OBS: O jogo foi testado na versão para PC e a escolha de se unirem os dois episódios foi do próprio redator, por dois fatores principais: o primeiro deles, o atraso por problemas no desempenho do primeiro episódio; o segundo, por notar que não era possível explorar a história sem revelar informações importantes e que podem ser consideradas spoiler, sendo assim não é indicado lerem esta análise caso não tenham jogado ainda o primeiro episódio.
A Telltale Games tornou-se famosa por adaptar franquias mundialmente conhecidas para o seu universo, como por exemplo The Walking Dead, Game of Thrones e até mesmo Borderlands. E, recentemente, aceitou o desafio de criar a sua própria versão de um dos personagens mais famosos e icónicos do universo da DC Comics, Batman.
O principal desafio do estúdio era o facto de todas as franquias que tinha adaptado anteriormente terem uma história própria, no caso do Batman essa história própria possui até hoje diversas ramificações que foram exploradas durante os últimos 77 anos desde a sua criação por diversos autores, e nem todas com o devido cuidado e dedicação que o personagem tanto merece, então uma escolha errada poderia gerar um ódio massivo por parte dos fãs do herói. Talvez por isso a Telltale Games tenha optado por apenas ir buscar inspirações a sagas clássicas e outras mais recentes para criar um universo que combina tanto obras de outros autores como ideias próprias do estúdio.
O primeiro episódio, intitulado “Reino das Sombras” já coloca os jogadores no meio de uma intensa cena de ação onde o Batman terá de impedir o assalto a um banco, ao mesmo tempo que a história é cortada e é apresentada uma cena no futuro, em momentos específicos onde vemos Bruce Wayne a ter um conversa com Alfred onde escolhe bem as palavras para justificar as consequências da sua luta. E é nesse momento que as mecânicas do jogo são apresentadas e o clima da história é estabelecido, com Bruce Wayne e Batman a coexistirem durante toda a campanha.
A Telltale fez uma escolha arriscada ao escolher um Batman ainda jovem e inexperiente, mas uma escolha extremamente acertada, já que traz dois elementos muito especiais tanto para os fãs de longa data do herói como para os mais recentes, que é a possibilidade de entrar na mente do personagem e a possibilidade de viver momentos icónicos na vida tanto do Bruce Wayne quanto da do próprio Batman, momentos que até hoje deixaram cicatrizes na personagem.
Apesar dos jogos da Rocksteady serem excelentes naquilo que se comprometem, é sem duvida alguma em Batman The Telltale Series que os jogadores vão mesmo sentir-se na pele do morcego, pois a Telltale teve o cuidado não apenas de recriar a personagem e o seu universo, como também a sua personalidade, então a todo o momento o jogador, principalmente se for fã, vai sentir como se ele fosse o próprio Batman na hora de responder e tomar decisões. E o melhor exemplo desta sensação e do respeito que a Telltale teve para com o universo da personagem surge no segundo episódio, onde os jogadores são apresentados a situações e arcos que são bem conhecidos dos fãs de longa data do herói e que imediatamente, ao serem introduzidos, dão ao jogador um efeito nostálgico incrível, pois sabe o que aquela decisão irá gerar tanto a longo prazo nos próximos episódios, quanto a curto prazo já no segundo episódio, mostrando ao jogador na primeira pessoa a dificuldade e as consequências de muitas decisões com que o personagem teve de lidar durante esses 77 anos.
O segundo episódio, intitulado “Filhos de Arkham”, coloca os jogadores imediatamente após os acontecimentos do primeiro episódio, tendo de lidar com as alegações de que a família Wayne esteve envolvida com a máfia da Família Falcone, a desconfiança naquele que ele sempre confiou, a ligação ao seu grande amigo Harvey Dent e o aparecimento misterioso do seu amigo de infância, Oswald Cobblepot, com ideologias questionáveis para Gotham.
Este episódio intensifica ainda mais a história do passado da Familia Wayne e coloca Bruce Wayne mais do que nunca numa luta não apenas com os perigos de Gotham mas também com o seu próprio passado e o da sua família que até então era totalmente desconhecido para ele e tem nesse momento tem um efeito dramático na sua vida pessoal e até mesmo na sua segunda vida como Batman, e como muitas vezes é repetido durante os dois primeiros episódios, ele rapidamente se vê em situações onde aqueles que ele confiava se mostram inimigos e aqueles que ele considerava inimigos se mostram melhores aliados do que nunca.
Se no primeiro episódio os momentos em que o jogador estava no pele de Bruce Wayne e Batman estava bem equilibrados, neste segundo episódio já vemos uma clara diferença entre os dois, com as partes do Bruce Wayne a serem mais focadas no diálogo, enquanto que Batman quase que funciona como uma sequência nos momentos em que o diálogo falha e o punho funciona melhor, e isso poderá ser bem visível num momento específico do episódio, onde o jogador terá nas mãos a decisão de optar pela negociação amigável ou “não tão amigável”. Apesar disso, o equilíbrio ainda existe e Bruce Wayne também mostra que não é apenas com o traje do Batman que consegue causar dano.
