
Lost Soul Aside é um action RPG desenvolvido pela Ultizero Games, publicado pela Sony, resultado de mais de uma década de desenvolvimento. O jogo foi originalmente idealizado por Yang Bing em 2014, cresceu de um projeto a solo para um estúdio mais robusto com apoio do China Hero Project e finalmente chegou em 29 de agosto de 2025 para PS5 e PC. A expectativa era enorme, tanto por causa do visual promissor dos trailers iniciais como pela promessa de um combate estilizado ao nível de franquias como Final Fantasy, Bayonetta ou Devil May Cry. O protagonista chama-se Kaser e ele parte numa jornada para salvar a irmã Louisa e a humanidade dos invasores dimensionais conhecidos como Voidrax, tendo como parceiro uma entidade chamada Arena, que se funde com ele para lhe emprestar poderes especiais e transformar-se em armas variadas conforme o combate exige. A premissa narrativa mistura fantasia com sofrimento, caos interdimensional e tentativas de instaurar esperança num mundo que vacila entre ruína e resiliência.
O combate em Lost Soul Aside é sem dúvida o aspeto mais ambicioso do jogo. Assim que se começa a jogar percebe-se que existe uma multiplicidade de armas disponíveis como espada, espada pesada, poleblade e foice, cada uma com tempo de resposta diferente, estilo de ataque distinto e combinações possíveis com as habilidades especiais de Arena, tanto ofensivas como de suporte. O sistema permite trocar de arma quase em tempo real e isso adiciona profundidade tática no meio das batalhas mais intensas. Os combos sentem-se fluidos assim que se dominam, especialmente quando se desbloqueiam as árvores de habilidades associadas, que oferecem upgrades de dano, cooldowns, buffs e especializações que permitem afinar o estilo de cada jogador. Os poderes de Arena surgem como habilidades que podem alterar a forma de abordar inimigos ou chefes, por exemplo habilidades de explosão ou manipulação de espaço, o que ajuda a quebrar a monotonia de andar sempre a golpear de forma parecida.
No entanto o jogo não é isento de falhas estruturais. A curva de progressão nas primeiras horas é um pouco lenta, no sentido em que muitos dos truques mais interessantes só aparecem depois de bastante tempo. Armas mais espetaculares continuam bloqueadas, mobilidade extra demora a destravar e isso pode tornar os primeiros capítulos desiguais, com inimigos mais simples a dominarem, o que contrasta com chefes que testam bastante o jogador, exigindo reflexos, leitura de ataques adversários e esquivas precisas.

Visualmente Lost Soul Aside mostra força. Os ambientes são variados e frequentemente bonitos, com cenários que saltam entre ruínas devastadas, paisagens interdimensionais e áreas mais místicas, alternando luz e escuridão com um senso estético assente em contraste forte, bom uso de partículas, efeitos de luz e reflexos que realçam aliados e inimigos de formas dramáticas. O design de inimigos conquista pela criatividade visual, especialmente nas instâncias de Voidrax que se fundem com energia corrupta, elementos biológicos estranhamente modificados e criaturas com transições visuais interessantes. As animações das armas e os momentos em que Arena se transforma são visualmente satisfatórios, embora por vezes certas transições pareçam abruptas ou rígidas, especialmente em cutscenes ou em sequências de plataformas, onde falta suavidade ou onde a colisão de modelos denuncia texturas ou comportamentos pouco afinados.
Quanto à performance na PS5, o jogo entrega em muitos momentos aquilo que promete: cenas de combate fluidas, efeitos vistosos e uso competente do hardware, mantendo-se geralmente a 60 fps. Mas surgem quebras de framerate em cenários mais sobrecarregados, especialmente em mapas com muitos efeitos visuais, partículas ou inúmeros inimigos em simultâneo. Há também relatos de input lag ou animações que parecem menos responsivas em certas transições, o que pode frustrar jogadores que valorizam precisão. O patch pós-lançamento que a Ultizero lançou promete melhorias visuais, otimizações de performance, possibilidade de saltar cutscenes e diálogos, e rebalanceamento de chefes, o que mostra que o estúdio está consciente das críticas e tenta corresponder.
A ambientação sonora de Lost Soul Aside merece aplausos em vários momentos. A banda sonora tem temas épicos, melodias que combinam instrumentos orquestrais com sons eletrónicos, produção que sabe quando recuar para deixar o ambiente respirar e quando intensificar para sublinhar momentos de combate ou confrontos com chefes. Os efeitos sonoros são convincentes em armas, explosões, invocações de poderes de Arena e no ambiente, com sons do vento ou da destruição ambiental que ajudam a reforçar a sensação de perigo constante. As vozes no entanto são mais irregulares. Embora alguns momentos de atuação impressionem, outros diálogos têm direção de voz menos convincente, ritmo narrativo que por vezes aumenta demais cenas de exposição e alongamentos de cenário, cujos scripts e cenas cinematográficas revelam clichés do género e personagens com desenvolvimento pouco profundo ou previsível.

