Pokémon Shining Pearl – Análise

Com o final de ano a aproximar-se, um novo jogo Pokémon chegou ao mercado, desta vez remakes para a Nintendo Switch dos dois títulos da 4ª geração: Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl, lançados no passado dia 12 de novembro. Estes remakes correspondem também a uma novidade no que toca a lançamentos na série de jogos RPG de Pokémon: estiveram a cargo da IILCA, sendo o primeiro RPG desta série não foi produzido principalmente pela Game Freak; e muito em breve teremos um novo jogo pelas mãos da própria Game Freak, Pokémon Legends Arceus, sendo esta também a primeira vez que vemos dois jogos da série principal de Pokémon a ser lançados num tão curto espaço de tempo.

Desde o seu anúncio, a 28 de fevereiro, que estes dois títulos se têm apresentado controversos entre os fãs desta que é uma das maiores franquias de sempre. Apesar de ter sofrido algumas melhorias desde o trailer de lançamento, o estilo artístico deste remake desapontou bastantes fãs logo à partida, que esperavam uma nova visão de Sinnoh com modelos mais próximos dos mais recentes títulos Pokémon para a Nintendo Switch: Pokémon Let’s Go Pikachu/Eevee e Pokémon Sword/Shield. Embora se perceba o que a ILCA tentou fazer adotando um estilo chibi, aproximando este remake do estilo dos originais da DS e procurando levar os jogadores a sentir de forma mais forte que estão a ser transportados de volta para 2008, quando exploraram Sinnoh pela primeira vez, por outro lado esta tentativa deixa-nos com uma espécie de “sabor a pouco” em que parece que estamos simplesmente a jogar os títulos originais, mas agora em 3D.

Apesar de não ser aquilo pelo qual muitos esperavam, o estilo chibi tem o seu charme.

Não vou mentir, personagens como Dawn são adoráveis neste estilo chibi, e vão com certeza sentir nostalgia ao percorrer Sinnoh neste estilo mais clássico, caso tenham jogado qualquer um dos títulos Pokémon para a Nintendo DS. No entanto, há várias ocasiões em que a direção artística falha, e que não se prendem simplesmente com se gostar ou não do estilo artístico pelo qual a ILCA optou. Em vários momentos do jogo a câmara aproxima-se das personagens, de forma a realçar certos diálogos e momentos importantes na trama do jogo, e nestes momentos nota-se de forma bastante clara que uma das metades das personagens se encontra muito mais nítida/menos pixelizada do que a outra, o que distrai e demonstra falta de cuidado no que toca a estes detalhes. Igualmente, Shining Pearl e Brilliant Diamond têm uma aparência um pouco “deslavada”, com fracos contrastes. Comparando com os anteriores títulos Pokémon, e em especial numa Switch OLED, tal acaba por ser dececionante. Teria sido bom ver Sinnoh reimaginada de uma forma mais viva.

Relacionado com este último ponto, à medida que fui avançando no jogo fui-me apercebendo que algo neste estilo acabou por tornar menos impactantes alguns dos momentos centrais do mesmo. A versão que pude testar foi Shining Pearl, e o momento em que finalmente nos deparamos com Palkia vai sendo anunciado como algo de épico, dado o poder momental deste Pokémon e o papel que desempenhou na criação de Sinnoh. E de facto tanto a banda sonora, como o cenário e o enredo cumprem o seu papel no que toca a tornar este um momento único na nossa jornada como treinadores de Pokémon. No entanto, o modelo com poucos polígnos e no estilo deste remake acaba por estragar um pouco toda esta tentativa de tornar épico o encontro com Palkia. Este não nos parece ser um Pokémon especial, apesar de todo o destaque que recebe, mas quase que como um modelo de maiores dimensões saído da geração da GameCube.

A Team Galactic e as suas linhas de diálogo ridículas trazem uma grande personalidade para estes jogos.

Igualmente a lamentar é a falta de conteúdo da versão Platinum nestes novos jogos. Apesar do conteúdo disponível em Shining Pearl e Brilliant Diamond após terem derrotado Cynthia e se coroarem o/a novo/a campeã(o) de Sinnoh ser bastante extenso, este infelizmente não inclui a Battle Frontier, pela qual tantos fãs ansiavam. Também o mundo distorcido não está presente nestas novas versões dos jogos de quarta geração, embora Giratina deixe aqui também a sua marca.

