Marvel’s Spider-Man – Análise

 

Num momento em que cada vez mais filmes, séries e animações de heróis estão a ser produzidos, Marvel’s Spider-Man, que foi anunciado durante a E3 2016, tem como objetivo trazer  uma das personagens mais adoradas pelos fãs da Marvel de volta aos seus momentos de glória, depois de alguns jogos que ficaram muito abaixo daquilo que a personagem merece. Mas será que a Insomniac Games é a equipa adequada para levar este navio a bom porto?

Marvel’s Spider-Man não vai buscar inspirações ao MCU (Marvel Cinematic Universe) para construir a sua narrativa. Na verdade, esta foi escrita com base numa combinação entre elementos originais e situações pontuais que os fãs de longa data das bandas desenhadas vão claramente reconhecer. Esta combinação, por um lado, é positiva, já que uma grande parte dos jogadores tiveram o seu primeiro contacto com o universo do herói através dos filmes, e por isso vão ficar surpreendidos com grande parte dos acontecimentos, mas por outro é negativa, pois os leitores das BDs vão se sentir em casa, mas a surpresa já não será tanta.

O jogo já nos apresenta um Peter Parker experiente como herói da Terra 616 (o universo original da personagem), ignorando toda a história da origem do herói, que já foi exaustivamente explorada em diversos meios ao longo dos últimos anos. Nos primeiros segundos de jogo, Marvel’s Spider-Man coloca o jogador logo no centro da ação com o jovem herói a receber um alerta da polícia (com quem tem uma relação próxima graças à detetive Yuri Watanabe) avisando de que algo está a acontecer nas Torres Fisk. Aqui já acontece uma primeira surpresa para alguns, já que não vemos o herói com o fato apresentado em diversos trailers, no qual é visível uma aranha branca. Ao invés disso, o fato que usamos é mais próximo do original da personagem. Estes pequenos detalhes do fato e a sua alteração têm uma razão de ser, e correspondem até a uma das principais surpresas do jogo.

O Homem-Aranha está pronto para fazer até o impossível para proteger Nova Iorque

A personalidade característica da personagem, sempre com bom humor e comentários engraçados em situações específicas, também está presente, com inúmeros momentos onde Spider-Man faz comentários cheios de bom humor sobre praticamente tudo, incluindo, apesar de não ter ligação direta com o MCU, algumas piadas que a personagem não deixa escapar, como, por exemplo, sobre a possível origem dos poderes do Pantera Negra.

A história do jogo será apresentada ao jogador de diversas maneiras. A primeira e mais simples é através da missão principal, onde vamos ter de lidar com diversos desafios como Homem-Aranha, desde derrotar vilões clássicos a sincronizar torres de rádio ao estilo de Batman: Arkham. Sincronizar as torres de rádio permite desbloquear regiões do mapa e pontos de interesse, incluindo as mochilas que o herói espalhou em pontos estratégicos da cidade quando ainda estava no liceu. Estas mochilas, para além de serem importantes para a evolução dentro do jogo, também são importantes para entender mais sobre os acontecimentos que precederam a história de Marvel’s Spider-Man, já que dentro dessas mochilas estão itens que marcaram de alguma maneira a personagem. O primeiro lança-teias criado por Peter Parker, com o próprio a comentar que desde então o seu lança-teias já sofreu algumas modificações (apesar de, no essencial, ser o mesmo) é apenas um exemplo do que poderão encontrar nas mesmas.

O primeiro lança-teias criado por Peter Parker é apenas um dos muitos itens que podem ser encontrados nas mochilas espalhadas pelo mapa

Outro exemplo de conteúdo secundário, mas com influência no gameplay, é de que apesar de não trabalhar no Daily Bugle, a paixão de Peter Parker por fotografia mantém-se, com o jogador a ter uma opção, em determinado momento do jogo, de tirar fotografias de marcos importantes da cidade.

Essas e outras atividades, ao serem concluídas, vão desbloquear fichas específicas, que poderão ser utilizadas para desbloquear novos fatos para o Homem-Aranha, modificações para esses fatos, dispositivos e até melhoramentos para esses dispositivos, como aumento no número de cargas ou melhoria no tempo de recarregamento.

