Sackboy: Uma Grande Aventura – Análise

Sackboy: Uma Grande Aventura é uma reinvenção que mantém o charme de LittleBigPlanet.

Parece que foi ontem, mas o último LittleBigPlanet já saiu há 6 anos. Com o lançamento da PlayStation 5, a Sony, através da Sumo Digital, traz-nos de volta a este universo, se bem que numa aventura bastante diferente no que toca à jogabilidade.

Longe vão os dias do “Play. Create. Share.”, com este spin-off focado apenas em níveis lineares e no modo de história. Para além desta mudança, saltamos dos tradicionais 2.5D de LittleBigPlanet para um jogo de plataformas 3D. Ainda assim, com todas estas mudanças, é bom começar por sublinhar que o charme dos originais foi captado lindamente pela Sumo Digital, e este é um jogo novo mas que traz muitas mecânicas, animações e visuais extremamente reconhecíveis para os fãs da série que lhe deu génese, e devidamente retrabalhados para uma nova geração.

Para além da PlayStation 5, também os jogadores de PlayStation 4 podem experienciar a nova aventura de Sackboy, e vamos nesta análise abordar ambas as experiências, bem como a migração e interação entre as gerações de consolas da Sony.

Antes de começar a esmiuçar o jogo, é de relevo dizer que comecei o jogo na PlayStation 4, tendo, entretanto, migrado para a PlayStation 5, e esta análise foi terminada apenas após o lançamento do patch de Dezembro, que adicionou funcionalidades importantes e de que eu estava à espera (e que honestamente deviam estar disponíveis no lançamento!), tais como: transferência do save da PS4 para a PS5, modo multijogador online e cross-play PS4 PS5. No lançamento era então impossível migrar o progresso entre consolas, algo inexplicável e que vou falar mais adiante, e para multijogador apenas tínhamos a opção local – se bem que, e testei, o “Remote Play Together” funciona na perfeição.

Narrativa

Sackboy: Uma Grande Aventura é um jogo linear, ainda que apresente alto valor de “replayability”, dada a sua organização em níveis que podemos repetir para fazer todos os objetivos. Como tal, segue uma narrativa simples mas eficaz, onde percorremos 5 mundos a combater o temível Vex, que raptou os companheiros de Sackboy e ameaça todo o CraftWorld.

Esta narrativa é-nos apresentada na forma de várias cutscenes ao longo dos inúmeros níveis disponíveis, sempre duma forma leve e rápida, mas que passa bem os acontecimentos. Durante a nossa aventura vamos conhecendo algumas novas personagens, havendo sempre uma grande personalidade por mundo para apimentar os acontecimentos. No fim de cada nível vamos para uma espécie de tabuleiro onde podemos selecionar os níveis disponíveis, ou desbloquear novos, podendo sempre voltar atrás e visitar alguns sítios opcionais.

A loja do hilariante ZomZom, por exemplo, traz um cheirinho do que era a criação em LittleBigPlanet, dando ao jogador a possibilidade de comprar novos fatos e ornamentos, bem como personalizar a personagem a seu bel-prazer. Já os “Knitted Knight Trials” trazem talvez a parte mais enfurecedora, e simultaneamente mais recompensante do jogo: níveis desenhados para os mais velozes e ágeis jogadores, onde temos que correr contra o tempo para ter as recompensas totais.

Em cada um dos níveis principais há uma série de objetivos, sendo os mais importantes a coleção de esferas azuis, que permitem desbloquear nova áreas e níveis, tal como as batalhas com Vex no final de cada mundo.

Ainda que seja um jogo linear, não se deixem enganar: Sackboy é um jogo enorme, duma forma que honestamente não estava à espera. Para além de ter uma seleção gigante de níveis, o seu foco em objetivos faz aquele bichinho de ter 100% em todos eles, para além de oferecer ainda níveis opcionais apenas possíveis em co-op (agora local ou online) e os trials, há aqui conteúdo para muitas horas de jogo, sozinho e acompanhado.

Apresentação

A nível de apresentação, o trabalho é absolutamente impressionante. Todas as versões do jogo correm a uns estáveis 60fps, sendo que variam principalmente na resolução apresentada, com melhores resultados, como seria de esperar, na PlayStation 5. Ainda assim, não há motivos para preocupação, joguei vários níveis numa PlayStation 4 ligada a uma TV Full HD, e os gráficos continuavam impressionantes.

O grafismo é talvez o que mais remanesce de LittleBigPlanet, e acho que foi capturado de uma forma louvável. O trabalho de texturas é ímpar, cada superfície é lindíssima de observar e extremamente detalhada, e os diferentes mundos oferecem diferenças substanciais para nos manter sempre maravilhados.

O som é também uma das áreas fortes de Sackboy, com a música a ser feita parte integral da jogabilidade e animação dos níveis, com excelentes trabalhos originais e re-imaginações de músicas populares, desde “Uptown Funk” a “Toxic”, entre várias outras, os níveis musicais estão muito bem trabalhados.

