Minecraft Dungeons – Análise

Ao mencionar o nome Minecraft hoje em dia ninguém fica indiferente. Lançado originalmente em 2009 como um projeto e depois oficialmente em 2011 para computadores, é, pura e simplesmente, o jogo mais vendido de sempre e hoje em dia um dos mais jogados, com mais de 120 milhões de jogadores ativos todos os meses. O estúdio responsável por este fenómeno é a Mojang Sudios que acabou por ser adquirida pela Microsoft no ano de 2014. Uma estratégia que muitos acharam de má escolha pois também muitos diziam que o jogo já tinha dado o que tinha a dar. Os anos vieram a provar o contrário, o que se constata pelos números mencionados no início deste parágrafo. Ora, passados 6 anos, e após alguns spin-offs, tais Minecraft Story Mode, e Minecraft Earth, eis que chega um novo membro da família intitulado de Minecraft Dungeons. Será que tem o necessário para continuar o legado e suportar o peso do seu nome?

Minecraft Dungeons é um RPG de ação pedindo um pouco “emprestados” a perspetiva isométrica e combate de séries como Diablo. De fora estão quaisquer opções de materiais de construção ou modos criativos. Temos aqui um jogo baseado no já conhecido mundo virtual repleto de blocos e com novos visuais e técnicas visuais e físicas. Aquilo que nos resta gerir aqui são os itens que vamos apanhando ao longo da nossa aventura, a solo ou com até quatro amigos, online ou offline. O estilo típico do jogo original mantém-se imaculadamente representado com quase todos os níveis de Dungeons representando uma das ambientações já conhecidas por milhões de jogadores, tais como os desertos, as montanhas com árvores e cascatas, zonas de cogumelos e, claro, minas de “Redstone”, entre muitas outras.

Obviamente já deu para entender que quem olha para o jogo facilmente consegue identificar como pertencente à família Minecraft. Os inimigos, começando pelos zombies básicos, são igualmente todos muito reconhecíveis por qualquer pessoa que conheça minimamente o jogo original. Porém, as equipas responsáveis por Minecraft Dungeons não se limitaram a pegar nos blocos, construir vários níveis colocando-os lá, e pronto. A estes juntam-se efeitos visuais esplêndidos, como efeitos de luz e sombras muito bem conseguidos e ambientações atmosféricas. Não se trata de uma maravilha gráfica, temos de o admitir, mas temos ao mesmo tempo de reconhecer a qualidade aqui bem exprimida e melhorada através dos famosos blocos, agora apresentados sob uma nova perspetiva.

Sendo uma aventura em si, o enredo conta-nos uma estória sobre um aldeão perdido chamado Archie, que chega a uma aldeia e é escorraçado pelos seus habitantes por algum motivo que não chega a ser bem explicado. Então, abandonado, o rapazote segue pelo seu próprio rumo até encontrar um tesouro corrompido (Orbe da Dominação) e que lhe dá poderes do mal. Prontamente, este auto-intitulado Arch-Illager recruta milhares de Illagers para atacar todas as aldeias e exercer a sua vingança. O nosso trabalho como herói é de o perseguir e de o parar antes que destrua tudo, para sempre. Nada de transcendente, como é óbvio, no entanto a Mojang sempre afirmou que o básico deste jogo seria a sua jogabilidade, não a estória. E consegue-o em muitos aspetos.

Como já mencionado, o jogo desenrola-se de forma muito reminiscente a Diablo. Controlamos o nosso herói à medida que avançamos pelos vários mapas disponíveis desbloqueando os seguintes, e alguns segredos pelo caminho, defrontando os Illagers maus enviados pelo Arch-Illager. Temos o ataque básico desferido pela arma que temos equipada, um botão de ataque à distância (normalmente com arco e flecha ou bestas) e 3 espaços para artefactos que podem conter habilidades com as mais variadas funções: desde curativas a ofensivas, passando por convocar animais para nos ajudar em combate. Parece simples de início, porém em breve estaremos a escolher as armas ou artefactos que melhor se parecem adequar ao nosso estilo de jogo.

