Resident Evil 4 Remake – Análise

Resident Evil 4 é um marco na série Resident Evil, para o bem e para o mal. Se por um lado, foi e é a influência de inúmeros outros títulos de ação, reinventando a série de Survival Horror (que já começava a estagnar), por outro deu abertura a que tivéssemos jogos como o 5 e o 6, que mais valia terem ficado no baú. Com a vaga que temos tido de remakes, tanto de um modo geral como da série Resident Evil, é escusado dizer que tinha muita curiosidade para saber que volta é que a Capcom ia dar a este título.

Aviso desde já, nunca joguei Resident Evil 4 (fiquei-me pelos anteriores) pelo que esta análise é mais uma avaliação do que temos agora em mãos, do que propriamente aquilo que foi refeito em comparação com o original. Mas senhores, que bela aventura macabra que aqui temos.

Mesmo que nunca tenham jogado RE4, de certeza que sabem por alto do que se trata. Leon S. Kennedy tem a seu cargo a missão de salvar a filha do Presidente dos Estados Unidos, que foi raptada. Lá vai ele para uma aldeia nos confins de Espanha e rapidamente se apercebe de que algo estranho se passa – como em todos os títulos da série. Depois de andar a fugir de aldeões raivosos, lá toca o sino e os senhores vão para o bingo e toca lá a descobrir a miúda e o que se passa na aldeia.

Primeiro que tudo quero deixar uma nota de apreciação ao cabelo do Leon. Se há coisa que é difícil de replicar num jogo são cabelos e barbas, mas o cabelo de Leon é toda uma ode a anúncios Pantene, contando com uma opção gráfica só para definir ainda mais os fios de cabelo. Quase que me distraio a olhar para a cabeça do rapaz, mas rapidamente acordo para a vida com uma machadinha na fuça. A sério, parece algo tão simples mas o trabalho gráfico e de iluminação são tão impecáveis que cada mecha reflete efetivamente brilho, como se tivesse saído agora do cabeleireiro. São as pequenas coisas, mas Resident Evil 4 está cheio destes pequenos detalhes, como os olhos dos Ganados, vermelhos, caras desfiguradas e encharcadas pela chuva, tentáculos onde deveriam estar membros. Tudo impecável a aliar-se a uma performance irrepreensível, sem quebras de framerate e acompanhando o ritmo frenético do jogo.

Festas de aldeia são sempre uma diversão.

Para além desta primeira impressão, a sensação que tive de imediato é que RE4 é um protótipo para Village (não me crucifiquem) mas que é também largamente um jogo muito melhor. As inspirações são mais do que claras e ainda mais óbvias ao jogar esta versão de 2023 – onde os conceitos são executados de um modo muito melhor e o mundo e cenários são mais coesos e a sensação de canibalismo entre jogos (cada um com os seus méritos) é um bocadinho gritante.

Após este aparte, o que podem esperar de RE4? Bem, tudo aquilo que tiveram nos outros remakes e ainda mais. RE4 é toda uma montanha russa, um jogo que pega na fórmula Resident Evil e lhe dá esteróides, indo muito para lá da sobrevivência face a zombies. É um jogo muito mais focado na ação e onde o terror nos chega através do puro pânico ao enfrentarmos hordas de inimigos rápidos, com armas e inteligentes. Aliás, o próprio jogo constantemente nos atira com inimigos diferentes, mantendo a experiência diversificada e acima de tudo, extremamente divertida. Assim que se começarem a habituar a dar headshots aos inimigos, levam com uma rasteira e estes começam a crescer tentáculos ou a aparecer com uma espécie de capacetes. Tentem-se desviar e podem levar com dinamite. Deem um tiro na dinamite e podem matar o inimigo que a segurava mas se não tiverem cuidado a fugir, podem ser apanhados em armadilhas no chão e assim ficarem vulneráveis. O jogo quase nunca permite que nos sintamos como super heróis, atirando sempre com uma boa dose de “mas que raio é isto agora?” quando menos esperamos. Até os animais senhores, animais de quinta… fiquei boquiaberta quando eu e os inimigos levámos com uma vaca no meio de uma batalha campal, mas tudo ok.

Algo me diz que isto não é só um torcicolo.

