Planescape: Torment & Icewind Dale: Enhanced Edition – Análise

À semelhança de Baldur’s Gate e Baldur’s Gate 2 (podem ler a nossa Análise aos mesmos aqui), chega-nos agora à Nintendo Switch um pacote com mais dois clássicos do género RPGPlanescape: Torment e Icewind Dale.

Enquanto que no primeiro pacote tínhamos dois clássicos desenvolvidos pela BioWare – que ainda hoje são citados como uma grande influência nos RPGs ocidentais – com este segundo pacote temos duas apostas com uma base igual (utilizando o mesmo motor e regras base de jogo), mas extremamente diferentes entre si – por sua vez criados pela Black Isle Studios.

Baldur’s Gate e Baldur’s Gate 2 não eram apenas jogos que utilizavam as regras de Dungeon & Dragons – todo o seu ambiente e história tinham uma clara inspiração naquilo que um leigo vê como sendo o mundo de D&D, que ajudou a definir e redefinir como vemos hoje em dia o género da fantasia (com todas as inúmeras influências que o precederam). Icewind Dale manteve esta abordagem, inspirando-se nos livros da trilogia The Icewind Dale de R.A. Salvatore, e lança o jogador de imediato para o meio daquilo que poderia ser perfeitamente uma qualquer campanha do famoso jogo de mesa. O início até acaba por recair nos tropes do género, com o jogador a começar de imediato o jogo com uma party completa (ao contrário daquilo que é usual) numa taverna, obtendo uma missão e lançando-se à aventura sem grandes demoras.

Icewind Dale acaba por se destacar dos outros jogos aqui referidos por ter uma abordagem mais similar a um dungeon crawler, constituindo um Action RPG com muuuuito hack ‘n’ slash, e contrastando com as experiências mais focadas no enredo, como a dos seus predecessores. A história não foi deixada de parte, mas se esperarem aqui um jogo com a profundidade de Baldur’s Gate, poderão ficar desiludidos relativamente a alguns aspectos. Não quero com isto dizer que Icewind Dale é só porrada sem qualquer história, muito pelo contrário, mas certas componentes que foram criadas/cimentadas em BGII – como a interação e romances entre membros da nossa party – foram deixadas de parte. Ainda assim, não se preocupem, têm muitas sidequests com que se entreter no meio de toda a bicharada que forem matando. Esta Enhanced Edition tem imenso conteúdo, incluindo não só o jogo original, mas ainda as expansões Icewind Dale: Heart of Winter e Trials of the Luremaster.

Icewind Dale é basicamente porrada em bicharada no gelo. Assim resumidamente.

À semelhança dos Baldur’s Gate, existe aqui também a possibilidade de optarem pela dificuldade Story Mode, que torna as vossas personagens invencíveis e que é ideal para aqueles que pretendem apenas descobrir a história. No entanto, como Icewind Dale é mais focado nas suas componentes de Action RPG, este modo acaba por retirar um pouco à experiência do jogo em si. Sendo um jogo mais recente, Icewind Dale não é tão impiedoso como, por exemplo, o primeiro Baldur’s Gate e o seu desafio é mais do que bem-vindo. Ainda assim, continua a contar com vários modos de dificuldade, sendo mais um título bastante inclusivo no que toca aos seus jogadores. Não se iludam, estamos a lidar com jogos densos, com regras densas e cujas curvas de aprendizagem podem afastar os jogadores mais novatos.

Estes são títulos conhecidos pela enorme quantidade de texto que os acompanham, assim como pela sua narrativa. Icewind Dale consegue acompanhar os outros títulos até certo ponto, mas o seu ponto forte é sem dúvida a jogabilidade. Mesmo que não fiquem 100% investidos na sua história, é extremamente divertido levar à frente hordas de inimigos, tomando o máximo partido da vossa party.

Planescape: Torment foca-se no espectro oposto. De fora fica a criação de personagens, com os jogadores a assumirem o papel do misterioso The Nameless One – um homem imortal cujas memórias desaparecem sempre que morre. Considerado por muitos um dos melhores RPGs de sempre, Planescape: Torment dá muito mais destaque à narrativa, oferecendo uma experiência imersiva aos jogadores, com uma escrita absolutamente estelar. O mundo é retirado da campanha Planescape de D&D, afastando-se da noção pré-concebida dos conceitos de fantasia geralmente associados a Dungeons & Dragons, apresentando em contrapartida um mundo misterioso, mas extremamente interessante de explorar.

Não pensem também que vai ser sempre a andar, podem esperar muitas batalhas em Planescape. Contudo, ao retirar o foco do combate, Planescape: Torment torna-se muito mais fácil para novos jogadores, sempre com a ressalva de que as verdadeiras decisões são tomadas através do diálogo. Toda a ação tem uma consequência e cada experiência de jogo será certamente diferente. Neste não existe o modo de dificuldade Story Mode, mas têm à vossa disposição mais do que modos de dificuldade suficientes para que a experiência seja ajustada ao vosso gosto.

