Kirby’s Extra Epic Yarn – Análise

Lançado em 2010, Kibry’s Epic Yarn tornou-se rapidamente reconhecido pela sua apresentação adorável e por transbordar uma criatividade e boa-disposição tais que nos levam a revisitar a nossa criança interior, ao mesmo tempo que abandonava algumas das mecânicas mais comuns e porventura demasiadamente repetidas da série Kirby. Desde então, a Good Feel tem-se dedicado a outros projetos, igualmente com a missão de criar jogos com uma apresentação visual única e baseada em materiais que usamos na vida real. Vimos esses efeitos em 2015 com Yoshi’s Wooly World, em que o tema da lã era de novo omnipresente, e mais recentemente em 2019 com Yoshi’s Crafted World, um título que infelizmente deixou a desejar (como podem ver na nossa análise, aqui).

De forma a dar um último sopro de vida à já então de saída 3DS, a Nintendo acabou por converter este que era um exclusivo Wii para esta portátil de dois em ecrã e com 3D. Infelizmente, o 3D da consola não passou para o jogo, sendo que não é possível ativar esta opção, Extra Epic Yarn é inteiramente um jogo 2D. Por outro lado, esta versão não se trata de uma simples conversão ou port do jogo da Wii, trazendo algumas novidades que são sem dúvida bem-vindas.

Quanto ao jogo base em si, não há muito de novo a dizer que não tenha sido dito nos últimos 11 anos. Trata-se de um jogo Kirby pouco tradicional, na medida em que não podemos engolir os nossos inimigos e adquirir os seus poderes, ou mesmo voar. Kirby transformou-se numa figura de lã sem interior ao ser confrontado com o maligno mágico Yin-Yarn e ser enviado para Patch Land, um mundo em que tudo é feito de lã, pelo que ambas as opções estão fora de questão (afinal de contas, para onde iria o ar e os inimigos?). Por outro lado, com a sua transformação numa figura de lã, Kirby passou a tornar-se ele próprio bastante mais fléxivel, podendo mudar de forma. Em termos do próprio jogo, tal corresponde a certas secções em vários níveis em que Kirby assume a forma de diversos veículos, tais como um tanque, uma carrinha dos bombeiros, uma nave alienígena, entre muitos outros. A variedade de obstáculos e de formas de controlar Kirby são notáveis, e tornam esta uma experiência bastante aprazível, em que não reina a monotonia que muitos (eu incluída) sentem ao jogar por exemplo os mais recentes New Super Mario Bros. Para além destas transformações, Kirby pode usar ainda parte do seu corpo para formar uma espécie de chicote, que lhe permite enrolar os inimigos e livrar-se deles, prender-se a botões, apanhar projéteis e arremesá-los em formato de bola de lã, entre outros usos.

Uma nave espacial? É para já!

Mesmo em termos de cenários e mundos, Kirby’s Extra Epic Yarn surpreende. Temos 7 mundos de jogo por percorrer, cada um com 4 níveis e um boss final, assim como dois níveis extra que podemos desbloquear. A nossa missão é voltar a cozê-los, após o malvado Yin-Yarn os ter separado uns dos outros pelas costuras. Embora estes mundos sejam temáticos, em cada mundo encontramos uma grande variedade de níveis e ideias, como por exemplo explorar uma selva repleta de dinossauros e abelhas no mundo Hot Land, em que noutros jogos encontraríamos simplesmente uma série de níveis desérticos ou repletos de lava (que também se encontram aqui presentes). Onde Kirby’s Extra Epic Yarn brilha neste quesito, no entanto, é no que toca à forma como os níveis se vão desbloqueando, de formas tão simples como um feijoeiro a crescer após ser regado, ou um dinossauro a comer carne que bloqueia um nível. Não é nada que mude de forma drástica a experiência de jogo, mas é um contraste gritante face à habitual linha que vai surgindo entre dois círculos, com o círculo correspondente ao novo nível a mudar de cor.

Ao mesmo tempo que traz toda esta variedade e detalhes, Kirby’s Extra Epic Yarn acaba por nunca nos apresentar momentos em que nos espanta e que se destaquem de outras ofertas do género, incluindo várias que a Nintendo vai regularmente apresentando. Na verdade, algumas das transformações de Kirby acabam por ser muito mais intuitivas e bem integradas do que outras, sendo por exemplo a transformação em comboio um exemplo de algo que simplesmente acaba por não ser divertido, com uma implementação que deixa bastante a desejar. Assim sendo, o modo estória acaba por se mostrar competente, adorável e relaxante, mas falta-lhe algo que nos faça ficar colados ao ecrã.