Apesar destes problemas, é claro que nem tudo é negativo neste remake. Pokémon continua a conquistar os corações de milhões de fãs por todo o mundo, mantendo-se num nível de popularidade que por exemplo Yo-kai Watch rapidamente perdeu – e há boas razões para tal. Tirando o facto de vários Pokémon terem designs únicos e para todos os gostos, a premissa dos jogos e os sistemas que até hoje estão na base dos mais recentes RPGs Pokémon continuam tão ou mais afinadas e viciantes que em 1995. É difícil de explicar, mas existe algo de bastante confortante em colecionar estes monstrinhos de bolso, evoluí-los e combater com eles. Uma parte importante, e que se tem mostrado de forma mais explícita nos títulos mais recentes, desta experiência é a relação que vamos estabelecendo com os nossos Pokémon. Em Pokémon Shining Pearl e Brilliant Diamond, tal merece de novo grande destaque, sendo possível a partir de certa parte do jogo andar com um dos nossos companheiros atrás de nós e cozinhar para eles, aumentando a afeção que eles sentem por nós, que se manifesta por fim em termos de benefícios em combate, como resistir com 1 ponto de vida a um ataque que, de outra forma, o nocautearia. A combinação de um sistema de combate com provas dadas, um mundo de jogo com uma premissa que continua a conquistar o nosso imaginário e uma ligação que se vai estabelecendo com os Pokémon continua a fazer com que os jogos desta série sejam como comida de conforto, algo a que sabe bem regressar. No fundo, a forma como Shining Pearl e Brilliant Diamond mantêm a fórmula clássica da série é o ponto mais positivo que se pode apontar a estas novas versões de Sinnoh.

É engraçado colecionar estátuas e decorar a nossa base, mas nada que seja muito especial.

Ao mesmo tempo que retêm elementos já vistos em outros jogos, estes remakes introduzem, ainda assim, novidades. O Grand Underground foi completamente redesenhado tendo em conta simultaneamente as restrições que a passagem de dois para um ecrã impõe face às versões originais para a Nintendo DS, e a maior liberdade que a diferença em termos de poder entre as duas plataformas permite. À semelhança dos outros jogos Pokémon já lançados para a Nintendo Switch, no Grand Underground é possível ver Pokémon selvagens a rondar pelas várias divisões, em vez de combates serem iniciados de forma aleatória mas sem qualquer indicação visual de que há um Pokémon nas ervas altas ou grutas. Neste sistema de túneis, que se estende por toda a região de Sinnoh, é ainda possível apanhar Pokémon de outras gerações, incluindo todos os starters das quatro primeiras gerações. Explorando o Grand Underground e realizando determinadas atividades ao longo do jogo, é ainda possível desbloquear estátuas que podem ser colocadas na nossa base e que influenciam os Pokémon que vão surgindo nas várias divisões. Por exemplo, colocando na mesma estátuas de Pokémon de  um certo tipo, irão encontrar mais Pokémon desse mesmo tipo ao explorarem os túneis.

Infelizmente algo que se manteve desde Sword/Shield foi a obrigatoriedade de partilhar pontos de experiência entre os membros da equipa, o ínfame Exp. Share. Embora Pokémon claramente seja mais e mais uma série que se quer acessível para todos, em que novos fãs podem começar com qualquer um deles e divertirem-se sem terem qualquer experiência anterior com a série, seria possível alcançar esse mesmo resultado mantendo o Exp. Share opcional, mesmo que ativado por definição.

Tal como noutros títulos mais recentes da série, podem escolher entre uma variedade de estilos de roupa diferentes, tornando o vosso avatar único.

