HellSign (Acesso Antecipado) – Antevisão

Imaginem-se na pele de um investigador paranormal, que tem como principal missão ir até locais onde crimes misteriosos ocorreram e investigar não apenas o que está visível ao olho humano, mas aquilo que se esconde em outras dimensões. É exatamente essa a proposta de HellSign (não confundir com a excelente franquia de anime japonesa Hellsing), mas será que fantasmas e entidades invisíveis são os piores inimigos do jogo, ou ele próprio é uma “auto-ameaça”?

Antes de começar a tratar do jogo em si, vale a pena frisar que o mesmo ainda se encontra em fase de acesso antecipado, pelo que esta não será exatamente uma análise, até porque o jogo ainda está incompleto. Além disso, este é o primeiro projeto do estúdio independente australiano Ballistic Interactive, então algumas falhas e problemas serão mencionados, mas obviamente deve-lhes ser dado um peso muito menor.

A história é bem simples e inclusive apresentada em formato de banda-desenhada logo no início do jogo. Somos um investigador freelancer do paranormal que acorda um dia desesperado com uma vaga lembrança de ter morrido na noite anterior, após um ataque extremamente impiedoso de uma entidade misteriosa. Apesar de aparentemente ter sido apenas um pesadelo, uma tatuagem aparentemente recente e estranha surge nas suas costas. Contudo, não há tempo para pensar muito: quando o telefone toca com um trabalho, é colocar as pílulas para dentro e ir ao trabalho.

Ao iniciar o jogo temos de escolher o nosso protagonista entre nove opções de classe e com três opções de imagem pré-definidas (podem escolher uma qualquer, o jogo tem visão isométrica então nem se verá o resto da personagem), tendo cada classe habilidades, especializações e equipamentos específicos.

Stalker é a classe mais indicada para uma primeira experiência, já que é a mais equilibrada, com especialização em armadilhas, iscas e granadas, além de já incluir no seu inventário uma lanterna de luz negra, um leitor EMF e uma caçadeira de cano cerrado. Já Detective é a classe indicada para aqueles que desejam levar uma abordagem mais focada na investigação, já que para além das suas habilidades de investigação e conhecimento do paranormal, traz ainda no seu inventário os três principais equipamentos para investigação e deteção de elementos paranormais.

Aquilo em que HellSign se baseia é algo não tão comum em Portugal, mas amplamente difundido nos EUA, que são investigadores que muitas vezes vão acompanhados de equipas de TV até locais abandonados – ou em que famílias estão a sofrer com elementos paranormais – e que precisam de ser “limpos”, sendo que há um novo episódio por semana em que “limpam” estes locais da influência do paranormal. Aqui não temos uma equipa de TV, mas a ideia é a mesma: ir até uma casa; utilizar o leitor EMF (um aparelho capaz de detetar campos eletromagnéticos que muitos afirmam ser capaz de detetar sinais paranormais, principalmente de fantasmas ou outros elementos residuais deixados por entidades em vários locais); usar a luz negra para identificar os rastros de sangue; e encontrar objetos importantes para a investigação nesse local.

Para além das próprias entidades, estes últimos objetos são os elementos mais importantes da investigação, já que poderão ser utilizados para criar um perfil não apenas da cena do crime, mas também daquilo com que teremos de lidar. O jogador terá a oportunidade de analisar e combinar estes objetos de maneira a obter assim informações preciosas sobre o tipo de entidade que está naquela casa, as suas fraquezas e, em alguns casos, até mesmo a permitir que se materializem. Criaturas mais simples e até normais do nosso dia a dia como aranhas (apesar do seu tamanho considerável no jogo) podem ser facilmente derrotadas com disparos de uma arma, porém, entidades mais poderosas vão realmente exigir do jogador uma grande investigação e uma boa preparação, para explorar as suas fraquezas e assim enviá-las para a sua dimensão.