Para além dos vários níveis que vamos percorrendo e das batalhas contra os bosses, Kirby’s Epic Yarn inclui ainda atividades que se podem fazer a par da aventura principal. No início do jogo, é dado a Kirby um apartamento, o qual poderemos decorar com objetos que vamos encontrando ao longo dos níveis, assim como podemos adicionar música ambiente dos vários níveis que vamos percorrendo. Cada nível que completamos esconde dois itens de decoração, assim como uma faixa musical, que darão nova vida ao lar de Kirby. Podemos ainda, com as jóias que vamos obtendo ao longo dos níveis, comprar mais materiais de decoração para o nosso apartamento, assim como fazer uma doação ao dono do mesmo, permitindo-nos expandir o apartamento e assim ter mais espaço para decorar. Trata-se de uma adição que coaduna bem com o tom do resto do jogo e que representa uma forma diferente de passar algum tempo com Kirby. Neste espaço, temos acesso ainda a alguns minijogos, por exemplo tendo de procurar cinco cópias de um novo amigo, escondidas numa porção de um nível que já completámos.

 

A vida não é apenas “sunshine and rainbows”, mas se bem o entenderem, o apartamento de Kirby pode ser!

No que diz respeito ao port em si, o mesmo mostra-se bastante competente e a forma como o jogo está estruturado assenta que nem uma luva numa consola portátil como a Nintendo 3DS. Por exemplo, os níveis não são muito longos, pelo que este acaba por ser um jogo ideal para uma consola portátil. É claro que num ecrã tão pequeno, alguns dos detalhes que eram mais proeminentes na versão Wii passam agora um pouco despercebidos. Ainda assim, o jogo não se sente forçado a correr nesta consola, ao contrário de outros títulos com que fomos brindados ao longo dos anos, como Hyrule Warriors Legends. O único ponto em que se faz notar que o título não foi criado com a 3DS em mente é a já referida ausência do 3D.

Como referido logo no início, no entanto, Kirby’s Extra Epic Yarn faz por justificar o “Extra” no seu título, adicionando algumas novidades bem-vindas a este side-scroller. Em primeiro lugar, agora Kirby tem novas habilidades, as Ravel Abilities, que aproximam ligeiramente a experiência de Epic Yarn à dos títulos clássicos da série Kirby. Em determinados pontos de cada nível é possível apanhar certos poderes, os quais conferem a Kirby possibilidades de ação um tanto quanto similares às que os poderes de cópia lhe conferiam em outros títulos da série. Por exemplo, é possível apanhar um poder que permite a Kirby empunhar uma espada, assim como um poder de gelo que dá a Kirby um aumento na altura que os seus saltos conseguem atingir, sugando jóias e destruindo inimigos pelo caminho. Esta acaba por ser uma novidade muito bem-vinda, na medida em que a equipa responsável por esta versão conseguiu encontrar um bom equilíbrio entre não transformar a experiência de Epic Yarn em apenas mais um jogo Kirby como tantos outros, ao mesmo tempo que a dinamiza de forma a que a exploração dos níveis se torne realmente diferente, mais diversa e divertida.

Engarde!

