Atomic Heart – Análise

Atomic Heart certamente tem vindo a solidificar-se no pódio dos jogos mais esperados do primeiro quarto do ano de 2023. Será que as expectativas serão alcançadas?

Os jogadores assumem o papel do Major Sergey “P-3” Nechaev que trata de situações para um Dmitriy Sechenov.

Acontece que Sechenov é um visionário que criou uma substância conhecida como Polímero que é utilizada para, bem, qualquer coisa. Além disso, o bom médico está a lançar Kollectiv 2.0, uma rede neural que permite que as máquinas comuniquem entre si e com os humanos através de algo chamado dispositivo THOUGHT.

Estes seres humanos são polimerizados, tal como o P-3 que também tem acesso a uma luva especial chamada CHARLES. Esta luva é tanto a sua companheira oferecendo dicas ao jogador como uma ferramenta que pode ser utilizada para interagir com o meio ambiente e desperdiçar os inimigos.

A história tem lugar em 1955, depois de a Rússia ter ganho a 2ª Guerra Mundial, sim, ganhou a guerra. O país entrou num boom tecnológico desde esses dias e as máquinas libertaram os humanos do trabalho físico. A Instalação 3826 é uma espécie de cidade conceptual na qual os robôs colaboram com os humanos, a energia solar faz correr tudo e as pessoas transportam-se de área em área utilizando monocarris e veículos voadores.

Depois de os jogadores se familiarizarem com o sistema de movimento e a funcionalidade básica de CHARLES, somos atirados para o jogo em concreto.

É aqui que as primeiras fissuras no Atomic Heart começam a aparecer. Os sistemas de combate em jogo aqui são lamentáveis. O combate inclui o uso de armas de combate corpo-a-corpo, armas de fogo e habilidades. Todas elas podem ser utilizadas ao mesmo tempo e isso pode permitir alguns cenários de combate interessantes.

O problema é que alternar perante as opções de combate é incómodo, exatamente o contrário daquilo que se pede num sistema deste género. As armas têm uma velocidade algo elevada para serem utilizáveis e a mudança entre elas requer algum hábito para se realizarem. Os inimigos movem-se constantemente em direção ao jogador, o que faz com que, na maioria das vezes, se instale o caos completo por estares num canto da sala e seres completamente rodeado por robôs.

Para além disso, não existe um sistema de bloqueio de mira, pelo que os jogadores são deixados à vontade quando se envolvem em combate corpo a corpo, que será o principal método de combate que a utilizar devido à escassez de munições.

As armas de fogo são fortes mas difíceis de controlar. Isto pode não ser um problema no PC, onde um rato pode atingir inimigos de forma precisa, mas na consola a experiência de mira da arma pode vir a ser um problema.

Uma vez no mundo aberto, o combate torna-se uma chatice e houve muitos casos em que simplesmente fugi dos inimigos em vez de os tentar enfrentar.

Um dos grandes problemas deste jogo são os bosses. Neste caso, o boss em questão é capaz de se tornar uma bola giratória que persegue o jogador em torno de uma área. O inimigo move-se rapidamente e aqui encontramos o próximo grande problema do Atomic Heart – o P-3 move-se como um caracol. Neste combate com este boss em particular, os jogadores precisam de levantar plataformas para fazer com que ele se atire a elas, atordoando-as.

Atenção, para mim, o problema não está relacionado com a dificuldade em si, mas sim com o quão mais difícil se torna a experiência com o tipo de controlos e movimentação que nos é disponibilizada. Até porque, pelo contrário, os bosses em si são por norma demasiado fácil e oferecem desafios algo ridículos. Isto pode ser visto em encontros regulares no mundo aberto, em que um movimento errado o te porá envolvido por robôs que podem atacar de uma só vez e deixar-te no chão. Claro que podes sempre voltar atrás e tentar novamente, mas após a tua quinta passagem por uma área, sendo visto por câmaras e depois encontrando no meio de um enxame de robôs, é secante.

Isto é extremamente problemático, pois a exploração e o loot são partes essenciais de Atomic Heart. Os jogadores precisam de pilhar tudo o que puderem para melhorar o seu equipamento, mas isto está em desacordo com a necessidade de limpar um grupo de inimigos sempre que se quiser pilhar uma área circundante. Isto é agravado pelo facto de que, se entretanto morrerem e tentarem novamente, os inimigos irão reaparecer juntamente convosco quando tentarem reiniciar a área.

