Resident Evil 3 – Análise

Atualmente, vivemos numa situação única em que as incertezas cada vez são mais, em detrimento de possíveis planos práticos para que se consiga conter esta pandemia que insiste em não nos deixar em paz. O que é curioso, porque estamos a passar um momento paralelo àquele que encontramos no mundo de Jill e Carlos. Apesar de que cá (nas nossas vidas reais) o problema não ter as proporções catastróficas às quais Raccoon City está sujeita, felizmente.

Depois do desfecho de Resident Evil 1, Jill Valentine está “presa” em casa enquanto aguarda desesperadamente por uma oportunidade para sair da cidade. Mesmo sabendo que o estranho vírus altera geneticamente o ser humano deixando-o num monstro, a Jill nada fazia prever que a sua aventura se fosse iniciar com o aparecimento de uma variação do vírus ainda mais imponente e assustadora comparativamente aos zombies comuns. Óbvio que é de Nemesis que estamos a falar.

No começo do jogo, somos invadidos por momentos de frenética ação, ao contrário do início mais lento e orgânico do seu antecessor. Com isto, rapidamente ficamos agarrados ao ecrã em que tudo se encontra de forma muito bem conseguida. Para os fãs mais hardcore e da velha guarda, o jogo pode não ser propriamente a experiência da qual estão à espera. Também pela falta de conteúdo relativamente ao jogo original, este jogo poderá não ser para vós. Estes podem ser fatores muito importantes para que decidas se irás ou não dar uma oportunidade ao novo título da Capcom.

Depois desta ligeira introdução, é hora de dissecar o conteúdo disponível em Resident Evil 3 e a qualidade com que este se apresenta. O jogo tem um início com bastantes elementos cinematográficos, mudanças abruptas de planos e ação pelos quatro cantos do ecrã, o que na minha opinião foi uma introdução bastante bem conseguida. Posteriormente, encontramos a nossa primeira zona de exploração, em que se desenrola a demo disponibilizada pela Capcom. Nesta área relativamente grande, o jogo volta às suas origens, com muitos e bons elementos de exploração. Não descansei enquanto não descobri tudo, apesar de mesmo assim me ter escapado um código de acesso ao cofre daquela zona. Porém, voltei numa segunda “jogatana” e já o abri, obviamente.

Como fã da série, adoro perder horas a andar nos mesmos sítios se esses próprios locais me surpreenderem com mais itens, peças para armas, colecionáveis, quebra cabeças, munições…  entre muitas outras coisas que podemos encontrar. Há aqui, contudo, uma ausência destes elementos, os quais esperava que fossem ser herdados de Resident Evil 2 Remake. A tal se deve em grande medida o tamanho extremamente curto do jogo.

Tirando duas partes com exploração relativamente exaustivas onde podemos perder entre uma a duas horas na primeira vez que jogamos, tudo o resto tende a ser mais linear ou então de muito fácil percepção do objetivo, fazendo de Resident Evil um jogo quase totalmente focado na ação, embora nos presenteie com bons momentos de terror de quando em vez.

O gameplay foi redesenhado e, apesar de utilizar o mesmo motor gráfico, em Resident Evil 3 existem novas mecânicas que se revelam muito importantes, especialmente se jogado nas dificuldades mais elevadas. A Jill tem a capacidade de se esquivar dos adversários, conseguindo evitá-los e abrindo uma oportunidade de fuga ou de contra-ataque. Esta mecânica funciona se pressionarmos o botão no momento certo. Já Carlos, tem a capacidade de socar os adversários deixando-os atordoados e com a defesa em baixo. São adições fundamentais para o rumo de gameplay que a Capcom impôs a Resident Evil 3.

Se o normal é que a quantidade de munições ou ervas sejam raras, onde os produtores nos fazem mergulhar no ambiente angustiante que é partilhar um espaço com zombies, então aqui é tudo ao contrário! Desde o início que os itens existem em abundância para nos preparar para uma aventura altamente electrizante e potente. O jogo mal nos deixa respirar dada a sua vontade de nos fazer correr. Desde perseguições, a boss battles absolutamente fantásticas, o jogo raramente nos deixa parar para pensar. É como se alguns elementos (principalmente de CGI) tivessem invadido o jogo onde um mix de aventura com zombies fosse criado, no meio de imensas balas e explosões.

Nemesis promete não nos deixar em paz, marcando presença constante e com grande ênfase em vários momentos do jogo. A besta vai sofrendo mutações ao longo da história e é bom ver o esforço da Capcom, que com pouco tempo acabou por fazer um excelente trabalho, mesmo que descolado do conceito tradicional de Resident Evil.

A estória encaixa-se ao mesmo tempo na narrativa de Resident Evil 2. Durante a campanha vai ser possível perceber as referências ao seu antecessor, bastando para tal apenas estar atento e explorar todos os cantos – que, infelizmente, não são muitos.

Já concluí a campanha na dificuldade normal e difícil. Na minha primeira gameplay, demorei sensivelmente 7 horas e meia para terminar a estória. Acredito que por ter jogado com forte foco na exploração tenha “perdido” mais algum tempo no encanto macabro de Raccoon City. Porém, quando joguei o jogo apenas com o objetivo de terminar rapidamente a campanha, consegui fazê-lo em menos de duas horas, o que acaba por ser muito pouco para o preço pedido pela produtora. Na minha opinião, não é só a qualidade que dita o sucesso e grandeza de um título. É necessário um equilíbrio entre: longevidade, qualidade e preço.

Tecnicamente, o jogo está irrepreensível. Gráficos de topo aliados a uma banda sonora e sonoplastia fantásticas que nos deixam totalmente rendidos. A variedade de inimigos, armas e diferentes fases está bastante completa para a sua duração. Com muitos dos itens a serem encontrados em cofres, salas trancadas, e outras formas de exploração.

Opinião Final:

A Capcom renovou mais uma vez a personalidade da série, colocando no seu currículo mais um fantástico trabalho (embora possa não agradar aos “fãs mais fãs” de Resident Evil). A sua duração é o maior pecado face à qualidade do jogo, comprometendo-o bastante para vários jogadores. Porém, o resultado de tantas inspirações torna este num jogo único que, independentemente do seu sucesso, se irá impor no mercado de videojogos como um jogo único, frenético e muito acima da média.

Do que gostamos:

  • Visuais incríveis;
  • Novos elementos de gameplay;
  • Ação desmedida;
  • Nemesis;
  • Raccoon City.

Do que não gostamos:

  • Duração vs Preço;
  • Fator de repetição não é para todos.

Nota: 8/10