Monster Hunter Rise – Análise

Algumas franquias evoluem num sentido de abertura, de expansão, permitindo a entrada de jogadores desconhecidos à série. Acompanhando as evoluções tecnológicas, algumas franquias tomam partido de melhorias gráficas para tornar os seus mundos mais fluidos e detalhados. A famosa franquia da Capcom que nos permite encarnar um caçador de monstros não é exceção a nenhum destes padrões. Com o lançamento de Monster Hunter World em 2017, Monster Hunter fez mais e melhor, trazendo consigo a melhor experiência na série até à data. Com a sua acessibilidade para os novos jogadores e refinamento das convenções da série para os veteranos, revolucionou a forma como jogávamos Monster Hunter. No entanto, trazia consigo um ligeiro senão, isto é, não seria possível correr o mesmo na consola híbrida da Nintendo, dado as limitações de hardware da mesma. Os jogadores Nintendo ficaram assim restringidos a Monster Hunter Generations Ultimate para a Switch, também lançado em 2017 (no Japão, e em 2018 no resto do mundo)?

Podemos finalmente dizer que não! Pois com a chegada do mês de março de 2021, a Nintendo Switch entra na nova geração de caça de monstros com Monster Hunter Rise. Adotando muitas das novidades trazidas por Monster Hunter World, e criado de raiz para a Nintendo Switch utilizando o RE Engine, a máquina gráfica por detrás de Resident Evil (7) e Resident Evil Village (8), Monster Hunter Rise posicionou-se rapidamente como um dos melhores títulos da franquia – talvez o melhor título da mesma.

A aldeia de Kamura é o nosso hub para esta próxima aventura.

A narrativa de Monster Hunter Rise volta às origens com um twist. Já não fazemos parte de um grupo de investigação ou de uma comitiva de exploração num mundo novo: voltamos a ser um mero caçador numa aldeia tradicional – Kamura, muito ao estilo japonês – e o nosso objetivo é impedir um evento que acontece a cada 50 anos chamado de “Rampage”. Neste evento, um conjunto de monstros liderado pelo monstro Magnamalo, que fica enraivecido e ataca a aldeia. Na superfície, a estória de Monster Hunter Rise parece simples, mas eventualmente descobrimos o segredo sobre a origem da “Rampage”, tendo de a impedir. Encarnando o caçador mais recente da aldeia, temos de nos preparar para as várias batalhas com os monstros, dominar a nossa arma de seleção e melhorar o nosso equipamento – o viciante ciclo já conhecido de Monster Hunter.

A partir deste ponto, Monster Hunter Rise volta ao que já estamos habituados nesta franquia. O objetivo é caçar monstros, obter partes destes monstros e criar melhor equipamento, o qual será essencial para caçar monstros mais poderosos. No entanto, bastantes das novidades trazidas por Monster Hunter World são incorporadas em Rise e é nesse aspeto que o jogo brilha na Nintendo Switch. Assim, a reavaliação das bases da série com vista naquilo que deveria ser o seu futuro, e que em muito mudou Monster Hunter World, agracia desta vez a Nintendo Switch, levando as coisas um pouco mais longe. Para trás ficou a mecânica de zonas do mapa de expedição, sendo este constituído em formato open world, com os vários lugares interligados sem que seja necessário ter ecrãs de loading entre zonas. Claro que há vários mapas, mas estes, que antigamente eram compostos por várias zonas, são agora o seu próprio mundo vivo e conexo. Também a gestão dos aspetos secundários da aventura vem diretamente de Monster Hunter World: o crafting de poções é feito automaticamente, assim como a utilização de insetos ou animais que automaticamente aumentam a nossa vida/força/defesa ou então adicionam itens ao nosso inventário. De igual forma, pescar, minar veios de minério ou amolar a nossa espada correspondem a ações de utilização ilimitada. Estas melhorias vieram para ficar e já não imaginamos jogar qualquer Monster Hunter sem as mesmas.

No entanto, algumas das características clássicas de Monster Hunter também regressam em Rise. A ligação a um lobby permanente desaparece e voltamos à separação clássica entre a aldeia e o hub para progressão singleplayer e multiplayer, respetivamente. Nestas podemos fazer quests principais e secundárias, sendo que as últimas permitem-nos adquirir novos designs para criar equipamento diferente (e melhor) com que podemos melhorar a nossa personagem e os seus amigos.

Uma das grandes novidades é a possibilidade de montar os nossos novos amigos Palamutes!

Nem todas as características de Rise provêm dos jogos anteriores da série. Pela primeira vez na franquia, temos o Wiredash e os ataques Silkbind através da utilização de uns insetos chamados Wirebug que os caçadores de Kamura domesticaram e utilizam no seu dia a dia. Com estes é possível viajar verticalmente, muito ao estilo de Spider-Man. O sentimento de jogar Monster Hunter fica radicalmente diferente, agora que todo o mapa fica aberto à exploração através da utilização do Wiredash. É ainda possível utilizar esta mecânica durante os combates, quer seja para escapar ao ataque de um monstro, quer para rapidamente voltarmos à carga após sermos atirados ao chão pelo mesmo – a técnica de Wirefall. Há quem entenda que esta mecânica quebra o risco de cair e ser posteriormente atacado, mas na nossa opinião, esta faz com que o combate se torne mais rápido e dinâmico. Finalmente, é possível atacar com Wirebugs através das técnicas Silkbind, que são próprias de cada arma e que dinamizam em muito os combates. A utilização destas criaturas faz-nos sentir um verdadeiro ninja durante as aventuras e igualmente já não conseguimos imaginar Monster Hunter sem Wirebugs.

