Song of Horror – Análise

O género de survival horror tem tido alguns altos e baixos. Apesar de Resident Evil se manter forte como franchise, a chegada de novos títulos de qualidade não tem sido uma ocorrência muito frequente. Volta e meia, vemos o lançamento de títulos independentes que visam manter o género vivo, como é o caso deste Song of Horror.

Desenvolvido pelo estúdio espanhol Protocol Games, Song of Horror coloca o jogador no papel de várias personagens que tentam descobrir o que se passa por detrás do mistério do desaparecimento do escritor Sebastian P. Husher. Começamos a história no papel de Daniel, um assistente da editora de Sebastian. O seu chefe, Etienne, liga-lhe e pede-lhe que se desloque à casa de Sebastian, uma vez que este não entregou o seu último manuscrito no prazo estipulado. Daniel assim o faz e acaba por se deparar não com Sebastian, mas com uma Presença obscura que permeia a casa, aparentemente ligada a uma estranha caixa de música que Sebastian recebeu anteriormente.

A história de Song of Horror desenrola-se ao longo de cinco capítulos e no início de cada um deles podemos escolher qual a personagem a utilizar, sendo que em cada capítulo o rol de personagens é normalmente diferente dos anteriores (com uma ou outra excepção). É aqui que Song of Horror se tenta diferenciar dos demais, uma vez que cada personagem (de entre uma mão cheia delas) tem diferentes estatísticas, como Strength, Stealth, Serenity e Velocity. Na teoria, estas estatísticas levariam a que o desenrolar do jogo com diferentes personagens tivesse diferentes caminhos, ou que pelo menos existisse alguma diferença na jogabilidade, mas na prática acaba por não ser bem assim e acabei por ficar um pouco desiludida.

O jogador explora os diferentes ambientes de cada capítulo na terceira pessoa, sendo este um jogo de terror com uma vertente de exploração e resolução de puzzles. Não existe combate, pelo que se se depararem com a ameaça da Presença – podendo esta manifestar-se de várias formas – a vossa única hipótese é esconderem-se e/ou passarem por uma sequência de quick time events que poderá fazer a diferença entre a vida e a morte. Estas sequências conseguem ser tensas, mas, como em todos os jogos de terror, rapidamente o game loop se torna familiar e acabam por não ser mais do que inconveniências aleatórias que quebram o ritmo de jogo.

Sim senhor, vou com certeza explorar esta casa escura e arrepiante.

Adicionalmente, o jogo introduz uma mecânica de morte permanente. Ou seja, se a personagem que estão a controlar acaba por morrer por um infortúnio do destino, essa personagem morre e têm de retomar o capítulo com outra personagem. Todos os itens que a personagem anterior recolheu na sua aventura ficam largados onde esta morreu, pelo que o jogador pode retomar a sua aventura e voltar a conseguir estes itens. Se morrerem todas as personagens, então meus amigos, acabou a vossa aventura e não têm outra opção a não ser reiniciar o capítulo.

Mais uma vez repito que fiquei desiludida quando efetivamente pude ver estas mecânicas em prática. Culpa minha, que esperava uma coisa mais tipo Maniac Mansion, uma vez que o conceito é efetivamente bom, algo que já não se pode dizer da execução. A constante ameaça da morte permanente é eficaz numa fase inicial, criando tensão no jogador, obrigando a que o mesmo dê um passinho de cada vez com mil cuidados, ouvindo cuidadosamente o que se passa por trás de portas, antes de as abrir… avaliando as suas decisões, uma vez que um passo em falso pode resultar em morte. Contudo, na prática esta é uma mecânica que apenas resulta em frustração. Logo no primeiro capítulo acabei por deixar a minha última personagem morrer e deparei-me com a única hipótese – reiniciar o capítulo. Desliguei a consola, fui fazer outra coisa e só depois mais tarde é que ganhei coragem para voltar a pegar no jogo, e porquê? Porque isso significava que teria de fazer tudo exatamente igual, fazer os mesmos puzzles da mesma forma, tomar os mesmos caminhos, porque o jogo não só é extremamente linear mas as personagens acabam por não ter qualquer diferença notória entre si, fazendo com que a experiência seja igual se jogarmos com o Zé Manel ou com a Maria.

Não vos vou mentir, senti-me um pouco defraudada. O jogo promete muito, logo desde o início, apresentando níveis de dificuldade com nomes de autores de terror famosos, avisando do sistema de morte permanente, mostrando estatísticas e itens próprios de cada personagem. Ingénua que fui, esperava uma experiência de terror um pouquinho menos linear. Lá está, Maniac Mansion conseguiu fazer algo similar há 34 anos atrás. Não era pedir muito, penso eu. Mas a experiência vai para além do sentimento de tensão e terror e acaba por ficar-se pela frustração e cansaço. Rapidamente mudei a dificuldade para o nível mais baixo (E.T.A. Hoffmann, autor do meu coração), que permite fazer reload de um checkpoint antes da vossa personagem morrer ou continuar com outra personagem. Não me julguem, simplesmente não conseguia lidar com o facto de ter de fazer todo um capítulo novamente, estando tão perto do final, sem qualquer diferença na jogabilidade.

Já disse que não quero mudar de operador!

A isto, junta-se o facto de ser um pouco difícil entrar no ambiente de terror quando as atuações das personagens são, na sua grande maioria, medíocres. Eu sei que jogos indie muitas vezes não têm os mesmos recursos, e eu adoro e respeito imenso o esforço de produtores independentes mas é difícil por vezes levar a narrativa a sério quando as vozes das personagens são mázinhas.

Song of Horror consegue, no entanto, ser bem-sucedido nos ambientes que cria. A escuridão, a parca luz emanada pelas lanternas ou isqueiros das nossas personagens, os ângulos fixos que podem ser datados mas aqui são bem eficazes… tudo resulta em criar uma atmosfera opressiva e que efetivamente consegue criar tensão quando, de repente, a Presença decide dar um ar da sua graça e nos obriga a correr e esconder.

Mas um jogo é a soma das suas partes e, infelizmente, Song of Horror acaba por não conseguir ser bem-sucedido em todas as suas vertentes. Apesar de ser um jogo relativamente sólido e de apresentar conceitos diferentes e bem interessantes, a sua execução fica bem aquém do esperado e aquilo que o diferenciaria só acaba por destacar ainda mais os seus pontos fracos. No entanto, espero bem que isto seja um ponto de partida para termos mais jogos de terror da Protocol Games. As bases estão lá, é só preciso um pouco mais de polimento. É claro o amor pelo género de terror que é nutrido pela produtora e é deste tipo de fãs que o survival horror necessita para sobreviver no mundo dos videojogos.

Opinião final:

Song of Horror tenta fazer muita coisa diferente, mas funciona melhor se se assumir como uma experiência narrativa de terror. Apesar de não atingir todos os seus objetivos, espero que esta seja uma oportunidade para que a Protocol Games explore mais o género.

Do que gostamos:

  • Ambiente criado bem propício a uma história clássica de terror;
  • Possibilidade de utilizar várias personagens tinha o potencial para ser diferenciador, mas…

Do que não gostamos:

  • Resultado foi diferentes personagens com diferentes estatísticas mas com jogabilidade basicamente igual;
  • Mecânica de morte permanente acaba por ser frustrante dada a linearidade do jogo.

Nota: 6,5/10