O mundo de Lost Soul Aside é semi linear. Existem algumas áreas abertas onde se pode explorar, coletar itens, enfrentar inimigos secundários, buscar missões adicionais ou side quests moderadas, mas grande parte da progressão é feita através de corredores e zonas mais dirigidas, com checkpoints regulares e um sistema manual de salvamento em pontos específicos. Algumas zonas opcionais funcionam bem, oferecem desafios extra e recompensas visuais ou de equipamento interessantes, mas o explorador mais exigente poderá sentir que o mundo poderia ter sido projetado com maior liberdade ou diversidade de ambientes. A estrutura de mundo favorece história e combate, movendo o jogador de ponto a ponto, mas peca por momentos onde a exploração se sente como um adorno, pouco recompensado, ou com pouco incentivo para revisitar certas áreas fora do enredo principal.
Em termos de usabilidade, o interface do jogo é limpa, menus suficientemente claros mas nem sempre intuitivos. A gestão de habilidades, upgrades, equipamentos ou personalização de armas funciona bem, embora o excesso de submenus ou opções possa confundir quem entra pela primeira vez no género. A câmara cumpre o essencial, só que em cenas de movimentos rápidos ou em saltos precisos pode oscilar ou dificultar a percepção de plataforma ou ataque, levando a alguma frustração. O sistema de checkpoints é generoso em alguns momentos, menos em outros, especialmente em bosses grandes com fases múltiplas, onde morrer leva a repetição de segmentos que já foram dominados mas que se tornam cansativos.

O fator replay está presente, sobretudo nas quests de desafio ou modo pós história, com arenas especiais, chefes secretos ou fragmentos especiais que incentivam a revisitar equipas ou builds diferentes. Os upgrades e armações de habilidades permitem experimentar estilos de jogo variados, desde quem prefere maximizar dano com combos agressivos até abordagens mais defensivas ou técnicas com buffs ou ataques de área. Ainda assim a longevidade total pode ficar aquém das expectativas de quem procura narrativa profunda ou mundo expansivo, pois mesmo com promessas a repetição de inimigos secundários ou tipos visuais pode pesar.
Opinião Final:
Lost Soul Aside é um título que cumpre grande parte do que promete quando deixamos de lado expectativas excessivas. O combate é entusiasmante, visualmente impressionante em muitos momentos e há energia e estilo suficientes para capturar a admiração de fãs de ação de combo veloz. Por outro lado quem valoriza narrativa sólida, mundo altamente detalhado e mecânica sem imperfeições poderá sentir algumas deficiências ou ver o título como algo prometido como grandioso, mas que apenas atinge parcialmente. Se aceitares os defeitos, especialmente técnicos, vais encontrar um jogo divertido, ambicioso, com momentos memoráveis e uma base sólida para melhorias futuras.
Do que gostamos:
- Visuais variados e cenários épicos com efeitos dramáticos;
- Combate versátil com boas combinações de armas e poderes de Arena;
- Trilha sonora atmosférica e efeitos sonoros intensos;
- Diversidade de estilos de jogo possibilitada pelas árvores de habilidades.
Do que não gostamos:
- Narrativa fraca e personagens pouco carismáticos;
- Performance irregular em cenários complexos;
- Interface com menus menos intuitivos.
Nota: 7,5/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.