Remothered: Broken Porcelain – Análise

Remothered: Tormented Fathers não era nenhuma obra prima, mas era um título que prometia ser o ponto de partida para um bom franchise de terror. Era um jogo que demonstrava claramente o amor que tinha pelas suas inspirações e que, apesar de problemas técnicos e alguns momentos toscos, conseguia ser relativamente competente e memorável, mesmo com uma curta duração.

Tendo até gostado do original, admito que tinha alguma expectativa para a sequela, Remothered: Broken Porcelain. Pareceu-me que seria a oportunidade de não só aprender com os erros do passado, como também de desbravarmos mais do mistério que nos tinha sido apresentado em Tormented Fathers. Infelizmente, o meu entusiasmo rapidamente caiu por terra.

Broken Porcelain é tanto uma sequela como uma espécie de prequela, saltando entre linhas temporais, mas maioritariamente colocando o jogador no papel de Jennifer, uma órfã que trabalha no Ashmann Inn – um hotel cuja decoração prima pelo escuro e decrépito, contando ainda com uma Kathy Bates de marca branca a deambular pelos corredores e a chagar o juízo a Jennifer, relativamente às suas responsabilidades e trabalho. Jennifer tem um braço ao peito, resultante de um acidente que sofreu ao tentar fugir do hotel, assim como uma amiga no hotel, Linn, com quem a sua relação não está muito famosa, devido à fuga falhada e consequente acidente.

Eu é que tinha vontade de me esconder ao jogar este jogo.

É óbvio que as coisas vão dar para o torto e rapidamente Jennifer vê-se obrigada a percorrer os corredores do Ashmann Inn de forma furtiva, de modo a evitar o pessoal do hotel que aparenta ter sido acometido por uma estranha condição que os deixa completamente possessos, irados e violentos. As sequências de Jennifer passam-se em 1973, uns bons anos antes de Tormented Fathers, mas à medida que avançamos na história voltamos também a ver Rosemary Reed, protagonista do primeiro jogo. O passado e o presente acabam por se entrelaçar à medida que vamos desvendando o mistério daquela que é uma história que até poderia ser interessante, se não fosse a sua execução totalmente tosca e amadora.

Não muito depois do início do jogo, é feita uma revelação bombástica, mas que é largada no colo do jogador de forma tão pouco cerimoniosa e tão anti-climática, que tive de voltar a jogar a mesma sequência para me certificar de que tinha mesmo ouvido aquilo. O próprio jogo não parece importar-se de todo com o enredo, sem o mínimo de subtileza e com tantas voltas e reviravoltas, que às tantas já não se percebe bem o que se passa. Como já referi, coisas importantes são despejadas a mil à hora, temos personagens com mais que um nome diferente (e não é só a uma personagem que isto acontece) e adicionando a isto sequências em diferentes linhas temporais, temos aqui a receita para uma mistela que deveria ter sido cuidadosamente curada ou num jogo mais longo, ou em duas sequelas. Aliás, Remothered era para ser uma trilogia – apesar de aparentar terem decidido avançar pela via dos romances gráficos.

Mas e a jogabilidade? Vale a pena? Temos aqui o próximo Clock Tower? Epá… numa palavra, não. Não temos. Broken Porcelain mantém largamente as mesmas mecânicas de Tormented Fathers, favorecendo uma jogabilidade furtiva em que o jogador deve dar preferência a fugir e esconder-se, ao invés de combater. Isto seria espetacular se as mecânicas funcionassem. Se não se enfiarem dentro de algum armário ou arca, podem bem esquecer a furtividade porque os inimigos não só têm ouvidos de tísicos, mas também uma visão mega apurada. Numa sequência em particular, tentei esconder-me atrás de uma esquina num quarto mas esqueçam, era impossível. Se for apanhado, o jogador pode contra-atacar mediante alguns objetos que pode ir apanhando (como facas) ou até criar objetos que distraiam os inimigos, através de itens que vão apanhando no hotel.

Quando num jogo furtivo mais vale andarem a correr, porque vos vão ver de qualquer maneira.

O sistema de crafting ou criação de itens é tão tosco, que parece mais uma coisa enfiada à pressão do que uma mecânica cuidada. Não existe uma lista daquilo que podem criar, existindo zero estratégia ao fazê-lo. Apanham alguns itens à toa, verificam o menu e se a combinação de itens que têm assim o permitir, então parabéns. Caso contrário, divirtam-se a trocar de itens até conseguirem algo, já que o inventário é extremamente limitado e pelos vistos tentaram criar tensão através de uma mecânica cujo desenvolvimento foi nulo.

Broken Porcelain mantem o problema do original de ter mil e um armários e gavetas que podem ser abertos e explorados. As animações são extremamente lentas e não ajudam quando, estando a meio de uma sequência tensa ou a serem perseguidos, só querem apanhar aquela faca mas… a Jennifer decide abrir a porra de uma gaveta. E fecha a gaveta. E volta a abrir. E no fim acabam por ser apanhados e morrem e olha pronto, já está.

Uma das grandes novidades em Broken Porcelain é a habilidade que Jennifer tem de controlar uma traça, voando por alguns segundos pelo cenário. Os controlos desta habilidade são, muito sinceramente, horrendos e quando somos obrigados a utilizar esta habilidade pela primeira vez, ficamos a desejar não ter de o fazer nunca mais. É mais um exemplo de uma ideia engraçada, enquadrada na narrativa, mas que é executada de uma forma horrenda.

Tudo em Broken Porcelain dá a sensação de ser pouco polido, de estar incompleto, e isso reflete-se em tudo – desde as mecânicas imberbes e pouco desenvolvidas, às cutscenes com animações toscas e com cortes abruptos que não são aceites nem num filme de série B, aos bugs e várias costuras que são demasiado visíveis. Muito próximo do início do jogo, vi-me a ser perseguida pela Kathy Bates de marca branca, fugindo pela varanda dos quartos. Ao aproximar-me do varandim, apareceu-me um prompt, levando-me a carregar um botão que fez Jennifer saltar da varanda. Sem aviso, o jogo assumiu que morri ou o que seja, obrigando-me a voltar a um checkpoint. Esta é só uma das escolhas de design que não faz absolutamente sentido nenhum e que demonstra que os testes feitos ao jogo foram poucos ou nenhuns.

Outra das escolhas que me deixou a coçar a cabeça foi a inclusão das Moth Keys, chaves que podem ser apanhadas logo no início do jogo e cujo propósito apenas é revelado quando já estão bem avançados. Afinal, estas chaves servem para melhorar algumas das vossas habilidades, numa espécie de skill tree dos pobres. Mais uma coisa mal explicada e mal implementada, um retalho cosido à pressão num jogo que não deveria ter saído neste estado.

Acho que ficar no Ashmann Inn com os seus vários tons de burro quando foge seria mais divertido que este jogo.

Apanhei ainda alguns bugs, um deles colou-me Jennifer junto a um espelho onde tinha acabado de salvar o jogo, obrigando-me a fechar o jogo e voltar a iniciar o mesmo. Outro fez com que não aparecesse o prompt apropriado quando me aproximava furtivamente por trás de um inimigo, deixando-me a coçar a cabeça sem saber o que fazer. Um bocadinho de investigação lá me levou a perceber que tinha de premir um botão para despoletar um ataque com um objeto cortante – sem qualquer aviso por parte do jogo.

Remothered: Broken Porcelain poderia ter sido muitas coisas, principalmente um bom jogo, aprendendo com os erros do seu predecessor e valendo-se do seu potencial de se tornar num jogo de culto. Acabou por ser nada mais do que um jogo mal feito, mal apresentado, cujo desenvolvimento claramente beneficiaria de mais uns largos meses e que aparenta ter sido lançado a despachar, para satisfazer alguém – que claramente não são os jogadores.

Não tem qualquer salvação, a sua história é apresentada de forma confusa e os próprios criadores não parecem sequer ter amor pela mesma, na forma como simplesmente regurgitam partes importantes do enredo. A sua jogabilidade pega nas piores partes do original e decide elevá-las ao quadrado, adicionando mecânicas ainda piores que apenas conseguem gerar frustração, ao invés de tensão e medo. Broken Porcelain podia ter sido muita coisa, mas apenas consegue ser mais um título de terror que rapidamente será esquecido e com bons motivos.

Opinião Final:

Tinha a expectativa de que Broken Porcelain seria mais uma carta de amor a um género de jogos e ficção que adoro, mas acabou por ser apenas mais um título lançado num estado inacabado, sem qualquer tipo de respeito pelos jogadores ou pela história desta série de jogos. É um desastre monumental e que mais vale ser esquecido, não se enquadrando sequer na categoria de “é tão mau que acaba por ser bom”. Nunca um título foi tão apropriado para um jogo.

O que gostámos:

  • A história no fundo, beeeem lá no fundo, não é má…

Do que não gostamos:

  • …mas é tratada com um total desrespeito na forma em que é apresentada;
  • Animações amadoras e pouco polidas;
  • Mecânicas pouco ou nada desenvolvidas;
  • Jogabilidade frustrante;
  • Essencialmente, é um jogo feito de conceitos decentes mas com uma execução para lá de pobre.

Nota: 3/10