A razão pela qual o saque é tão importante é porque neste jogo há um foco maciço no armazenamento de tudo, desde armas a munições. Os jogadores encontrarão plantas e consumíveis à volta do mapa que utilizarão para criar mantimentos durante todo o seu tempo de jogo.

Os upgrades também são importantes e podes facilmente reembolsar Polímero gasto para experimentar novas capacidades que podem vir a ser divertidas e a estar mais de encontro ao teu estilo de jogo.

A Instalação 3826, embora impressionante, torna-se rapidamente num marcador social que diferencia os que têm e os que não têm capacidades monetárias. Enquanto algumas áreas da instalação são revestidas a ouro, outras são mais sinistras. A primeira área que se encontra é subterrânea e há algo bastante repugnante em ver paisagens falsas projetadas em ecrãs de vídeo enquanto se lê sobre os horrores do que acontece em alguns dos laboratórios.

Existe naturalmente propaganda da Era Russa/Soviética, mas é utilizada como uma ferramenta eficaz que faz com que o jogador olhe para o diálogo de forma curiosa. Mesmo a devoção de P-3 a Sechenov é alarmante, tal como a propaganda interminável que se faz ao jogador. Isto funciona para semear a desconfiança nos poderes que estão em jogo. Descobrir o que está realmente a acontecer nas Instalações é um grande motivador para empurrar os jogadores para a frente, especialmente quando parece que só temos parte da história.

Contudo, para todos os pontos altos da história, o combate e o movimento neste jogo acabam com o trabalho árduo que a narrativa coloca e os jogadores acabam provavelmente por se sentir mais frustrados do que intrigados. Os ambientes, a música e os modelos de tudo, desde os jogadores aos robôs, são incrivelmente bem feitos, mas infelizmente é difícil concentrar-se nas vitórias com tantos problemas no jogo que dificultam a experiência global.

Aqui está a questão – Atomic Heart está disponível desde o primeiro dia como parte da Xbox e do PC Game Pass. Isto torna suficientemente fácil dizer “dá uma vista de olhos se tiveres um PC ou uma Xbox”. Gastar dinheiro com isto, no entanto, é onde preciso de intervir.

Por mais convincente que seja a história de Atomic Heart, o combate e o movimento servem apenas para frustrar os jogadores. Há grandes momentos neste jogo que te vão fazer cair o maxilar, mas momentos mais tarde estarás a puxar os cabelos em frustração.

Os visuais de Atomic Heart são espectacular de se ver mas, tal como o jogo, a arte visual esconde um jogo com controlos janky e um sistema de combate que cria mais frustração do que uma sensação de poder. A performance mantém-se sólida durante o jogo inteiro, com pequenos drops de vez em quando. Infelizmente, este é daqueles jogos em que realmente perdes parte da experiência ao utilizar settings gráficos inferiores, pelo que sugiro que analises bem a plataforma em que vais jogar.

Um sistema de mira, opções de linguagem, melhor velocidade de movimento e inimigos que não se aglomeram no jogador poderiam ser corrigidos com patches mas como este é o primeiro jogo da Mundfish, não tenho a certeza do que esperar no que diz respeito ao apoio pós-lançamento.

Opinião Final:

Atomic Heart pode acabar por não corresponder às expectativas de todos. Apesar de serem claras as inspirações que aqui estão intrínsecas, Atomic Heart acaba por ter muito de tudo e pouco de si próprio. A movimentações e controlos em geral pouco fluídos, acabam por retirar a magia dos visuais e enredo. A pergunta que se coloca é a de porquê comprar Atomic Heart quando as suas claras inspirações se conseguem encontrar em preços já bastante reduzidos e, ao mesmo tempo, oferecendo uma experiência completa e original, pelo menos à data de lançamento.

Do que gostamos:

  • Enredo;
  • Quantidade de upgrades e possibilidade de criação de várias builds;
  • Qualidade dos visuais e performance não desapontam na maioria da experiência.

Do que não gostamos:

  • Combate;
  • Infantilidade dos bosses;
  • Mais frustrante que difícil.

Nota: 7/10

Análise efetuada com um código PC cedido gentilmente pela distribuidora.