Oddworld: Stranger’s Wrath HD – Análise

Oddworld: Stranger’s Wrath foi um título curioso que poderá ter passado despercebido a muitos, por conta do seu lançamento exclusivo para a Xbox original, em 2005. À semelhança de Munch’s Oddysee, Stranger’s Wrath adoptou novamente um motor 3D, mas ao contrário do seu antecessor, conseguiu criar uma experiência de jogo diferente, mas bem-sucedida no mundo de Oddworld, com uma identidade muito própria que o consegue diferenciar face aos títulos originais.

O jogo foi lançado em várias plataformas ao longo dos anos, tendo inclusive sido planeado um lançamento para a WiiU da sua versão melhorada em HD, a qual acabou por ficar pelo caminho. Finalmente, já em 2020, o jogo saiu para a Nintendo Switch – o primeiro de três jogos Oddworld que irão sair em parceria com a Microids e a Oddworld Inhabitants – e é a versão que aqui analisamos.

Em Stranger’s Wrath, os jogadores assumem o papel de um caçador de prémios chamado Stranger (desta não estavam à espera, certo?), num ambiente que, embora se situe no mundo de Oddworld, se assemelha e muito ao velho faroeste. Apesar das criaturas estranhas que populam este mundo, o ambiente de um típico western e até o design de Stranger evoca Clint Eastwood. É um jogo antigo, quinze anos já fazem mossa, e apesar de ser uma versão remastered, a idade é notória. À semelhança de um clássico western, existem algumas coisas que aparentam estar um pouco datadas, mas quando a experiência completa é boa, podem tornar-se secundárias.

Não há nada como atirar com bicheza aos nossos inimigos.

A jogabilidade alterna entre a primeira e a terceira pessoa, à medida que Stranger viaja por entre cidades e tenta capturar o máximo possível de foras-da-lei, bem como os seus chefes, de modo a juntar moolah suficiente (a moeda neste mundo) para pagar uma misteriosa cirurgia. É possível alterar a perspectiva a qualquer momento, carregando para baixo no analógico esquerdo. Apesar da conveniência de não estarmos presos a uma só perspectiva, é um pouco tosco a forma como o jogo associou esta acção a pressionar um analógico. Adicionalmente, na primeira pessoa é possível não só usar a nossa besta, bem como utilizar um ataque corpo a corpo. No entanto, este encontra-se atribuído ao movimento de pressionar no analógico direito. Duas acções que deveriam ser naturais e fluídas no decorrer do jogo tornam-se um pouco trapalhonas, face à atribuição das mesmas no esquema de controlos – que não é possível alterar.

A visão na terceira pessoa é ideal para explorar o mundo, permitindo-nos percorre-lo com maior facilidade e agilidade, saltando ou até fazendo um sprint, com Stranger a colocar-se nos quatro membros e a correr como o vento. Já a visão na primeira pessoa deverá ser sempre privilegiada quando se virem a braços com inimigos, quer seja para avaliarem o vosso próximo passo ao aproximarem-se de um grupo antipático ou simplesmente para começarem a disparar contra os vossos inimigos – quer isso signifique guerra aberta ou não.

Moolah, moolah, moolah!!!

É possível capturar os inimigos mortos ou vivos, mas, como seria de esperar, é muito mais recompensador se os apanharem vivos. Isto faz com que o jogo privilegie uma jogabilidade mais furtiva, de modo a que possam apanhar os inimigos de surpresa. Isto é ajudado pelas várias munições que podem utilizar na vossa besta, sendo que estas munições são bem peculiares pelo facto de que são animaizinhos vivos. A utilização de cada tipo de animal resulta em diferentes efeitos como, por exemplo, electrocutar e desorientar os vossos inimigos. Estes bichinhos estão espalhados pelo mundo, sempre em correria, pelo que podem ir apanhando alguns e ir trocando à medida que assim quiserem. A variedade dos efeitos dos bichinhos adiciona mais uma camada de variedade à jogabilidade e combate, apelando à criatividade do jogador.

No entanto, confesso que muitas das vezes deitava a cautela ao ar e ia à grande a dar cacetadas aos inimigos. Não é de todo a melhor opção, mas por vezes parecia ser a opção mais óbvia perante os cenários apresentados. Supostamente, é possível esconderem-se em vegetação alta (tendo um indicador que vos diz se estão hidden ou não), mas os inimigos quase sempre me detectavam mais tarde ou mais cedo, deitando por terra qualquer plano de fazer as coisas às escondidas. Apesar de a furtividade ser uma opção, nunca pareceu ser a opção, sendo uma mecânica que poderia ser completamente retirada (caso estivéssemos a falar de um remake) e que não faria muita falta. Ainda assim, não é detrimental à experiência, mantendo-se esta extremamente divertida.

Os bosses são um mimo absoluto, com imensa variedade entre encontros, tornando cada um extremamente memorável não só pelas mecânicas e desafios apresentados, mas também pelas personagens em si. Afinal, estamos a falar de Oddworld e a personalidade deste mundo é notório em tudo no jogo. É ainda de destacar que nesta versão foi adicionada a possibilidade de utilizar os controlos com o giroscópio da Switch, podendo ser uma ajuda quando estiverem na primeira pessoa – apesar de também poderem ser utilizados na terceira pessoa. No entanto, esta mecânica é totalmente opcional, pelo que nunca são obrigados a jogar desta forma.

“Eastwood. Clint Eastwood.”

Graficamente, o jogo consegue ainda ter bom aspecto para um título com quinze anos. É importante relembrar que estamos aqui perante um remaster e não um remake, pelo que as melhorias são maioritariamente cosméticas – e mesmo essas não vão mudar o aspecto do jogo da noite para o dia, principalmente num jogo com esta idade. Mesmo com uma lavagem HD, o seu aspecto é datado certamente, bem como o design de alguns locais, mas é expectável. Felizmente, Stranger’s Wrath consegue aguentar-se bastante bem em todos os restantes aspectos, com uma jogabilidade relativamente sólida e todo o encanto que advém de mergulharmos no mundo de Oddworld.

Opinião Final:

Oddworld: Stranger’s Wrath HD é um clássico que poderá ser apreciados não só por fãs de Oddworld, mas também por aqueles que têm um cantinho especial para jogos mais clássicos. Apesar de estarmos a ver um regresso às origens com o anúncio de Oddworld: Soulstorm, é bom ver que ainda há carinho por um título tão peculiar como Stranger’s Wrath.

Do que gostamos:

  • Podemos finalmente levar connosco para todo o lado um dos clássicos de Oddworld;
  • Jogabilidade sólida;
  • Apesar de mostrar a sua idade, todo o jogo consegue aguentar-se bastante bem.

Do que não gostamos:

  • Mapeamento dos controlos é um bocado tosco, não sendo possível alterar os mesmos;
  • Mecânicas de furtividade não funcionam tão bem como gostaríamos;
  • Face à sua idade, seria bom termos tido um remake, ao invés de um remaster e subsequente port.

Nota: 7,5/10