis querem. Jin Sakai é um dos últimos sobreviventes do seu clã e irá fazer de tudo para proteger o seu povo e recuperar a ilha de Tsushima, tendo que abandonar as suas tradições que o moldaram como guerreiro e forjar um novo caminho, optando por táticas que não são consideradas dignas de um guerreiro, de forma a acabar com a guerra e reconquistar a liberdade de outrora.  

Apesar do jogo ter uma narrativa forte, bem contada, com momentos fantásticos, o jogo vai muito além disso. Quando falamos em Open World, e sendo bem sincero e directo, estamos habituados a montes de missões secundárias repetitivas ou genéricas, que estão lá só para aumentar a longevidade. É certo, há exceções, mas mesmo olhando para esses casos, Ghost of Tsushima é diferente, vai muito mais além, com uma nova dinâmica, que torna o mundo de jogo rico e cada encontro especial e único. Depois de imensas horas só a explorar, cada pessoa que encontrava, ajudava ou salvava, contava a sua versão dos acontecimentos, e partilhava ou não informações, que desbloqueia novas missões ou locais onde estão os mongóis. Personagens essas que não dizem sempre a mesma coisa ou reagem da mesma forma, não, há algumas que até choram e mostram-se desesperadas, já outras estão mais calmas apesar de tudo.

Andar de cavalo é a forma mais rápida de se mover e explorar o enorme mundo de jogo.

No entanto contado não é a mesma coisa que jogado, e irão notar bem esses detalhes na prática, quando o jogarem. A dinâmica faz toda a diferença, toda a atenção ao cuidado, todas as falas e toda a diversidade neste Open World faz com que o jogo tenha sim muitas missões secundárias e muitas coisas para se fazer, não para prolongar a experiência só porque sim, mas para sabermos mais sobre o que se está a passar. O jogo dá-nos prazer em nos fazer explorar, porque não cai no erro da repetição como muitos outros fazem. É essa a magia de Ghost of Tsushima, praticamente tudo o que faz, faz extremamente bem: é um jogo imersivo.  

E isto leva-me a falar de uma das coisas mais importantes de um jogo: o gameplay. Ora este é um dos jogos não só mais diversificados, mas também com a jogabilidade mais afinada de um Open World de que me lembre, fazendo lembrar nesse sentido um jogo linear. Todas as mecânicas foram exemplarmente bem executadas. Claro, é possível andar de cavalo, correr, saltar, escalar, confrontar os inimigos de frente e começar uma luta onde é possível fazer variados combos, contra certos inimigos que requerem estratégias diferentes, inclusive mudar a stance da espada de forma a deixar os inimigos com escudo à mercê dos nossos ataques, desviar, bloquear, atacar sorrateiramente os oponentes, fazer ataques aéreos, usar bombas de fumo…é algumas das possibilidades que o jogo nos oferece.  

As batalhas além de divertidas, são brutais. E há uma boa quantidade de “Bosses”, inclusive nas missões secundárias.

Claro que o jogo tem uma categoria designada de “Técnicas” em que dá para adquirir inúmeras skills. Com nem metade delas desbloqueadas, eu já sentia o que disse anteriormente: um dos jogos Open World mais diversificados. Não é exagero, é realidade, tal como o próprio jogo tenta ser o mais fiel possível em tudo o que faz, não se esquecendo do factor diversão, algo que certos jogos ás vezes deixam de lado. Até a banda sonora é perfeita, adequando-se ás situações e à época. É uma declaração de amor do estúdio à cultura Japonesa, em todos os aspetos na verdade, mas também uma demonstração de amor ao seu próprio trabalho: criar jogos.  

E em relação à dificuldade? À tempos o diretor criativo de Ghost of Tsushima referiu que o jogo era difícil. Há quem possa estar preocupado, a pensar que é mais um aspirante a Dark Souls. Resolvendo essa questão, não, não é nenhum Dark SoulsDark Souls não tem opção de dificuldade, Ghost of Tsushima tem. E tem três: Fácil, Médio e Difícil. Escolhi a dificuldade Médio, e sim, o jogo consegue ser desafiante em certas ocasiões, mas num nível bastante aceitável. Não é um jogo que irá frustrar as pessoas. No entanto para quem quer um maior desafio, a dificuldade difícil irá satisfazer essa vontade.

