Estúdios: MAPPA e Tezuka Productions
Exibição: 07 de Janeiro 2019 – ?
Temporada: Inverno 2019
Diretor: Kazuhiro Furuhashi
Designer: Satoshi Iwataki
Autor Original: Osamu Tezuka
Género: Shounen; Ação e Aventura; Demónios.
Inspiração: Mangá
Finalmente consegui ver o segundo episódio de Dororo que foi exibido no Japão na última Segunda-feira (dia 14 de janeiro) e o mesmo deixa bem claro que o anime irá seguir um estilo muito diferente do mangá, tanto ao nível de design, como ao nível do próprio clima da sua narrativa. Mas vamos por partes (literalmente).
Antes de partirmos para a sinopse e opinião, vamos a um breve esclarecimento. Caso não tenham lido o artigo de opinião sobre Tate no Yuusha no Nariagari e Yakusoku no Neverland, escritos recentemente, haverá uma mudança na estrutura dos textos, onde no topo do texto haverá informações técnicas sobre o anime/episódio e irei dividir o texto sempre entre a “Descrição do Episódio” e “Opinião Pessoal”. Além disso, obviamente irei tentar evitar spoilers sobre possíveis acontecimentos futuros, mas alguns spoilers do próprio episódio são inevitáveis, pelo que é sempre aconselhado que primeiro vejam o episódio e só depois leiam este artigo de opinião. Ok? Então vamos lá.
Descrição do Episódio
Neste capítulo temos então a continuação da história apresentada no primeiro episódio, onde após o combate contra o primeiro demónio, Dororo decidiu juntar-se a Hyakkimaru na sua jornada em busca das outras partes do seu corpo.
Assim, enquanto o primeiro episódio tinha como foco a origem de Hyakkimaru, neste segundo episódio vemos um maior foco na construção da relação entre Dororo e Hyakkimaru. Além de algumas explicações mais detalhadas sobre as habilidades sobrenaturais deste último, como o facto de que apesar de não enxergar de uma forma tradicional, ter uma visão especial que é representada dentro do mundo do anime como sendo capaz de ver a alma de cada criatura e assim reconhecer, através da cor, quem é seu aliado (normalmente, estes têm uma cor branca) ou um inimigo (normalmente com uma cor de sangue).
Esta dicotomia ganha contornos interessantes, já que apesar do grande destaque ser Hyakkimaru, aquilo que o espectador vê está de acordo com a visão padrão, de Dororo. Neste segundo episódio é-nos apresentada uma situação em que ambos vão parar a uma aldeia, com a missão de matar um demónio que está a “atacar” a mesma. E vemos, de um lado, um monstro com uma cabeça gigante que carrega um sino estranho, assim como também uma bela mulher que aparentemente tem uma deficiência nas pernas que não lhe permite andar ou levantar-se da sua cama. Obviamente que o episódio rapidamente nos mostra que nem tudo é exatamente como os nossos olhos nos fazem crer e essa bela mulher, na verdade, é um grande demónio, e o tal “monstro” na verdade é alguém totalmente inocente.
Temos também o primeiro encontro da dupla com o idoso apresentado no primeiro episódio, e que neste segundo capítulo tem a função de basicamente servir de voz para Hyakkimaru (já que ambos partilham da mesma habilidade), além, é claro, de clarificar alguns eventos tanto para o próprio Dororo, como para quem está a assistir.
Algo muito interessante é que apesar de se focar nesse núcleo central de personagens à volta de Hyakkimaru, o anime não se esqueceu do seu pai, Daigo. Este que claramente está cada vez mais tenso e nervoso, já que notou mudanças no Templo do Inferno, algo de que o próprio monge no primeiro episódio já lhe havia avisado. Afinal, quando se faz um pacto com demónios, há que se estar preparado para lidar com o inferno, e tudo indica que o inferno se aproxima através de Hyakkimaru.
Opinião Pessoal
Como tinha sido mencionado no artigo do primeiro episódio, Dororo era o anime desta temporada de Inverno 2019 que eu menos havia pesquisado ou tido contacto com a obra original. No máximo, tinha apenas visto algumas imagens. Porém, tive a curiosidade de procurar mais sobre a obra original, até para ter uma melhor noção da relação com o que vem sendo apresentado no anime, e posso afirmar sem medo… são duas obras completamente diferentes.
Ok, completamente pode ser um exagero, mas o mangá escrito por Osamu Tezuka entre 1967-1987, tem um tom muito mais infantil e despreocupado com grande explicações sobre alguns elementos e temos um Hyakkimaru que é capaz de comunicar e até de ouvir. Mas qual a explicação para isso? Os elementos sobrenaturais apenas tornam a interação entre Hyakkimaru e Dororo mais fácil. Além disso, o próprio design é muito “cartoonesco”, o que quebra muito o clima tenso que a obra naturalmente deveria ter, algo que até para a época em que foi criado já não era comum.