Apesar de ser uma personagem que, para alguns, passa despercebida nas histórias, Alfred mais do que nunca mostra que merece uma atenção especial independentemente das escolhas do jogador e, principalmente no segundo episódio, ganha um destaque ainda mais especial, servindo como um grande conselheiro para Bruce Wayne, especialmente na hora de garantir que o Batman não está a perder-se no caminho de se tornar um herói para Gotham.
Uma dica interessante para os jogadores mais dedicados à história e fãs da personagem é dedicar um tempo adicional aos detalhes, principalmente quando estiverem na Batcaverna, com destaque para as notícias, onde poderão identificar várias referências a vários vilões e situações do universo Batman.
Apesar de existirem neste jogo elementos únicos, traços tradicionais dos jogos da Telltale Games estão bem presentes no jogo, como a escolha nos diálogos, exploração de cenários e principalmente os QTEs, que em momento algum trazem um desafio ao jogador, a estar ali em parte como um elemento tradicional dos jogos do estúdio e em parte para não gerar uma quebra no ritmo das cenas, sendo assim, não traz propriamente emoções e intensidades exageradas a quem já está familiarizado com o estilo. Como não poderia deixar de acontecer, o jogo traz um elemento já conhecido do personagem, que é o Modo Detetive, onde o Batman terá que investigar evidências e combiná-las para resolver algum mistério, ou até mesmo nos combates em steatlh, onde o Batman ativa esse modo e cabe ao jogador decidir como vai eliminar as ameaças sem atrair muita atenção.
Talvez a principal novidade que Batman The Telltale Series traz é o Crowd Play, onde o jogador tem a oportunidade de convidar quem ele quiser para tomar decisões durante a sua partida, a trazer assim um elemento inovador às múltiplas decisões a que os jogos do estúdio já acostumaram os fãs.
A nível gráfico, Batman The Telltale Series não foi buscar inspiração em nenhuma adaptação específica do herói em outra media, a dar a sua própria interpretação para personagens clássicos como Alfred, Selina ou Cobblepot. Entretanto, mantém o estilo a que os jogadores dos jogos da Telltale já estão acostumados, com um visual com texturas planas e minimalistas, além do problema já antigo da movimentação e ação dos personagens em vários momentos serem muito pesados, principalmente na exploração dos cenários. O que não é, de todo, uma surpresa, já que o jogo continua a utilizar o mesmo motor dos anteriores, e isso traz talvez o maior problema vivido pelos jogadores no PC, que é o desempenho do jogo. No lançamento do primeiro episódio, a grande maioria dos jogadores no PC teve uma péssima experiência com o jogo, principalmente com o framerate totalmente instável. Algumas semanas e patchs depois, o jogo teve uma melhoria significativa…mas não total.
O início do segundo episódio é um momento que vai testar a paciência de alguns jogadores, com os FPS a voltar a ter quedas e o jogo a «engasgar» em vários momentos, provavelmente pelo facto de alguma cena se passar num cenário com muita chuva e com diferentes focos de iluminação. Felizmente, as quedas ficam-se apenas pelo início, com o restante episódio a não voltar a ter este tipo de problemas.
Outra crítica a nível gráfico fica pelo aspeto repetitivo de alguns inimigos, policias e pessoas que não têm destaque na história, não sendo algo que vá incomodar, mas facilmente percebido em momentos em que o jogador irá constatar facilmente que numa mesma cena estão dois inimigos com roupas totalmente iguais, até mesmo nos acessórios e armas.
Opinião final:
Em resumo, aquilo que foi possível ver no primeiro e segundo episódios de Batman The Telltale Series mostra que talvez a Telltale tenha encontrado a sua nova franquia de destaque depois de The Walking Dead, já que não apenas dá ao jogador experiente ou casual uma experiência única, como também dá ao fã do personagem, tanto na pele do Bruce Wayne quanto na do próprio Batman algo de que se pode realmente sentir honrado de “viver” na primeira pessoa, algo que até então não tinha sido oferecido de maneira tão perfeita em nenhum outro meio além da banda desenhada. Infelizmente, os problemas gráficos mantêm-se e os momentos de QTEs nem sempre trazem a emoção que deveriam em todos os momentos, para quem já está acostumado a esta mecânica em outros jogos da Telltale. Resta apenas saber se a Telltale Games vai conseguir manter o mesmo ritmo nos próximos episódios.
Do que gostamos:
- Adaptação perfeita do personagem e da sua personalidade;
- História que combina obras de outros autores com ideias próprias do estúdio;
- Equilíbrio e transição entre Bruce Wayne e Batman;
- Adaptação própria de personagens clássicos.
Do que não gostamos:
- Motor de jogo claramente ultrapassado;
- FPS instável;
- Problemas de desempenho na versão para PC.
Nota: 9/10
Fizemos a análise a temporada completa, então se tiver curiosidade podem ler a nossa análise aos próximos episódios abaixo: