Ratchet & Clank: Rift Apart – Análise

Anunciado a 11 de Junho de 2020, Ratchet & Clank: Rift chega à PlayStation 5 exatamente um ano depois. Passamos as últimas 2 semanas com o jogo, e temos muito para partilhar!

No que toca a exclusivos PlayStation 5 não presentes na PlayStation 4, a Sony ofereceu nos últimos meses títulos “pesados” como Demon’s Souls e Returnal. Fantásticos, brutais e desafiantes. É, portanto, a altura ideal para um título “leve” e de pura diversão, e nada melhor do um jogo “da casa” como Ratchet & Clank, dos estúdios da Insomniac Games.

Cronologicamente, Ratchet & Clank: Rift Apart tem um encaixe algo estranho, situado após os eventos de “Into the Nexus”, lançado em 2013 na PlayStation 3 Este foi o último da saga “Future”, com jogos memoráveis como “Tools of Destruction”, e o meu favorito “A Crack in Time”. Apesar da identidade visual muito próxima de Ratchet & Clank, lançado em 2016 na PlayStation 4, e alvo de um recente patch para a PlayStation 5, este jogo foi feito a par com o filme animado lançado na mesma altura e não é considerado “canónico” numa forma clara.

Com isto dito, Rift Apart faz um bom trabalho em situar-nos na cronologia e lançar um arco narrativo que não depende de conhecimento prévio e se aguenta bem por si próprio, plantando algumas sementes para o futuro.

A história tem uma premissa que pode parecer rebuscada, mas é bem abordada e com um ritmo agradável de acompanhar, lembrando muito “A Crack in Time”, mas com universos paralelos em vez de tempo. Sem entrar em muitos detalhes, começamos com um grande festejo em honra dos nossos heróis, que se apresentam como “reformados”, depois das inúmeras vitórias dos jogos anteriores. Os festejos acabam por dar para o torto, com a intervenção de Doctor Nefarious, que decidiu roubar o reconstruído Dimensionator para encontrar uma dimensão onde seja vitorioso. Como qualquer plano de Nefarious, as coisas dão para o torto, e ainda que tenha viajado para a outra dimensão, acabou por danificar o véu entre as dimensões, causando instabilidade para todos os universos.

Ratchet e Clank são também transportados para esta diferente e curiosa dimensão, onde encontramos muitos paralelos face ao mundo que conhecemos. Aqui, Nefarious ganha sempre, e tem um poderoso império a controlar os mundos conhecidos. Logo ao início, o nosso duo é separado nas ruas de Nefarious City, com Clank a ser eventualmente encontrado por Rivet, uma Lombax.

A nossa aventura é assim apresentada nesta dicotomia, onde ora acompanhamos Ratchet, ora acompanhamos Rivet, sendo que cada um visita mundos diferentes, a começar com a aventura de arranjar a antena de Clank para que este possa comunicar com Ratchet. Com o desenrolar da história acabamos por também conhecer a versão de Clank desta dimensão, na forma de Kit. Os novos protagonistas, ainda que muito diferentes e com as suas histórias, são ao mesmo tempo reconhecíveis e rapidamente nos conquistam e nos deixam curiosos pelas suas histórias.

Esta forma narrativa funciona bem para desenvolver a ação, com diferentes missões sempre necessárias para cada protagonista, em mundos diferentes, e oferecendo alguns “twists” de jogabilidade e história, que introduzem alguma variedade. No entanto, por vezes esta útil separação acaba por parecer um “afastamento forçado”, para facilitar esta forma, ao invés de algo mais orgânico.

 A minha visão da história apresentada é geralmente bastante positiva, sendo que faz um bom trabalho em deixar-nos curiosos sobre os aspetos mais misteriosos que vão sendo introduzidos e mantidos em aberto. Acho que o início é um pouco lento, mas é razoável para a apresentação de um novo mundo que é feita, e assim que saímos do segundo mundo começam a surgir revelações mais interessantes e interações que deixam um sorriso. Isso é uma constante em todo o jogo, Ratchet tornou-se um verdadeiro jogo de positividade, mantendo alguns momentos tensos e sempre muito boa disposição à mistura, e a Insomniac aproveitou bem as personagens “paralelas” para sacar umas gargalhadas.