Relativamente aos amigos, os buddies, para além dos já conhecidos Palico – os gatos que nos acompanham para todo o lado no modo singleplayerRise apresenta-nos os Palamutes – uma espécie de caninos adoráveis que podemos personalizar e equipar, que combatem ao nosso lado e que também servem de montadas para podermos atravessar o mapa mais rapidamente. Existe ainda um hub de buddies onde os podemos treinar e enviar em missões, quer para adquirir itens, quer para fazer com que os mesmos ganhem níveis. Tanto os Palicos, como os Palamutes podem ser equipados através da utilização de scraps, aparas de equipamento criadas ao forjar equipamento para a nossa personagem. Desta forma, também os nossos fieis companheiros de caça aproveitam quando criamos nova roupa ou armas. Existe ainda o Cohoot, um mocho que voa pelo mapa e nos mostra onde é que os monstros se encontram, mas que também pode lançar os pedidos de S.O.S., que regressam de Monster Hunter World, mas desta vez sem os flares. Estes ajudantes seguram ainda a câmara enquanto fazemos pose para tirar uma boa fotografia. Monster Hunter Rise traz tudo consigo no que concerne aos nossos melhores amigos animais. Tudo muito adorável.

Tal como em qualquer Monster Hunter, é necessário estudar o comportamento de cada monstro, os seus movimentos, características especiais e fraquezas. Também é possível aproveitar outros monstros pelo mapa para montar e atacar as nossas presas. Tal é bem mais simples do que fazemos parecer: basta saber aproveitar o momento em que outros monstros aparecem para os montar. Existem ainda os momentos de Rampage, em que ficamos encarregados de defender a aldeia através de um jogo de tower defense, algo que soa mais divertido do que é, dado que se torna rapidamente repetitivo. Também é ligeiramente frustrante ter de embarcar em quests de Rampage para avançar a estória, dado que algumas são obrigatórias.

Monster Hunter Rise leva o hardware da Switch até aos seus limites.

No que concerne à apresentação, Monster Hunter Rise é dos jogos mais impressionantes que alguma vez vimos na Switch. Sim, é verdade que a consola híbrida da Nintendo já tem uns aninhos e já começa a fazer falta uma iteração de meia-idade ou até mesmo uma consola de nova geração, mas a utilização do RE Engine leva a consola até aos seus limites, criando visuais de que simplesmente não estávamos à espera. Não chega à fidelidade gráfica de World, é certo, mas mesmo assim fica anos à frente das últimas versões de Monster Hunter na Switch. A aldeia de Kamura está lindamente desenhada e sentimos que estamos a viver numa aldeia japonesa. O detalhe dos edifícios está lindamente realizado e a inspiração no Japão medieval é visível em cada centímetro de Kamura.

No entanto, o ponto alto da apresentação de Rise é a sua banda sonora. Os temas são simplesmente brilhantes! A música da aldeia de Kamura faz-nos querer ficar na mesma só mais uns segundos para que o refrão acabe antes de seguirmos na nossa aventura. Os temas de combates contra os monstros, cuja inspiração advém de música tradicional japonesa, faz com que sintamos que os combates são uma bela dança até à morte. O tema de Mizutsune ganha um coro que faz com que o seu combate se torne ainda mais dramático. A banda sonora é simplesmente genial e isto está patente desde o primeiro momento em que iniciamos o jogo, sendo recebidos por uma bela canção no ecrã de título. Monster Hunter Rise apresenta a melhor banda sonora da série.

Opinião final:

Monster Hunter Rise poderá não ser a evolução desejada por muitos para a série, mas é uma excelente evolução dentro das limitações da Nintendo Switch. Trazendo consigo as melhores novidades do fabuloso Monster Hunter World e algumas novidades próprias, faz com que caçar monstros seja mais divertido do que nunca. É o jogo pelo qual as pessoas no Japão tiram dias de férias para ficar a jogar no dia de lançamento. Embora não seja tão graficamente impressionante como World e não obstante as quests de Rampage, que bem podiam ter sido deixadas na gaveta, Rise é um jogo fantástico e, na nossa opinião, um jogo obrigatório para quem tem uma Switch.

Do que gostamos:

  • Evolução das mecânicas de Monster Hunter World estão presentes em Monster Hunter Rise;
  • Novas mecânicas que utilizam os Wirebugs transformam a experiência de Monster Hunter;
  • Apresentação gráfica e sonora é simplesmente brilhante.

Do que não gostamos:

  • Missões de Rampage são desnecessárias e aborrecidas, pelo que podíamos bem ter passado sem as mesmas.

Nota: 9/10