O jogo também traz uma árvore da habilidades, dividida em três partes: Inovador, que é mais focado em habilidades ofensivas e de neutralizar inimigos; Defensor, que como o próprio nome indica é mais focado em habilidades defensivas e de esquiva; e, por último, Atirador de Teias, que tem como foco habilidades gerais e que ampliam ainda mais as habilidades de movimentação.

Por falar em movimentação, esse é outro grande destaque em Marvel’s Spider-Man. A Insomniac Games quis dar de novo uma boa experiência ao jogadores que experimentaram os primeiros jogos da personagem na época da PSOne, bem como trazer aos novos jogadores uma experiência totalmente livre, com o Homem-Aranha a ter total liberdade para explorar toda a cidade e balançar-se com as suas teias por entre os prédios, numa experiência que por si só já vale completamente o investimento neste jogo. A fluidez dos movimentos está realmente impressionante. Com o avançar do jogo e com o cada vez melhor domínio dessa movimentação, o jogador conseguirá facilmente fazer acrobacias e mudar de direção com grande facilidade enquanto está no ar.

Ao sincronizar as Torres de Vigilância, é possível desbloquear vários conteúdos dentro do mapa do jogo, incluindo o sinal de radio da policia.

Essa movimentação mais livre e fluida, também é bem percetível durante os combates, que seguem o estilo de Batman: Arkham, com diversos inimigos a cercarem o herói, cabendo ao jogador combinar movimentações de ataque e de desvio para os vencer. No caso do Homem-Aranha, o Sentido Aranha que aparece em cima da cabeça da personagem é o responsável por indicar ao jogador o momento certo em que se deve esquivar e contra-atacar. Cada ataque e desvio bem-sucedidos irão aumentar a barra de foco, que, ao ser totalmente preenchida, permitirá ao jogador executar um movimento de finalização que neutraliza totalmente o inimigo. O jogador também poderá utilizar, durante os combates, os dispositivos referidos em cima, que podem neutralizar totalmente alguns inimigos, enquanto outros apenas serão neutralizados temporariamente ou podem mesmo nem ser afetados por aquele dispositivo, como é o caso de inimigos com escudo que não são afetados pelos disparos do Lança-Teias. O jogador também poderá utilizar o próprio ambiente contra os inimigos, sendo possível, ao apertar os botões L1+R1, apanhar certos objetos e arremessá-los contra os mesmos. Esses objetos podem, no entanto, deixar os inimigos atordoados mesmo sem causar dano em cadeia.

Apesar desta movimentação de combate estar excecional, é aconselhável que o jogador não se deixe cercar por muitos inimigos, já que o desvio pode não funcionar sempre da maneira esperada quando várias personagem estão a atacar ao mesmo tempo. Também foi possível notar durante o nosso gameplay que na primeira luta do jogo, contra Wilson Fisk, nem sempre o Homem-Aranha se conseguiu esquivar do ataque de placagem da personagem. Porém, nada que tenha comprometido totalmente o combate, que se mostrou até bem acessível enquanto nos leva a explorar diversas áreas das Torres Fisk.

Mary Jane Watson é apenas uma das muitas personagens do universo do Homem-Aranha que estão presentes no jogo, que ainda reserva algumas presenças surpresa.

Por falar em personagens presentes no jogo, os jogadores podem esperar uma grande variedade de figuras bem conhecidas do universo do Homem-Aranha, como o próprio Wilson Fisk, Volture, Rhino, Mary Jane Watson, Martin Li/Mister Negative, John Jonah Jameson (que irá marcar presença frequentemente na aventura através do seu programa de rádio) e até personagens que não apareceram nos trailers divulgados até ao momento e que terão influência direta no desenrolar do jogo.

Graficamente, Marvel’s Spider-Man não deixa a desejar em nada, com cada região da cidade de Nova Iorque a ser reproduzida na perfeição, incluindo alguns edifícios icónicos como o Empire State Building, Manhattan Bridge, Madison Square Garden e até o edifício das Nações Unidas. O visual das personagens também não deixa a desejar, com algumas a estar reproduzidas com grande fidelidade, enquanto que em outros casos a Insomniac Games decidiu exercer alguma liberdade criativa, que dificilmente causará uma reação negativa, quer por parte dos fãs de longa data, quer por parte dos recém-chegados.