Outra das preocupações que cheguei a ver, está relacionado com o jogo não ter um tipo de sistema GPS que “conduz” com uma linha os jogadores para determinado local ou missão. Cheguei a ler comentários de pessoas que estavam preocupadas por não saberem para onde ir e se sentirem perdidas. Ora bem, ao contrário de um dos jogos mais aclamados desta geração que não dá qualquer indicação para onde ir ou o que fazer, Ghost of Tsushima tem um mapa onde diz as missões, certos locais, o “?” que é uma zona desconhecida pronta para ser descoberta, e tem uma seta a referir a posição do jogador, que se move consoante essa mesma posição. Logo ai já dá para se direcionar, pois uma pessoa já fica a saber se tem que ir em frente, para a esquerda, direita ou voltar para trás. Mas essa é a forma secundária, o principal é o vento guiador. O que é isso? São rajadas de vento que ajudam a direcionar o jogador para o lugar marcado. Em nenhuma ocasião me senti perdido ou com dificuldades a chegar até X sítio.  

Tocar melodias na flauta faz mudar o clima.

Em relação à parte técnica do jogo: impecável. O jogo correu sempre de forma fluída, apesar de ser um Open World lindíssimo, com condições atmosféricas dinâmicas e com algo que nunca vi em nenhum jogo: um constante cair de folhas, com uma naturalidade impressionante. Para não falar que é um mundo vivo, e com vários animais. Inclusive há os Covis da Raposa, em que temos que seguir a raposa até aos altares Inaru, onde se pode adquirir mais vagas de amuletos – de referir que cada amuleto equipado à personagem oferece determinadas vantagens, como por exemplo o aumento do dano causado e um recarregamento e preparação mais rápido de flechas. Por vezes os pássaros também nos guiam até certos locais. O jogo tem paisagens de cortar a respiração, tudo muito bem detalhado. Claro que o jogo também tem alguns bugs, nada de muito intrusivo e foram poucos os que apanhei tendo em conta o enorme mundo de jogo, mas há que assinalar isso. Se até os jogos lineares os tem, os Open World ainda tem mais, pelo que é “normal”, mas há melhorias a fazer. Uma vez libertei um urso que estava enjaulado, de forma a atacar os Mongóis, e o urso não estava a andar e a agir de uma forma normal, de como seria esperado, atravessava a parede e ás vezes parecia que iria ficar ali preso, mas depois lá acabou por matar os Mongóis. É algo que deverá ser corrigido numa futura atualização. De resto, nada a apontar, e muito a elogiar. 

Opinião Final:

Simplesmente fantástico. O melhor jogo de Samurais. É tudo o que vem à cabeça quando falo de Ghost of Tsushima. É uma abordagem diferente aos jogos de mundo aberto, não por causa da época em si, mas por toda a dinâmica do mundo, e a juntar a isso é dos jogos mais bonitos e com gameplay mais diversificado/afinado de um Open World. É um jogo com muita ação e com uma campanha fantástica, cheia de grandes momentos. A Sucker Punch fez um trabalho excepcional e Ghost of Tsushima é certamente um grande candidato a Jogo do Ano de 2020. 

Do que gostamos:

  • A campanha é fantástica: tem uma história muito boa e excelentes acontecimentos;
  • Jogabilidade muito diversificada e afinada;
  • Mundo de jogo bastante dinâmico;
  • Grafismo e banda sonora de luxo;
  • Grande longevidade / Replay Value.

Do que não gostamos:

  • Apanhei alguns bugs, que deverão ser corrigidos em futuras atualizações.

Nota: 10/10

 

Informações adicionais:                                                           Versão analisada: PlayStation 4 Pro

Produtora: Sucker Punch

Editora: Sony

Data de lançamento: 17 de Julho 2020

Preço do jogo base: 69.99€

Página do jogo na PlayStation Store