Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk (Switch) – Análise

Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk, um dungeon crawler dos criadores da série Disgaea, chegou a várias plataformas, incluindo a Nintendo Switch, em setembro do ano passado. Tal como os jogos daquela série de RPGs, Labyrinth oferece várias horas de jogo, caso lhe queiram dedicar o vosso tempo.

Apesar de acabar por se tornar bastante divertido e até viciante, os momentos iniciais deste jogo são marcados por longos diálogos e tutoriais (especialmente estes últimos, haja paciência para tanto bombardeamento de informação) que poderão repelir os jogadores menos pacientes. Confesso que, não tivesse de redigir esta análise, a minha jornada pelo labirinto de Refrain poderia não ter durado mais do que um «par» de horas – o que teria sido uma pena! Após este início lento, e quando se começa a ter mais liberdade para explorar as masmorras, como o jogo promete, este torna-se bastante divertido e agarra o jogador de uma forma pouco comum, fazendo com que o tempo passe sem se dar conta.

Tal como em outros dungeon crawlers, existe uma dimensão de back-tracking que acaba por tornar a experiência aborrecida pela repetição de certas ações em sessões mais longas de jogo.  Esta dimensão é, no entanto, reduzida neste jogo com a introdução de portais e outros elementos que ajudam bastante a evitar longas e frustrantes viagens da base para o ponto da masmorra em que estamos correntemente a explorar, e vice-versa.

O combate de Labyrinth of Refrain é bastante simples, mas divertido.

Sendo este também um RPG cujo combate se dá por turnos, grande parte da diversão associada a Labyrinth of Refrain advém do prazer tão característico de evoluir uma equipa de aventureiros e vê-los a desbloquear ataques e habilidades cada vez mais poderosos, o que lhes permite defrontar também cada vez mais poderosos inimigos. A estes traços comuns, Labyrinth of Refrain adiciona mais um elemento de estratégia, que é o de se poder ter mais personagens na party do que o número de espaços disponível (cinco), podendo-se juntar até três personagens principais (juntamente com personagens suporte, que, não participando «ativamente» nos combates, aumentam as estatísticas das personagens e ganham também experiência) numa coven, que funciona como uma única unidade de combate. Por outras palavras, embora controlemos sempre apenas cinco unidades, estas passam, a partir de um certo momento no jogo, a poder conter mais do que apenas uma personagem. Quando as personagens (as principais, não a de suporte) se juntam numa coven, as suas estatísticas, assim como os seus pontos de vida e os seus Donum Points (pontos de magia, doravante DP) são somados e ficamos com uma unidade mais forte em todos os sentidos, o que torna ainda mais comum a agradável sensação de ver as personagens a evoluir e a realizar feitos cada vez mais espantosos.

Esta organização das personagens por covens torna ainda este jogo mais profundo, uma vez que, em fases mais tardias do mesmo, é absolutamente necessário saber gerir eficazmente que personagens deverão ficar juntas com quais em quais covens. Por exemplo, existem personagens com bastante vida e poder de ataque, mas que praticamente não têm DP; umas são especializadas em atacar da retaguarda, enquanto outras atacam nas linhas da frente; já outras poderão ser especialmente voltadas para a magia ofensiva, e ainda outras para uma função de suporte. Adicionar uma personagem com mais vida e resistência a ataques a uma coven com personagens mais fracas e cuja função é basicamente a de dar suporte aos outros combatentes poderá tornar esta unidade mais difícil de abater, mas pode representar uma perda (comparando com adicionar outra personagem) nos DP disponíveis e que poderão ser absolutamente necessários para curar outros combatentes.

A apresentação leva-nos a imaginar um mundo mágico, mas embora a fantasia esteja presente, este é mais negro do que se poderia prever.

Apesar do que foi dito sobre os momentos iniciais do jogo, e de haver algumas queixas (tanto a respeito de Disgaea, como deste jogo) quanto à duração dos diálogos do jogo, a narrativa do mesmo não é, de todo, má. Não esperem um enredo completamente revolucionário, e caso o que procurem mesmo seja explorar masmorras com a vossa party, poderão ignorá-lo. No entanto, caso, como para mim, uma história pelo menos satisfatória vos seja imprescindível num RPG para que se sintam motivados a avançar, não se preocupem. O enredo de Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk é sólido e serve bem o seu propósito tanto de entreter como de deixar um certo mistério no ar que leva os jogadores a mais uma vez quererem descer ao labirinto e satisfazer os pedidos da bruxa Baba Yaga.