De entre os dois jogos, para mim Planescape: Torment é claramente o jogo superior, tendo envelhecido muito melhor e mantendo-se ainda uma experiência que faz com o jogador fique completamente absorvido no seu mundo. Já há algum tempo que não jogava um jogo que fizesse com que não sentisse as horas a passar.

Planescape: Torment, também conhecido pelo título “Como raio saio desta casa mortuária”.

Quanto às versões Enhanced de ambos os jogos, se jogaram Baldur’s Gate e Baldur’s Gate 2 na Nintendo Switch, podem aqui esperar essencialmente a mesma experiência no que toca a opções (como a possibilidade de fazer zoom ou aumentar o tipo de letra), bem como no que toca aos controlos. Como já referi na nossa análise ao pacote de Baldur’s Gate, os controlos foram perfeitamente adaptados à Switch, tornando a experiência extremamente fluída. Não precisamos de andar a clicar pelo cenário para movimentar as nossas personagens (mas podemos!), podendo simplesmente utilizar o analógico esquerdo para o fazer. Os esquemas de controlos são quase iguais em todos os jogos, passando pelos UI’s também bem iguais, com algumas diferenças nos menus radiais (acessíveis através dos botões ZR & ZL), mas nada muito significativo. O combate em ambos os jogos requer algum planeamento e estratégia, e, tal como em Baldur’s Gate, é possível personalizar a funcionalidade de Auto-Pause, permitindo que nunca sejamos apanhados de surpresa por um inimigo ou armadilhas.

Em termos de performance, apenas tenho a referir a experiência estranhíssima que tive com Planescape: Torment. Nos restantes jogos já referidos, e mesmo em Icewind Dale, quando o nosso personagem principal morre, a solução é carregar um jogo salvo. Já em Planescape: Torment, o nosso personagem quando morre acaba por volta à vida uma e outra vez. Por diversas vezes, aconteceu morrer e o jogo bloquear completamente no momento da ressurreição, não existindo qualquer opção a não ser reiniciar o jogo. Não existem aqui checkpoints como nos jogos mais modernos, existindo no entanto uma opção de Auto-Save quando mudam de área. No entanto, se não se habituarem a salvar o jogo muitas vezes e frequentemente, uma situação destas pode fazer-vos perder algumas horas de progresso.

Essencialmente, se quiserem fazer uma maratona de Baldur’s Gate, Baldur’s Gate 2, Planescape: Torment e Icewind Dale, terão experiências muito diferentes, mas com uma jogabilidade extremamente similar e familiar entre títulos. Como já referi na nossa análise a Baldur’s Gate, nunca pensei alguma vez vir a poder jogar este tipo de jogos numa portátil – ou até mesmo numa grande televisão. Longe vão os tempos em que tudo se resumia a um monitor, um teclado e um rato e a Beamdog conseguiu o feito de adaptar tão bem títulos tão queridos dos jogadores, mantendo a sua essência e tudo aquilo que os tornou em clássicos.

Acho que faz todo o sentido termos Baldur’s Gate e Baldur’s Gate 2 num só pacote, mas Icewind Dale e Planescape: Torment já me causam alguma estranheza juntos. Enquanto que para fãs antigos, provavelmente será uma oportunidade de terem aqui um dois em um, para novos jogadores será mais um tiro no escuro. Planescape: Torment e Icewind Dale são experiências que se situam em espectros opostos do Infinity Engine e quem gostar de um poderá facilmente desdenhar o outro. Ainda assim, são ambos experiências excelentes, com os seus próprios encantos e que se tornaram clássicos dos videojogos por excelentes motivos.

Opinião Final:

Planescape: Torment e Icewind Dale são-nos trazidos até à híbrida da Nintendo pela Beamdog, com mais um excelente trabalho à semelhança do pacote de Baldur’s Gate. Com controlos perfeitamente adaptados às consolas, é absolutamente inacreditável o facto de podermos ter no bolso a possibilidade de jogar obras destas, que são marcos da história dos videojogos. Duas décadas depois, ainda são jogos de peso e cuja influência se faz sentir sobre tantos outros títulos.

Do que gostamos:

  • Adaptação dos controlos à realidade de uma consola faz com que não se sinta falta de um rato e teclado;
  • Planescape: Torment e Icewind Dale onde quiserem!

Do que não gostamos:

  • Mais uma vez, é apenas um port sem quaisquer melhorias gráficas;
  • Preço poderá ser considerado excessivo, principalmente para aqueles que apenas querem um dos jogos.

Nota: 7,5/10