Resident Evil 2 Remake – Análise

Resident Evil 2 Remake é mais um marco na reestruturação da Capcom no mercado dos videojogos, depois de vários lançamentos de peso entre o ano passado e este ano. Ficando ainda reservado Devil May Cry 5, que tem gerado bastante furor de entre os lançamentos previstos para 2019.

Este é sem dúvida um dos melhores momentos da companhia nipónica em largos anos. Tem acertado em praticamente tudo o que tem feito, e, ainda melhor, tem ganho o carinho dos imensos fãs que esta indústria sustenta, algo que é muito difícil de se conseguir num mercado cada vez mais exigente e sem espaço para grandes erros. Resident Evil 2 Remake mostra-nos esta reabilitação da Capcom em bruto. Estamos a falar, muito provavelmente, do melhor remake já feito até hoje, e de um clássico sem precedentes – não estivéssemos a falar do jogo rei dos mortos-vivos.

Assim que comecei a minha campanha com Leon, apercebi-me, enquanto desfrutava de um sentimental momento de nostalgia,  que o que havia ali era mais do que um simples remake – era o recriar de algo que já era enorme, tornando-o imortal, com um detalhe incrível que só a atual geração consegue entregar, mas ao mesmo tempo mantendo-se fiel à versão original.

A campanha pode ser inicialmente jogada com Leon ou Claire, ficando à escolha dos jogadores com qual vão começar a aventura. Existem diferenças entre cada uma das campanhas, essencialmente a nível de armas, espaços a descobrir e algumas alterações de enredo que se adequam melhor a cada uma delas. No geral, no entanto, as duas acabam por ser uma aventura similar, mas que merecem a atenção dos jogadores pela excelência do mais recente título da Capcom.

Leon é o novo membro da polícia de Racoon City e no seu primeiro dia de trabalho depara-se com um estranho e bizarro acontecimento na cidade: uma epidemia de mortos vivos que vivem formatados para desfazer e converter seres vivos (especialmente humanos) à sua condição, tornando a sobrevivência humana na mesma uma bênção. Esta epidemia deve-se à criação do vírus G, que contou, claro está, com o envolvimento da Umbrella Corporation.

Quando chegamos à esquadra, temos de encontrar três medalhões para abrir o caminho secreto que nos dá acesso a outras áreas do jogo. Contudo o caminho para lá chegar é penoso e cheio de pequenos enigmas que nos põem à prova, os quais se tornam superáveis ao ganharmos acesso a novos itens que progressivamente nos dão acesso a novas áreas, integrando o natural desenvolvimento da narrativa, que com o Leon tem uma duração média de oito a dez horas de gameplay.

A esquadra e os seus caminhos frágeis e claustrofóbicos estão muito bem retratados e convidam-nos a um novo género de jogo de terror, uma experiência que consiste numa representação do passado e nos leva a pensar num possível futuro de sucesso dentro de uma tema que já muito é abordado e em que poucas janelas criativas permanecem abertas. É de facto uma aventura estonteante que nunca nos deixa adormecer enquanto portadores de um comando na mão. A tensão invade-nos a cada porta aberta e a cada novo objetivo que temos de abraçar.

Os inimigos estão retratados de forma quase perfeita e a sua estética está incrivelmente realista sem nunca se desenquadrar do universo Resident Evil. Temos os zombies vulgares, outros com características mais incomuns provenientes de um desenvolvimento diferenciado do vírus G (que os torna mais deformados, ágeis e com um enorme potencial destrutivo) sendo todos estes mortos-vivos que já marcaram presença no jogo original. Faltam alguns tipos de mutações portados de Resident Evil 2 original, como as aranhas.  Esta ausência não é, contudo, suficiente para desfazer toda a obra artística e imersiva promovida neste remake, que apresenta um bom número de inimigos diferenciados e que conta ainda com a presença de Mr X, que acaba por ser o inimigo mais emblemático e único de toda a aventura, perseguindo-nos de forma desenfreada por quase todas as áreas do jogo.

Além dos inimigos clássicos de outros tempos, a nostalgia de ver Leon, ClaireAnnette, Cherry e Aida torna-se um privilégio para quem jogou a versão original. O detalhe entregue a cada personagem é delicioso e os modelos escolhidos para reencarnar este mundo foram selecionados a dedo sem que houvesse espaço para falhas. Mais uma vez a Capcom conseguiu-nos impressionar com a sua mestria na arte de desenvolver videojogos.