Apesar desta ser uma história 100% focada em Peter Parker e no seu alter-ego, o Homem-Aranha, (e por isso a participação de outros heróis da Marvel não se justificar), o jogo deixa claro que decorre dentro do mesmo universo de outros heróis muito conhecidos, sendo possível identificar a Torre dos Vingadores, o Sanctum Sanctorum e até a Rand Corporation.

Em relação à sua longevidade, e como já tinha sido anunciado pela própria Insomniac Games, caso o jogador se decida focar exclusivamente nas missões principais, o jogo deverá ter uma duração média de 20 horas. No entanto, é altamente aconselhável que o jogador explore ao máximo cada ponto da cidade, faça as missões secundárias e participe nas várias atividades disponíveis. Estas vão não apenas ampliar a longevidade do jogo, mas também ampliar a própria imersão do jogador dentro do universo criado pelo estúdio, além de permitir ao jogador evoluir ainda mais a personagem, com novos dispositivos e fatos.

Marvel’s Spider-Man traz legendas e áudio em português de Portugal, e é mais um grande título em que a PlayStation Portugal fez um ótimo trabalho, sendo de ressalvar a grande qualidade da dobragem, que consegue manter intactas a essência e personalidade das personagens. Para além de que é sempre realmente um prazer jogar com áudio na língua materna. Infelizmente, para aqueles que até gostam de ter as legendas em português, mas preferem o áudio original, não existe essa opção, sendo ambos definidos automaticamente com base no idioma da vossa PlayStation 4.

Opinião Final:

Em resumo, Marvel’s Spider-Man é, sem dúvida alguma, um jogo obrigatório para todos os fãs da Marvel…e não só! Todos os fãs de heróis como um todo deveriam ter oportunidade de o jogar, sendo uma adaptação perfeita do universo de um dos heróis mais adorados e conhecidos por todos. Com este jogo, a Insomniac não se limitou apenas a trazer de volta a essência da personagem e do seu universo, mas devolveu a Peter Parker toda a sua liberdade e interação natural com o universo Marvel. Para aqueles que de início duvidavam que esta equipa poderia desenvolver um jogo de qualidade do herói, o produto final sem dúvida alguma deu uma resposta bem clara de que este estúdio é completamente capaz de unir numa narrativa original vários elementos já estabelecidos da banda desenhada, e assim desenvolver um jogo que tanto na sua narrativa, jogabilidade e gráficos consegue, na perfeição, oi fazer qualquer jogador que seja minimamente fã do género e de super-heróis agradecer por ser possível experienciar um jogo com tanta qualidade e atenção aos detalhes.

Há que se destacar também que estamos num momento em que, cada vez mais, empresas em diversas áreas do entretenimento acabam por, no desespero, querer atrair mais público ao divulgar demasiada informação sobre os seus produtos, por vezes estragando assim a experiência ao mesmo quando o produto é lançado. Mesmo assim, Insomniac Games e a Sony conseguiram manter fora da vista dos mais curiosos praticamente todos os grandes momentos e segredos do jogo. Por isso, fizemos questão de não aprofundar muito nos detalhes da narrativa e nos elementos fulcrais do gameplay. Mas acreditem, estes estão fantásticos.

Do que gostamos:

  • História que combina elementos originais, com acontecimentos das BDs;
  • Grande variedade de personagens do universo do Homem-Aranha;
  • Missões secundárias e atividades não se limitam apenas a aumentar a longevidade, mas também incluem conteúdo narrativo;
  • Grande qualidade na dobragem para português de Portugal;
  • Movimentação extremamente fluida e que beneficia tanto a exploração, como os combates;
  • Uma boa variedade de fatos e dispositivos;
  • Apesar de existirem referências e edificações, o jogo não se apoia no sucesso do MCU.

Do que não gostamos: 

  • Nem sempre o desvio ocorre da maneira esperada com alguns inimigos;
  • Infelizmente para aqueles que preferem o áudio original, o jogo não conta com opção de apenas terem as legendas em português;
  • Apesar de facilmente o tempo ser ampliado com outras atividades, a longevidade, caso o jogador se restrinja apenas à história, é relativamente curta.

Nota: 9,5/10

Jogo analisado através de uma copia gentilmente cedida pela PlayStation Portugal