Apesar de graficamente estranho até para a época, esta opção teve um fator positivo, já que Osamu Tezuka nada mais é do que o criador de uma das maiores, se não mesmo da maior obra oriental já feita até hoje, Astro Boy (Tetsuwan Atom), e até aos dias atuais é lembrado no Japão como o “pai do mangá moderno”. Então boa parte da popularidade dos mangás e animes no mundo ocidental é devida a esse estilo de Tezuka, que tornou essas obras mais “palatáveis” para o público ocidental, e popularizou esse tipo de obras por cá.
Porém, mangás e animes já estão bem inseridos dentro da cultura ocidental, então esse estilo de arte é algo que não iria ser tão bem recebido atualmente. E daí que a liberdade artística tomada por Satoshi Iwataki no anime, foi algo que só veio beneficiar a obra, já que deixa de lado o estilo “cartoon” e mergulha de cabeça num estilo característico das obras orientais, dando prioridade àquilo que é mais importante em cada cena. Será comum ver vegetações e casas com um design rudimentar, ao passo que Dororo estará extremamente detalhado.
Obviamente que o diretor Kazuhiro Furuhashi merece também muitos aplausos já que também conseguiu abandonar esse tom mais infantil e humorístico, adaptando a obra com fidelidade no seu conceito, mas com muito mais tensão e atenção a detalhes até básicos, mas que beneficiam a imersão do público, como o próprio facto de Hyakkimaru ainda não conseguir falar. Em vez de simplesmente seguir o caminho mais fácil, Furuhashi preferiu recorrer a um recurso narrativo simples de introduzir uma personagem que partilha da mesma deficiência que Hyakkimaru, mas que é capaz de servir como voz das suas ações e habilidades.
Outro detalhe interessante é o conceito de recuperação das partes do corpo de Hyakkimaru. A personagem no primeiro episódio finalmente conseguiu recuperar o seu rosto e, neste segundo, foi capaz de recuperar o seu sistema nervoso, o que me faz pensar que realmente iremos acompanhar, a cada episódio, uma luta contra um dos demónios e a consequente recuperação de uma parte do corpo. Esta estrutura é interessante, já que veremos como as novas conquistas vão afetar as lutas posteriores e a interação de Hyakkimaru com o mundo e as personagens. Afinal, com o sistema nervoso recuperado agora será capaz de sentir dor, pelo que uma abordagem tão agressiva como a que aconteceu neste episódio terá que ser evitada. Mas, ao mesmo tempo, e até por aquilo que é possível ver na abertura, o anime pretende quase que criar dois núcleos narrativos diferentes.
De um lado, a parte da ação – que será a dos momentos de encontro com esses demónios e consequentemente a recuperação de uma parte do corpo de Hyakkimaru. De outro, uma narrativa realmente voltada para a exploração da personagem e de todos os que estão à sua volta, até mesmo de personagens que não são muito próximos, como é o caso de Daigo. Com isso, o anime promete não cair num problema inevitável deste tipo de obras, que é a monotonia causada pela repetição de uma mesma ação, já que 12 episódios de “encontrar um demónio, derrotar o demónio e recuperar parte do corpo” rapidamente se tornaria cansativo.
Um outro ponto muito positivo é a própria adaptação de Dororo. Como mencionei, na obra original até o próprio Hyakkimaru, mesmo com todas as suas limitações, é uma personagem sem esse peso dramático tão característico, então imagine uma personagem que é naturalmente um alívio cómico. Dororo ainda é uma personagem com características mais leves, mas claramente o diretor decidiu reduzir um pouco essa carga de humor trazida pelo mesmo, mantendo assim o anime dentro de um limite aceitável de humor, mas apenas em momentos pontuais, que servem o propósito de deixar o público respirar no meio de toda a tensão trazida por Hyakkimaru.
Mas nem tudo é perfeito. Infelizmente, tanto no primeiro episódio, como neste segundo, os combates estão demasiado fáceis para o protagonista. Realmente eu esperava que Hyakkimaru tivesse alguma dificuldade nos combates, mesmo nos iniciais, mas na verdade este anime abandona algo muito importante em animes que têm elementos de combate: o crescimento gradual da ação. Temos um primeiro embate entre Hyakkimaru e um demónio, temos o confronto, e no momento em que se poderia explorar o confronto ou até incluir diálogo… Hyakkimaru simplesmente crava uma espada no seu adversário e elimina o demónio. É possível que agora com a recuperação do sistema nervoso isso mude um pouco, já que deverá ter uma maior dificuldade nos combates devido ao facto de agora sentir dor, mas vamos ter mesmo que esperar pelo próximo episódio para descobrir.