Apesar de o jogo nos manter constantemente com a adrenalina nos píncaros, Leon dá-nos pequenos momentos de leveza com as suas one liners dignas de um filme de ação dos 80s – tipo o Commando com Arnold Schwarzenegger. Confesso que percebo porque mantiveram estas falas em particular, aceito a nostalgia dos fãs, mas juro que a certo ponto, sempre que o Leon falava a minha alma saía do corpo. Isso e quando a Ashley era raptada. Ou quando desmembrava inimigos e via pequenos tentáculos a saírem das extremidades, a mexerem. Brrr…

O arsenal de armas à nossa disposição é imenso, com variadíssimos upgrades, que podem ser adquiridos através do famoso Merchant, que vai aparecendo misteriosamente em certos pontos estratégicos do mapa, sempre muito bem disposto e com um humor muito negro, à espera que tenham algumas pesetas para gastar na sua loja. A voz não é a mesma do original, icónica que era, mas a sua presença não deixa de trazer alguma leveza, sempre que vemos a característica tocha de chama roxa – significando que podemos respirar de alívio, ainda que por alguns momentos. Apesar de o progresso ser relativamente linear, o mapa está bastante interligado, permitindo revisitar áreas e apanhar itens que não conseguiram de início. Áreas como o lago foram melhoradas, tornando-se numa zona explorável de barco, com pequenos recantos e tesouros para descobrir. Não estamos a falar de um God of War, é certo, mas é o suficiente para dar ainda mais um pouco de variedade à experiência. Apesar do espírito de filme de ação campy e cheesy, Resident Evil 4 consegue igualmente manter um ambiente pesado, rarefeito, com os seus cenários retirados de um qualquer filme de terror da Hammer e o trabalho sonoro que nos deixa arrepiados. Os cânticos ouvidos ao longe, com o som de uma motosserra que parece estar cada vez mais perto, fazem com que sejamos ainda mais cautelosos na exploração. Apesar de campy, RE4 não ultrapassa a linha para o ridículo e é isso que o torna brilhante. Envolve-nos no seu mundo e torna toda a sua maluqueira mais do que credível (até o pirralho “Napoleão”, que aparenta ter perdido o chapéu no castelo, nesta versão).

Proteção acima de tudo.

Este remake de Resident Evil 4 não só é um dos melhores títulos da série até hoje (sim, vamos por este caminho), como é também um dos melhores remakes que já foram lançados – principalmente numa altura em que estamos a ser tão mimados com tantas boas novas versões de títulos clássicos. Há um equilíbrio muito ténue no que toca a manter a essência original mas atualizando o título, tornando-o mais moderno e muitos jogos não o sabem atingir. No entanto, a Capcom fez um trabalho mais do que estelar, trazendo aqui não só um mimo para os fãs do título original, como um jogo absolutamente obrigatório para qualquer jogador que se preze. Gostam de Resident Evil? Joguem. Gostam de survival horror? Joguem. Gostam de jogos de ação? Joguem. Gostam de experiências de casa assombrada da feira popular? Epá, joguem. Atrevo-me a dizer que temos aqui um jogo perfeito, quer na sua jogabilidade, tom, acessibilidade e até componente técnica e gráfica. Resident Evil 4 é e deve ser o standard de como trazer um jogo antigo aos tempos modernos, mantendo aquilo que o tornou num clássico mas também fazendo uso de toda a aprendizagem e melhorias de tecnologia que o tempo trouxe. Capcom, não se esqueçam que ainda temos alguns títulos para levar o mesmo carinho, ok?

Opinião Final:

O remake de Resident Evil 4 é aquilo a que todos os remakes devem almejar, bem como todos os jogos de ação similares. Inspirou uma geração e através de um remake absolutamente impressionante, certamente continuará a ser um título de referência para muitos outros jogos que o seguirão.

Do que gostamos:

  • Gráficos absolutamente impressionantes, sem sacrificar a performance;
  • Mundo interligado que ajuda à imersão;
  • Trabalho sonoro digno de um filme de terror;
  • Estupidamente divertido.

Do que não gostamos:

  • Não há nada para não gostar.

Nota: 10/10

Análise efetuada com um código Xbox cedido gentilmente pela distribuidora.