Shantae and the Seven Sirens – Análise (Nintendo Switch)

A WayForward é a prova de que por vezes basta um pouco de amor e carinho (e um Kickstarter bem-sucedido) para manter viva uma personagem tão querida como Shantae. O lançamento original foi já no fim de vida do Game Boy Color e tudo ditava que ficaria no esquecimento. Após quatro títulos, chega-nos agora Shantae and the Seven Sirens, que tem tudo para ser um dos melhores jogos da série.

A série Shantae foca-se num estilo de jogo bem metroidvania, com o jogador a assumir o papel da meia-génia Shantae, cujos poderes adquiridos ao longo do jogo vão permitindo desbloquear mais e mais do mapa, bem como outros upgrades. Como este, existem outros vários jogos similares, mas Shantae destaca-se pelo seu bom humor, por não se levar muito a sério e pelo design característico das suas personagens. É difícil não nos encantarmos com Shantae e os seus amigos, completamente memoráveis e presença obrigatória em todos os títulos – sim, até a chata da Rottytops.

Desta vez, Shantae e os seus amigos são convidados para fazerem parte do Half-Genie Festival – essencialmente, um festival para meia-génias, como Shantae – e assim aproveitam uma espécie de viagem de férias à Paradise Island. No entanto, logo na actuação introdutória ao festival, todas as meia-génias se evaporam, deixando apenas Shantae, sem saber o que se passou. Como Shantae não é conhecida por cruzar os braços e encostar-se, decide começar a investigar a ilha e a cidade afundada que se encontra na suas profundezas, determinada a encontrar as raparigas desaparecidas. No entanto, nada é simples ou fácil e Shantae embarca numa aventura em que irá descobrir os segredos da ilha e da Cidade Afundada.

O mundo de Shantae continua colorido, mas com muitos perigos à espreita.

A jogabilidade é muito similar à dos títulos anteriores, sendo na sua essência um metroidvania, como já referi. O mapa é único, com muitas áreas para explorar e para aceder após a aquisição de vários poderes, sendo que as únicas áreas separadas acabam por ser as diversas masmorras, onde poderão lutar contra sereias – os bosses do jogo. Antes destas, deverão sempre encontrar as vossas amigas meia-génias raptadas, que vos irão dar acesso a novas habilidades e poderes que vos permitirão avançar nas masmorras e levar a vossa aventura a bom porto.

O combate contra as sereias nunca é demasiado difícil, mas obriga a que prestemos um pouco de atenção aos ataques e à forma como eles são feitos. Em suma, as batalhas resumem-se a uma aprendizagem de padrões, levando a vários momentos “a-ha!” quando finalmente conseguimos descobrir como usar as recém adquiridas habilidades contra as sereias. Isto não é nada de novo, sendo muito similar ao que já vimos inúmeras vezes em séries como The Legend of Zelda.

Ao início, as habilidades de Shantae limitam-se a poder saltar e utilizar o seu rabo de cavalo como arma – parece simples, certo? À medida que vão avançando no jogo, não só vão adquirindo novas habilidades (como a de se transformarem em sapo para poderem nadar nas profundezas), mas também as já famosas danças, que aqui permitem a Shantae utilizar os poderes das outras meias-génias. Aceder às danças é super rápido e intuitivo, basta pressionar o botão X até aparecer o menu das danças e depois com o direccional, seleccionar qual querem utilizar. Os poderes de transformação também são facilmente acessíveis, muitas vezes apenas através de uma simples acção (como moverem-se de encontro a um bloco de areia ou direccionando para baixo após saltarem), permitindo que todo o movimento pelo cenário seja completamente fluido.

As sequências animadas dão mais vida ao jogo. Sim, ainda mais!

Como já seria de esperar, existe uma boa dose de backtracking, e o facto de a jogabilidade ser tão intuitiva e fácil de dominar, faz com que a tarefa se torne muito menos pesada, ajudando a que o jogador queira explorar todo o mapa. Para tal contribui ainda o facto de que o jogo não é extremamente longo, até diria que está na medida certa, principalmente quando o comparamos a ½ Genie Hero, que era dolorosamente linear e curto (apesar de bem divertido na mesma).

Como já é usual, existem espalhados pelo cenário diversas Heart Squids, que podem ser transformadas em Heart Containers, após apanharem conjuntos de quatro. Estas não são sempre fáceis de encontrar ou apanhar, já que algumas requerem a aquisição de certas habilidades para poderem ultrapassar os obstáculos que se apresentam. No entanto, ao contrário de alguns jogos do género, estas Heart Squids não ficam marcadas no mapa até serem recolhidas. Parece algo tão simples, mas aliando-se ao facto de não ser possível, ao jogar, marcar ou fazer anotações no mapa, faz com que a tarefa de completar o jogo a 100% vá para além de um simples backtracking. É muito mais chato andar a percorrer o mapa sem se saber bem o que já apanhámos e acaba por ser um bocado desmotivante para aqueles que, como eu, gostam de conseguir completar o máximo possível de um jogo.