Em segundo lugar, Extra Epic Yarn vem lidar com uma das críticas mais comuns ao original, assim como a outros títulos Kirby: a dificuldade, ou melhor dizendo, a ausência dela. Pessoalmente, julgo que esta crítica era injusta logo à partida, dado que este é um jogo para toda a família, cujo objetivo principal é assumidamente oferecer uma experiência relaxante, enternecedora e com a qual todos se podem divertir, mesmo os mais novos. Igualmente, ao passo que não existe realmente um ecrã de Game Over, cada vez que Kirby cai num buraco ou um inimigo lhe consegue causar dano, Kirby perde várias das jóias que foi apanhando ao longo do nível, tendo apenas alguns segundos para as voltar a apanhar – e estas são necessárias para que consigamos 3 estrelas num determinado nível, em certos casos para desbloquear níveis extra e ainda para comprar os já referidos objetos de decoração para o apartamento de Kirby. Assim, enquanto que concluir os vários níveis e chegar ao final da aventura é uma pêra doce, em alguns momentos conseguir colecionar todos os itens nos níveis e manter posse das jóias que fomos apanhando já não o é. Ignorando, no entanto, todas estas considerações, para alguns jogadores mais experientes, Epic Yarn continuou a ser um jogo a evitar, dada a ausência de um maior desafio. Nesta nova versão, foi dada uma resposta direta a este pedido dos fãs e existe agora um novo modo de jogo – o Devilish Mode. Neste modo de jogo um demónio persegue Kirby pelos vários níveis e este tem agora um número limitado de vidas – cinco. Caso o demónio que persegue Kirby o atinja cinco vezes, ou Kirby seja danificado cinco vezes, terão de começar o nível todo de novo. Para mim, este modo acaba por tornar menos relaxante uma experiência que ganha bastante em sê-lo, contudo é sempre positivo que sejam acrescentadas opções para todos os gostos e formas de jogar, pelo que se a dificuldade reduzida de Epic Yarn vos afastou deste jogo, esta nova versão é algo a considerar seriamente.

Finalmente, em terceiro lugar Extra Epic Yarn traz consigo dois novos modos de jogo: Slash & Bead e Dedede Gogogo. Estas são adições bastante diminutas ao modo estória, mas acabam por ser dois minijogos que divertem durante alguns minutos e que têm um bom fator de rejogabilidade. No primeiro destes, Slash & Bead, controlamos Meta Knight movendo-o por todo o ecrã enquanto atacamos hordas de inimigos e colecionamos jóias. No segundo, controlamos King Dedede e devemos saltar e usar o seu martelo com precisão para evitar inimigos e caixas bomba ao mesmo tempo que tentamos obter o maior número de jóias possível. Cada um destes modos vem apenas com quatro estágios, e no final de cada um é-nos atribuído um rank. Com base neste rank, são nos dados tapetes para decorar o apartamento de Kirby, e podemos guardar as jóias obtidas. É algo bastante simples e que rapidamente podemos completar com alguma persistência, mas vem acrescentar mais uma pequena forma alternativa de explorar este título, caso nos cansemos do modo estória.

Jogar com Meta Knight e derrotar ondas de inimigos é sempre muito divertido.

Infelizmente, nem tudo é um mar de rosas nesta nova versão. Apesar de todas estas adições, Kirby’s Extra Epic Yarn removeu a opção de jogar em co-op, que existia na Wii. Assim, o príncipe Fluff deixou de ser jogável. O jogo continua a ser bastante divertido jogado a solo, e a Nintendo esmerou-se em tornar a experiência de jogo mais polida e satisfatória nesta versão. No entanto, continua a ser uma pena que não seja possível jogar com amigos, mesmo que apenas em modo local.

Opinião final:

Kirby’s Extra Epic Yarn é mais uma das versões de clássicos da Nintendo lançados no final de vida da Nintendo 3DS. Felizmente, não se limita a ser um port limitado e que sabe a pouco da experiência original, conseguindo, antes, representar de forma bastante fiel a experiência original, acrescentando-lhe alguns elementos que tornam a aventura ainda mais divertida e variada. Assim, Extra Epic Yarn traz todo o charme e fofura do título em que se baseia, mantendo aquela que é uma experiência bastante calma e relaxante, mas que agora também traz consigo um modo de dificuldade mais elevada, pelo qual muitos fãs pediram. Infelizmente, alguns dos pontos que não resultaram tão bem na versão original continuam a destoar e a remoção do modo co-op representa uma perda que é de lamentar. No geral, este é um título sólido, algo curto, mas que convida à exploração e que para além de divertir, nos convida a revisitar a nossa criança interior.

Do que gostamos:

  • Apresentação audiovisual continua a ser soberba e com o estilo adorável;
  • Grande variedade de transformações e atividades suplementares;
  • Novos modos de jogo vêm contribuir de forma simples mas efetiva para esta variedade;
  • Revel Abilities trazem consigo aproximações totalmente diferentes a níveis já conhecidos.

Do que não gostamos:

  • Ausência de efeito 3D;
  • Algumas transformações de Kirby, como o comboio, não foram muito bem implementadas;
  • Perda do modo co-op.

Nota: 8/10