A premissa do enredo é bastante simples: existe um labirinto contagiado por miasma (uma forma condensada e fatal para seres humanos de mana) escondido por baixo de uma localidade de nome Refrain. Na posse de um livro que relata as descobertas de um humano que, diz-se, foi o único a conquistar o labirinto e chegar ao seu final, o Tractatus de Monstrum, a bruxa Baba Yaga e o sua aprendiz, Luca, deslocam-se até Refrain com o objetivo de explorar cada canto e recanto do labirinto, para a bruxa ganhar um grande poder. Enquanto exploram este labirinto, vão descobrindo mistérios sobre a própria localidade de Refrain, que não é o que à primeira vista poderá parecer, assim como fingindo estar simplesmente à procura de pedras preciosas para o presidente da câmara.

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As cinemáticas e as vozes dão vida a cenas por vezes bastante desconfortáveis

A narrativa é contada através de cinemáticas de bastante qualidade, sendo as várias personagens únicas, bem desenhadas e especialmente sendo portadoras de vozes únicas. As vozes em inglês estão muito bem trabalhadas e ajudam de forma significativa a construir o tom do jogo, bem como a tornar estes segmentos do jogo mais interessantes, acompanhando todas as falas das personagens. É uma característica pouco comum em RPGs, especialmente entre os mais obscuros ou com um público alvo de relativamente reduzidas dimensões, e por isso acaba por ser notável.

Poderão estar a perguntar-se: “se o labirinto  está infestado por este tal «miasma», como é que o exploramos? Baba Yaga é assim tão poderosa?”. A resposta à segunda pergunta é um redondo «Não», mesmo Madame Dronya (nome pelo qual Baba Yaga se faz passar junto dos cidadãos de Refrain, que não gostam de bruxas) – que é bastante poderosa – não tem poder suficiente para sobreviver no labirinto. A maneira como se explora o mesmo é através do já referido Tractatus de Monstrum. De facto durante esta aventura o jogador é uma alma aprisionada neste manual. Madame Dronya limita-se a, simplesmente, atribuir almas a marionetes e a transformá-las nos aventureiros que controlamos no labirinto (na verdade controlamos realmente o livro transportado por elas por todo o lado, mas através deste comandamos as várias personagens).

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As possibilidades de criação de marionetes são muito variadas.

É o jogador que decide que marionetes quer criar, escolhendo de entre 6 classes, podendo ainda dentro de cada uma escolher a versão masculina ou feminina, e para cada versão, escolher entre 3 aspetos possíveis. Para além desta dimensão de personalização da equipa, é possível escolher como é que as estatísticas das personagens irão evoluir à medida que estas vão subindo de nível, assim como certos pontos fortes e fracos das personagens, e ainda que habilidade deverão poder aplicar (tanto automaticamente, ou que tenha de ser ativada pelo jogador) logo à partida, de entre uma lista específica. Todos estes elementos permitem uma enorme quantidade de opções no momento da criação da equipa, o que torna a experiência de jogo única para cada jogador e adaptável ao seu estilo.

Quanto à apresentação dos labirintos, Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk satisfaz, mas não vai muito além do mínimo e do que temos visto em outros DRPGs. Já quanto às peças musicais que acompanham a nossa exploração, estas não são nada de espetacular, mas também não são esquecíveis ou irrelevantes: limitam-se a coadunar-se o melhor possível com a apresentação do próprio labirinto, distinguindo as várias masmorras (não irei entrar em detalhes, mas o labirinto que exploram não é sempre bem o mesmo, por assim dizer), o que faz de forma bastante sólida. Nenhuma das peças é extraordinária, mas poderão dar convosco a trautear uma das peças enquanto percorrem um cenário que parece uma representação visual da própria música que estão a escutar.

Opinião Final:

O género de jogos em que Labyrinth of Refrain: Coven of Dusk se insere é, não vale a pena negá-lo, de nicho, sendo muitas vezes difícil entrar no mesmo devido à complexidade e às peculiaridades dos vários títulos que lhe pertencem. Apesar de um arranque lento e repleto de tutoriais que pode levar ao término da experiência para alguns, Labyrinth of Refrain apresenta-se como um dos mais acessíveis títulos no género. Se gostam de séries como Etrian Odyssey, de certeza que se sentirão em casa com este jogo.

Do que gostamos:

  • Variadíssimas possibilidades de customizar a equipa;
  • Enredo intrigante, com destaque para a atenção dada às vozes das personagens;
  • Apresentação audiovisual competente;
  • Várias e várias horas de divertida exploração do labirinto.

Do que não gostamos: 

  • Início do jogo com ritmo extremamente lento;
  • Pode-se tornar facilmente repetitivo em sessões de jogo mais longas.

Nota: 8/10