A impossibilidade de desativar o Exp. Share prende-se ainda com aquele que foi, na minha experiência, o ponto mais negativo deste remake: a sua dificuldade. Mesmo evitando uma boa parte dos treinadores com que me fui deparando nas routes e nos ginásios (tirando os líderes) e não tendo usado os PokéMarts até ter chegado à Elite 4, não houve qualquer altura em que me deparasse com qualquer nível de desafio, ou mesmo com uma falta de PokéBalls ou outros itens. Aqui poderiam responder-me que simplesmente Pokémon já não é para mim, dado que a dificuldade é precisamente tão baixa para permitir que jogadores mais novos ou que estejam a dar os primeiros passos no mundo dos videojogos possam ter uma experiência memorável. No entanto, a minha crítica não é de que a dificuldade é muito baixa. O que encontrei de mais negativo nestes remakes é, por outro lado, a falta de equilíbrio no que toca à mesma. Ao passo que praticamente todo o jogo não apresenta qualquer tipo de desafio, a Elite 4, e especialmente a campeã, Cynthia, representam um desafio que tive de repetir várias vezes (em parte por não ter na minha equipa um Pokémon de tipo Fada), exigindo um muito maior pensamento estratégico e que apenas superei com ajuda da sorte. Tal resulta numa experiência que pode até chegar a ser aborrecida de tão fácil durante a campanha, mas que se torna frustrante de forma inesperada nos momentos finais. É claro que Cynthia é ínfame entre os fãs da série pela dificuldade do confronto com a mesma nos jogos originais, mas mesmo que se assuma que em Pokémon Diamond e Pearl havia uma diferença abissal entre as duas partes do jogo na mesma medida que em Shining Pearl e Brilliant Diamond, não deixa de ser uma falha gritante nestes remakes que esta (hipotética) falha de design não tenha sido corrigida ou atenuada.

Este último ponto leva-nos a considerar, finalmente, a questão de o que deve ser um remake. Apesar de vários elementos de Shining Pearl e Brilliant Diamond serem justificados pela decisão por parte da ILCA e da The Pokémon Company em apresentar uma experiência que fosse fiel à dos jogos originais, tal não pode desculpar tudo. Quando um remake é anunciado, cria-se uma expectativa de que sejam feitas algumas alterações que modifiquem a experiência original, as quais podem ser mais ou menos substanciais. Mas mesmo que sejam pouco substanciais, uma expectativa razoável a ter é de que a experiência de jogo seja melhorada de forma a colmatar algumas das falhas dos títulos originais, tornando esta na forma definitiva de jogar determinado título. E é precisamente nisto que Brilliant Diamond e Shining Pearl falham. Enquanto adicionam elementos como um Grand Underground redesenhado, minijogos renovados nos Contests ou o Exp. Share obrigatório, estes remakes falham em melhorar de forma significativa ou acrescentar à experiência de Pokémon Diamond e Pearl. Acabam, assim, por se deixar ficar numa posição intermédia em que parecem não ter suficientemente de novo para estar ao nível de outras ofertas Pokémon mais recentes ou convencer fãs de longa data que tenham jogado os títulos originais a investir nestas novas versões. Ao mesmo tempo, trazem consigo elementos novos, entre os quais se destaca o Exp. Share, que afastam aqueles que procurariam nestes jogos uma experiência nostálgica o mais próxima possível da que viveram nas suas Nintendo DS.

Ver os Pokémon a competir em termos estéticos neste estilo é simplesmente adorável.

Opinião final:

Apesar de trazerem algumas melhorias face aos jogos originais, Pokémon Shining Pearl e Pokémon Brilliant Diamond acabam por não conseguir estar à altura das mais recentes ofertas na série. Enquanto por um lado se mantêm muito próximos dos jogos base, com um estilo artístico que tenta replicar em 3D o design dos títulos Pokémon para a Nintendo DS – o que por vezes não resulta de forma satisfatória -, por outro lado trazem acrescentos como a obrigatoriedade do Exp. Share que afastarão aqueles que procuram reviver a experiência que tiveram com Diamond e Pearl. Infelizmente, este acaba por ser uma versão algo desinspirada de uma das gerações Pokémon mais queridas entre os fãs. O seu valor reside essencialmente nas mecânicas de combate clássicas e viciantes desta série, assim como nos cenários e música reconfortantes de Sinnoh. Resta-nos agora esperar que Legends Arceus consiga cumprir com a sua promessa mais ambiciosa.

Do que gostamos:

  • Estilo chibi é adorável e a proximidade ao estilo dos jogos clássicos de Pokémon traz-nos conforto e nostalgia;
  • Mecânicas de combate de Pokémon continuam tão viciantes como sempre;
  • Contests e Grand Underground melhorados;
  • Extenso conteúdo após derrotarem Cynthia.

Do que não gostamos:

  • Estilo artístico falha em alguns momentos de maior destaque;
  • Falta de conteúdo de Platinum;
  • Pouco equilíbrio na dificuldade;
  • Não há opção para desligar o Exp. Share;
  • Demasiado fiel aos jogos originais, especialmente para aqueles que jogaram Diamond e Pearl.

Nota: 6,5/10

Análise efetuada através da versão Nintendo Switch, com um código cedido gentilmente pela distribuidora.