Jogabilidade

Em termos de jogabilidade, temos em mãos um jogo de plataformas clássico em 3D, com um formato linear em cada nível selecionável. Temos vários check-points ao longo do progresso, sendo que não podemos voltar atrás muitas das vezes, algo que trabalha a favor de tentar várias vezes um nível para apanhar todos os colecionáveis, mas que por vezes é frustrante.

As ações de Sackboy são reconhecíveis para os veteranos de LitteBigPlanet, com a opção de agarrar itens, saltar e “manter” para um salto maior, e dar socos. Este “core” de ações é eficaz, se bem que não tão matura como um Super Mario 3D World, havendo algumas imperfeições no movimento, mas algo que honestamente só quando tentamos coisas como os trials é que notamos, e nada de muito intrusivo.

Acho que a questão da dificuldade foi muito bem abordada em Sackboy, e tem o ideal “fácil de jogar, mas difícil de ser bom”, com os níveis a serem facilmente completados sem perder todas as vidas, mas os desafios e ter 100% nos níveis todos a ser realmente difícil e coisa de nos tirar muitas horas. Sendo este um jogo para toda a família, tudo isto faz bastante sentido e permite que todos possam jogar, mas que os mais exigentes tenham um desafio interessante.

PlayStation 4 vs PlayStation 5: Migração e Diferenças

Tendo eu jogado este jogo em 3 consolas diferentes: PlayStation 4, PlayStation 4 Pro e PlayStation 5, e não tendo visto muito conteúdo a debruçar sobre alguns temas como a migração, vou-me debruçar um bocado sobre o tópico aqui.

Primeiro, as comparações. Sackboy foi, sem dúvida, desenhado para a PlayStation 5. Sei bem que nos jogos cross-gen é fácil de os ver como jogos da geração passada com alguns upgrades, mas acho que neste caso, depois de comparar, é seguro dizer que a versão “real” é a da PlayStation 5. No entanto, não sendo um jogo extremamente tecnologicamente avançado, foi naturalmente migrado com alguns cortes, desde logo na resolução.

O que quero dizer quando digo que a derradeira experiência é na PS5 foi-me visível logo nos primeiros minutos a jogar na PlayStation 4: há um delay enorme no carregamento de texturas. É muito fácil de ver, mesmo sem comparar, e principalmente nas cutscenes, que muitas das texturas ficam alguns segundos em baixa resolução. Este problema simplesmente não existe na consola de nova geração, onde o SSD faz a sua magia não só nos loadings de níveis nas texturas.

Quando começamos a comparar lado a lado há outras coisas que saltam à vista, como alguns pedaços de “relva” de algodão, muito prevalentes e detalhados na PS5, inclusivamente com algum feedback háptico, que simplesmente não existem na versão PS4. Lado a lado é estranho e claro que a PS5 tem melhor aspeto, mas não é algo que obstrua a experiência na PS4 de qualquer maneira.

Com isto dito, e sendo Sackboy um excelente jogo para mostrar a PS5, a experiência na PS4 é perfeitamente capaz e impressionante no seu próprio direito.

Passamos então ao menos agradável: a questão da migração. Semelhante a Miles Morales, Sacbkoy apresenta, depois da atualização de final de Dezembro, a opção de migrar o save da versão PS4 para a versão PS5. Desengane-se quem acha que tem cross-save a sério, porque isto é uma migração apenas para um lado, algo que honestamente acho inaceitável e é mais um desnecessariamente complicado e incompleto processo de algo que devia ser instantâneo e simples. Para migrar, é necessário ter ambas as versões instaladas na PS5, entrar no jogo PS4, ir ao menu, faz upload para a cloud (não, não chega já ter o save na cloud do PS+), para depois ir à versão PS5, que se não tiver save nenhum ainda tem que correr a fase inicial do jogo até ter acesso aos menus, importar, são carregados os troféus na versão PS5 (fotos de finais do nível não são incluídas) e aí sim, fica pronto a jogar. Mas depois ficamos com o progresso PS4 parado, e se quisermos voltar a pegar numa PS4 não temos maneira de ter o novo progresso feito na PS5. Em suma, nada ideal, e piorado pelo facto de nem ter sido possível no lançamento da consola.


Opinião Final:

Sackboy: Uma Grande Aventura é um título que dificilmente vais falhar se tiveres a sorte de ter uma PlayStation 5, e há boas razões para isso. Uma experiência verdadeiramente next-gen, que mostra, logo no início da geração, o que podemos esperar daqui para a frente a nível tecnológico

Do que gostamos:

  • Fantástica apresentação visual e sonora
  • Co-op divertido e rico
  • Quantidade enorme de conteúdo e valor
  • Boa gestão de dificuldade (fácil de passar, difícil de completar)

Do que não gostamos:

  • Falta de verdadeiro cross-save entre as plataformas
  • Inimigos repetitivos

Nota: 8.5/10


Sackboy: Uma Grande Aventura está disponível para PlayStation 4 e PlayStation 5 por um PVP de 69,99€.

Esta análise foi feita na versão digital do jogo, gentilmente cedida pela PlayStation Portugal, e jogada na PlayStation 4, PlayStation 4 Pro e PlayStation 5.