De fora ficaram a típica escolha de classes de guerreiros ou magos muito associada a este género de jogos. A nossa classe fazêmo-la nós próprios com a escolha de arma, artefacto ou até armadura. O que é mais curioso é que também podemos fazer misturas. Podemos ter uma personagem com uma  espada, mas com recursos mágicos de ataque ou cura, por exemplo. Ou então equipado com umas vestimentas de feiticeiro com propriedades mágicas e com artefactos para sugar as almas dos nossos inimigos. Ou ter um cão ou um lama como animal de estimação que nos ajuda a combater os inimigos. As possibilidades são imensas e a Mojang acertou em cheio dando a liberdade de escolha aos jogadores.

Os mapas podem ser completados em cerca de 15 a 20 minutos cada um, dependendo também da dificuldade escolhida. O jogo base pode assim ser terminado com uma certa rapidez, em cerca de 4 horas. No entanto, e tal como outros jogos deste género, Minecraft Dungeons torna-se mais expansivo assim que o terminamos. Mais escolhas de dificuldade implicam mais perigos, mais tempo necessário para terminar os níveis, mais inimigos ainda mais perigosos e munidos com novas técnicas para nos parar, mas também… mais recompensas poderosas e tentadoras para os jogadores ganharem. Engane-se quem jogar os primeiros 3 ou 4 mapas na dificuldade básica e pensar que o jogo é demasiado fácil e apontado para os mais novos. A velha máxima de “fácil de aprender, difícil de dominar” aplica-se aqui muito bem. Apesar de, novamente, ainda nas primeiras dificuldades às vezes conseguirmos “contornar” com alguma facilidade muitos inimigos e até bosses.

Em termos de progresso, temos algo relativamente simples mas com alguma curiosidade: sempre que se sobe de nível ganhamos um encantamento. Os encantamentos servem para melhorar as armas ou armaduras com habilidades ou outras melhorias específicas, conferindo-nos assim certas vantagens em combate. Entre estes melhoramentos podemos ter algo de básico como disferir um dano maior ou termos mais velocidade de ataque numa arma ou, e esta tornou-se uma das minha favoritas, uma bola de neve que é atirada a cada espaço de segundos da nossa armadura e que atordoa os inimigos. Cada item pode ter até 3 encantamentos, tendo os itens comuns apenas espaço para um encantamento, e os mais avançados três. Ao escolhermos o item para encantar são-nos dadas algumas escolhas, pelo que nem sempre temos à nossa disposição o que queremos. Ao encontrarmos um item que queremos usar podemos “desencantar” o que já temos, recuperando assim os encantamentos usados e algumas jóias para aplicar ao novo item.

Há também que mencionar a escolha de inserir loot boxes no jogo. Ao invés de uma simples loja, o que temos ao voltar para o nosso acampamento são 2 barracas onde podemos gastar jóias ganhas durante o jogo para ganhar uma arma, armadura ou artefacto aleatórios. Tal é especialmente irritante quando estamos à procura de algo mais específico e acaba por se tornar um pouco injusta a forma como gastamos as nossas jóias ganhas com suor e lágrimas em algo que muitas vezes acaba por não ser o que queremos. Espero que no futuro a Mojang desenvolva melhor este sistema e crie uma loja mais completa de equipamentos para podermos escolher e comprar como quisermos, pois aqui sentimos que o nosso trabalho não está a ser recompensado da melhor forma.

Outra situação menos positiva, e apesar do jogo ser fantástico com amigos, é a impossibilidade de nos podermos juntar a um jogo já a decorrer. Seja quando o amigo está já em batalha, seja quando está mesmo no acampamento, o que não faz sentido algum pois o jogador principal tem de voltar ao menu inicial do jogo e só aí é que se podem juntar os outros jogadores. Porque não um “pressiona start para te juntares” como no Minecraft original? Estar no meio de um nível épico a ganhar coisas boas e ter de fazer as pessoas esperar ou sair para o acampamento e depois para o menu do jogo para se juntarem é algo muito estranho nos dias que correm. A impossibilidade de poder partilhar itens também desilude um pouco. Tendo dito isto, ao entrar com amigos e aventurar-se pelos mundos repletos de blocos cheios de cor é algo de fantástico e divertido.