Relativamente à dificuldade, Shantae and the Seven Sirens acaba por pecar um pouco por não apresentar um grande desafio ou até a possibilidade de aumentar a dificuldade. Alia-se a isto o facto de que, com pouco esforço, é possível adquirir nas lojas do jogo todos os upgrades possíveis e imaginários, sendo que durante o jogo nem precisei de usar armas adicionais. Seria bom ter visto aqui um pouco mais de equilíbrio ou pelo menos ser dada a opção de escolha ao jogador, relativamente ao desafio que querem ter.

Shantae não seria Shantae sem uma dose de transformações em variados bichos.

Uma das novidades deste Shantae é uma espécie de cartas coleccionáveis, que são adquiridas após matarem monstros, sendo necessário adquirirem um certo número de cartas até terem acesso ao coleccionável completo. Após adquirirem estas cartas, que representam os monstros do jogo, podem equipá-las de modo a adquirirem certas habilidades ou upgrades. Os bosses não estão isentos e as suas cartas podem ser adquiridas a alguns coleccionadores espalhados pela ilha, a troco de uns nuggets de ouro, que podem também ir encontrando no decorrer das vossas aventuras.

Após terminarem o jogo e salvarem a ilha e as meias-génias, desbloqueiam o acesso a um modo de jogo New Game Plus. Estava com esperança que este me permitisse jogar tudo de novo, mas com todos os poderes logo de início (o que daria imenso jeito para completar tudo a 100%, sem andar à procura de agulhas num palheiro), mas na verdade permite ao jogador reviver a aventura de Shantae, com mais magia, mas menos defesa – o que na verdade acaba por ter muito pouca influência na forma como o jogo é jogado, motivando apenas a maior utilização dos variados poderes mágicos de Shantae. É um modo engraçado, mas que não agrega muito ao pacote completo.

Graficamente, Shantae mantém o seu design característico e os cenários parecem ter sido desenhados à mão, dando personalidade e características próprias a cada área diferente do mapa. Desta vez temos também cutscenes, que são muito bem-vindas e demonstram muito bem o humor e encanto do jogo, bem como um excelente vídeo introdutório feito pela TRIGGER (de Kill la Kill), cuja música não vos vai sair da cabeça tão cedo. O humor de Shantae é também muito consciente de si mesmo e em nenhum momento o jogo se leva muito a sério. Momentos como aquele em que o Squid Baron nos diz que quer fazer um jogo em que ele é a personagem, descrevendo coisas que eventualmente se reflectem mais à frente no jogo, é apenas uma das coisas que nos obriga a largar um riso de vez em quando.

Shantae é uma série de jogos de que gosto bastante, tanto por ser um metroidvania, como pela sua leveza e facilidade de jogar. Apesar de ter gostado de ver um pouco mais de desafio neste título (principalmente depois do jogo anterior), Shantae and the Seven Sirens apresenta uma experiência de jogo coesa, com um mapa que é atravessado pelos jogadores de forma fluida e lógica, nunca tendo um único momento morto ou mais chato. É um dos melhores títulos da série, e de cada vez que termino uma nova aventura de Shantae, fico logo na expectativa de ver o que é que a WayForward terá para nos surpreender a seguir. A fórmula aqui apresentada é quase perfeita, precisava de alguns ajustes, mas não deixa de ter o seu mérito e de ser um excelente metroidvania.

Opinião Final:

Shantae and the Seven Sirens é um dos melhores títulos da série Shantae e deixa-me muito contente por esta série de jogos ter conseguido sobreviver a um lançamento tremido. Shantae é uma personagem adorável (bem como os seus amigos) e é bom ver que a WayForward decidiu abraçar em pleno as inspirações metroidvania, criando aqui toda uma experiência para lá de divertida. Apesar de o jogo não ser muito difícil, aqui o que interessa é sem dúvida a viagem e, apesar de alguns pontos menos bons, sem dúvida que vale a pena.

Do que gostamos:

  • Mais Shantae!
  • Mapa fluido e com diversas áreas a explorar;
  • Acesso aos poderes e danças integrado de forma bem intuitiva nos controlos;
  • Introdução das cartas coleccionáveis;
  • As cutscenes animadas tornam toda a experiência de jogo mais polida e divertida.

Do que não gostamos:

  • Mapa não assinala pick-ups deixados para trás, nem permite marcações;
  • É muito fácil adquirir os upgrades de ataque, diminuindo a dificuldade muito cedo.

Nota: 9/10