Contudo, todo este excelente conceito de HellSign acaba por sair prejudicado pela sua jogabilidade atrapalhada e mecânicas de combate cheias de problemas, o que resulta em combates e movimentações que vão fazer muitos jogadores sentirem-se frustrados. Enquanto o nosso protagonista constantemente se vê preso em locais do mapa, os inimigos menores conseguem movimentar-se com grande agilidade e, se aliarmos isto a uma mira por vezes imprecisa, o que mais irá acontecer nas primeiras horas de jogo é muita munição ser gasta para se alcançar um resultado satisfatório, com até mesmo momentos em que devemos disparar contra uma porta para a abrir se tornam num desafio de paciência. O jogo também não possui um sistema monetário muito eficaz, com a maioria dos contratos a pagar muito pouco e a exigir que o jogador entre numa repetição constante e tediosa de contratos caso queira adquirir equipamentos dignos de realmente fazer frente aos desafios mais exigentes.

Esta monotonia em relação aos contratos poderá ser facilmente corrigida no futuro com atualizações que incluem mais missões e com maior variedade, porém, no momento o jogo realmente está muito incompleto neste sentido e esta repetição de missões resulta numa frustração que só tem resulta numa coisa: fechar o jogo e aguardar por novidades.

O jogo não possui também suporte para comando, sendo toda a sua movimentação e interação feita através do teclado e rato. De momento o estúdio reconhece que ainda está a estudar como adaptar as mecânicas e interação principalmente com o inventário e com o livro com informações sobre as criaturas (Cryptonomicon), com inclusive o próprio estúdio a pedir aos fãs e jogadores para deixarem a sua opinião de como adaptar essas mecânicas. Sendo assim, é possível que no futuro a Ballistic Interactive também adicione esse suporte através de atualizações.

Outra ausência notável, compreensível devido a HellSign estar numa fase de acesso antecipado que começou há pouco tempo, é a falta de opção para outros idiomas para além do inglês, o que não prejudica totalmente a experiência ao nível de jogabilidade para quem não tenha familiaridade com esse idioma, embora possam ficar sem conhecer algumas curiosidades e informações sobre as entidades. Para além disso, apesar de ainda pouco explorada, alguns jogadores poderão ter dificuldade em compreender melhor a história e a construção de personagens secundárias durante a narrativa.

A nível de desempenho, o jogo não tem grandes ou notáveis problemas técnicos, além de ser bastante leve, não exigindo configurações muito exageradas, o que permite que um grande número de jogadores possa pelo menos experimentá-lo. Durante as minhas 8 horas de jogo, os únicos dois problemas que encontrei foram os primeiros loadings a terem uma duração maior do que o esperado e alguns sinais de EMF a atravessarem a parede, o que, em locais com muitos cómodos, levou a que fosse um pouco confuso detetar exatamente a localização do núcleo do campo eletromagnético.

Opinião Final:

Em resumo, HellSign é daqueles jogos independentes incrivelmente promissores, principalmente sendo o primeiro projeto do estúdio australiano, Ballistic Interactive, e oferecendo ao jogador, especialmente pelo seu conceito, um jogo de investigação com elementos sobrenaturais que até jogos com grandes orçamentos por vezes falham em entregar, e principalmente com um desempenho bastante positivo. Além disso, o seu preço de 14.99€ na Steam faz com que não seja tão doloroso para os jogadores pelo menos experimentarem e darem um voto de confiança ao estúdio.

Contudo, é também importante ressaltar que o jogo ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser igualar o seu excelente conceito à sua jogabilidade, que no momento possui muitas falhas e com repetições de contratos totalmente desestimulantes. Então, se receberam um dinheiro extra, estão à procura de um jogo de investigação e gostam do tema do sobrenatural, com uma grande promessa de futuro HellSign pode ser uma excelente escolha. Porém, se o mealheiro neste final de ano está mais vazio, talvez valha a pena esperar por aquilo que a Ballistic Interactive irá disponibilizar ao longo dos próximos meses.

Esta análise foi redigida com base numa cópia do jogo para PC gentilmente cedida pela Ballistic Interactive.


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