A nível sonoro, acho que nunca ouvi tantos grunhidos de zombies como agora! Os efeitos sonoros são os esperados e acompanham bem a ação enquanto que a banda sonora, essa sim, se destaca com músicas muito bonitas e que aumentam a adrenalina quando a ação está mais épica ou perigosa. Um exemplo disso são as lutas contra os bosses ou quando encontramos algum inimigo mais poderoso do que o normal. Uma pequena descrição de cada nível é nos relatada por uma voz feminina juntamente com algumas palavras de encorajamento para os perigos vindouros.

Há que louvar aqui a Mojang por uma certa semi-aleatoriedade conferida ao jogo. Por vezes podemos dizer que os níveis são os mesmos, e em boa parte são. Mas também podemos de repente ter a sensação de que estamos a jogar outro nível com o mesmo ambiente. Isto porque realmente acontece. Como melhor exemplo posso mencionar que já terminei o jogo e ontem encontrei os meus dois filhos a jogar no nível do templo do deserto a defrontar um boss que nunca tinha visto antes. Por isso acabei por concluir que realmente a cada vez que entramos nos níveis há coisas que podemos encontrar pela primeira vez que nunca tínhamos visto antes.

Como já havia mencionado, podemos jogar a sós, mas nunca é tão épico e divertido como jogar com amigos, off ou online. Por enquanto só podemos jogar com pessoas no mesmo sistema, mas já sabemos que a Mojang está a prometer para o futuro cross-play entre PC, Xbox One, PS4 e Nintendo Switch, o que é maravilhoso. Devo mencionar também que joguei o jogo na Xbox One S e na Xbox One X. A performance nas duas consolas foi muito semelhante, com visuais ligeiramente mais nítidos  (muito pouca diferença) na X e também com mais suavidade. Por vezes na S notei algumas paragens ou congelamentos esporádicos muito breves, mas que não arruinaram a jogabilidade.

Digno de mencionar também é a pouca interatividade entre as personagens e o cenário. Num jogo conhecido por podermos fazer o queremos ou construir ou destruir tudo à nossa mercê, torna-se um pouco desapontante estarmos a nos aventurar pelos mapas tão bonitos e atmosféricos e quase não poder interagir com nada. Um exemplo disso é um certo nível que tem velas no chão e ao passar pelas velas não acontece nada, não as derrubamos, nada. Nem os creepers, os infames inimigos verdes e explosivos, fazem sequer uma marca no lugar onde explodem. Compreendo que isso poderia causar muitos problemas a nível de progredir em muitos níveis, pois alguns têm pontes e passagens estreitas mas nem que fosse em alguns dos mais pequenos objetos poderia haver alguma interação como serem derrubados ou movidos. Sinto que se perde ligeiramente, desta forma, alguma imersão.

Opinião Final:

Estamos aqui perante uma aposta acertada. Este é um jogo de que eu não sabia que precisava e superou as minhas expetativas. Toda a liberdade que é dada ao jogador ao nível de escolher o que quer usar e moldar ao estilo de jogo que precisa está muito bem conseguido. A jogabilidade está um mimo e poder enfrentar hordas de Illagers com mais dois ou três amigos é a cereja no topo do bolo. Garantida está a longevidade com a possibilidade de poder repetir os níveis em dificuldades superiores e a possibilidade de obter itens cada vez melhores. Também já estão planeados, por enquanto, 2 futuros DLC e a possibilidade de jogar com amigos em outras plataformas com o cross-play. Restam apenas alguns pontos a melhorar, por exemplo o facto de, para nos juntarmos a amigos, sermos obrigados a estar no menu principal,  ou o facto de as “lojas” de itens dentro do jogo não nos deixarem escolher o que comprar, obrigando-nos a cruzar os dedos e esperar que nos calhe algo bom. De resto, Minecraft Dungeons é um jogo de aventura fantástico, viciante e muito divertido que acaba por ser uma das boas surpresas deste ano até ao momento e uma boa adição à coleção de qualquer amante de RPGs de ação.

Do que gostamos:

  • É Minecraft, mas diferente;
  • Ao estilo Diablo, mas mais simplificado;
  • Muitas aventuras divertidas a solo ou com até mais 3 amigos, offline ou online;
  • Estilo visual soberbo com bom uso de luz e sombras.

Do que não gostamos:

  • Falta muita interatividade nos níveis;
  • Para alguns pode ser simples demais;
  • Juntar-se aos amigos deveria ser muito mais simples e rápido;
  • Sistema de loot boxes na loja do jogo.

Nota: 8/10