Existem três dificuldades às quais podemos aceder: fácil, padrão e hardcore. As diferenças são notórias, mas para quem quer ter uma verdadeira experiência Resident Evil, aconselho a não jogar na dificuldade fácil. As balas são praticamente infinitas assim como os itens de recover que aparecem com demasiada frequência, fragilizando todo o ambiente da nossa experiência. Por outro lado, quem quiser ter uma experiência verdadeiramente insana, jogue em hardcore, pois aqui terá uma tarefa super complicada de levar, com pouquíssimos itens disponíveis, maior dano por parte dos inimigos e ainda os clássicos saves tradicionais (ou seja, de apenas poderem guardar o vosso jogo quando adquirirem os tinteiros necessários para colocar na máquina de escrever), a jornada de Leon ou Claire até ao fim. Nesta dificuldade, é necessário escolher matematicamente tudo na aventura de forma a que não haja erros que obriguem, ou a começar de novo, ou a voltar muito atrás.

Visualmente o jogo está excelente sendo para mim um dos títulos com melhor aspeto da atual geração. A Capcom caprichou e compensou os fãs por todos os anos de espera em que ansiavam por este remake. As texturas, iluminação, expressões faciais entre outros detalhes técnicos estão a um nível de facto superior. Não esperava tanta vitalidade e brio em volta de Resident Evil 2 Remake, pelo facto de a empresa japonesa ter alterado as raízes da série, e por isso esta acaba por ser, para mim, a mais agradável surpresa do ano (apesar, claro, deste estar a começar).

A banda sonora é mais um quesito em que Resident Evil 2 Remake não compromete. Esta está adaptada de uma forma muito positiva, em que os vários efeitos sonoros, assim como as músicas, criam um verdadeiro ambiente doentio e de suspense, acompanhando sempre, de forma fiel, a aventura. Além da qualidade da masterização, também é possível o acesso à banda sonora original de 1998. Esta, contudo, está apenas disponível para quem comprou a edição especial, algo que muitos fãs criticaram, por julgarem que deveria constar em todas as edições do jogo.

Como puderam ler até aqui, existem poucos pontos negativos a apontar ao jogo, e, para mim, de facto foram quase inexistentes, de tal forma somos agarrados do primeiro ao último minuto. O mais grave que pude identificar foi a falta de coerência narrativa entre Leon e Claire. As duas histórias têm momentos em que o enredo não bate certo, o que pode deixar o jogador um pouco confuso. Esta incoerência é, no entanto, desculpável, na medida em que as duas histórias se unificarem é apenas um complemento que permite alargar o universo do jogo, que pode não conter muita narrativa em bruto, mas que durante a campanha consegue fazer todo o sentido. De forma conclusiva, para mim ambas as campanhas fazem todo o sentido quando jogadas e contadas individualmente, mas, quando comparadas surgem erros de conexão, e este terá sido o maior problema que vi durante todo o jogo, não comprometendo em praticamente nada toda a pintura bela que é Resident Evil 2 Remake.

 

Opinião Final:

Este é o remake por que todos fãs podiam pedir na melhor das hipóteses… e, sem muito alarido, a Capcom conseguiu dar uma nova alma a um clássico intemporal de culto dos videojogos. Resident Evil 2 Remake é antes de tudo uma homenagem ao jogo original, que tanto fez pelo género do terror e da própria existência mediática dos zombies. Em segundo lugar, é uma imensa lufada de ar fresco naquilo que é o mercado atual do género, conseguindo trazer o mojo da versão original para o final da 8ª geração de consolas de forma quase perfeita e sem muito a apontar. É um jogo obrigatório para quem gosta do género, transmitindo tudo o que podemos desejar deste tipo de experiências com um gameplay muito refinado e visuais de encher o cérebro a um zombie, sempre com uma aguçada sensação de nostalgia.

Do que gostamos:

  • Visuais impressionantes;
  • Banda sonora adequada;
  • Leon e Claire;
  • Durabilidade maior que a dos originais;
  • Mr X;
  • Campanhas bem desafiantes;
  • Armamento disponível.

Do que não gostamos: 

  • Conflito entre enredos de Leon e Claire.

Nota: 9,5/10