Passando à apresentação do jogo, tenho que começar pelas fantásticas cinemáticas, sem equivalente neste momento. O nível de animação, a qualidade das atuações vocais, a fidelidade gráfica, são todas absolutamente fenomenais. Tal como em Miles Morales, a Insomniac também faz um trabalho soberbo em incorporar as cinemáticas com a ação, e mesmo com o mundo, mantendo o equipamento visual que temos equipado. Não há nenhum trailer que tenha visto que faça jus à qualidade visual apresentada por Rift Apart, e mesmo a nível de realização, todas as cenas são muito bem orquestradas e sempre um gosto de ver, e nunca se prolongam por demasiado tempo.

Rift Apart tem nas costas o peso de ser um jogo realmente pensado para a PlayStation 5 e as suas características, e fomos desde o início vendidos a esta noção. O uso do SSD é essencial para o carregamento de cenas instantâneo que já foi vastamente mostrado em trailers, e é parte integral da jogabilidade, com muitos portais espalhados pelo mundo. Podemos usá-los para nos transportarmos rapidamente para outro lado, seja para resolver um puzzle ou para fugir a uma horda de inimigos, e é como usar um “grappling hook” instantâneo. Da mesma forma temos portais que dão para outras áreas, e mesmo para “pocket dimensions” onde podemos encontrar colecionáveis.

Dos tradicionais carregamentos nem falamos, é tudo essencialmente instantâneo e não há loading screens à vista, mesmo a carregar o jogo pela primeira vez. É estranho isto já ser o padrão a que nos habituamos, mas não posso deixar de o mencionar.

De um ponto de vista técnico, Ratchet & Clank: Rift Apart oferece 3 modos de jogo, novamente à semelhança de Miles Morales. Temos o modo fidelidade, 4k a 30fps e com Ray Tracing, o modo performance com 4k dinâmico a 60 fps, e o modo performance ray-tracing, com 4k dinâmico a 60 fps e ray tracing. Infelizmente, aquando do lançamento não tivemos oportunidade de explorar todos os modos da mesma forma, sendo que só foram introduzidos com o “Day 1 Patch” entretanto disponibilizado. A minha experiência de jogo foi no modo fidelidade, algo que me deixou inicialmente de pé atrás, por já estar “mimado” com 60 fps. Ainda assim, dou o braço a torcer dado que a performance é extremamente estável e fácil de acomodar, e os visuais são simplesmente soberbos. Testei um pouco dos outros modos, que estou agora a usar para o clássico “Challenge Mode”, e as primeiras impressões são muito positivas, sendo que me devo ficar pelo performance ray tracing como preferido. Mas volto a sublinhar, o modo fidelidade surpreendeu-me pela sua estabilidade e vale a pena experimentar. A implementação de ray tracing merece especial nota, salientando-se nalguns mundos, como Nefarious City, onde há imensas poças (a Insomniac levou mesmo a peito o Puddle Gate), mas os pequenos detalhes nos olhos de Ratchet e no corpo de Clank é que vendem mesmo a imersão. Outro factor que pode passar mais despercebido, mas acho que foi implementado brilhantemente, são as sombras do jogo.

No que toca a jogabilidade, os fãs da série vão-se sentir em casa muito rapidamente. O foco nas armas estapafúrdias e variadas continua, e há muita diversão para ter. Pessoalmente estava sempre a trocar de arma, para evoluir todas, mesmo as que gostava menos, e acabei sempre por gostar de cada uma à sua maneira. Para ajudar, temos a loja da Ms. Zurkon, onde podemos comprar armas e upgrades, com muitos deles a dar nova vida às armas à medida que as evoluímos. A Ms. Zurkon deste universo é bastante diferente da sua outra metade no universo regular, com uma voz mais animada e engraçada, criando interações sempre positivas.

No que toca a armas, temos alguns clássicos de volta, muitas reinvenções, e algumas novidades… Explosivas! A grande diferença é mesmo o feedback háptico e uso dos gatilhos adaptativos do DualSense, que fazem com que realmente cada arma se faça “sentir” diferente. Acho honestamente que conseguia distinguir grande parte das armas de olhos fechados, apenas a disparar com o comando. Uma nota para os mais sensíveis: as coisas podem ficar intensas, principalmente com os gatilhos adaptativos em feedback constante, mas é extremamente divertido. Já o feedback háptico está sempre presente, desde pequenas vibrações a cada passo, até grandes rombos.

Ainda que separados, Ratchet e Rivet partilham o arsenal, algo que é explicado no jogo como uma espécie de conta conjunta da resistência, por isso todas as compras e evoluções, e mesmo o dinheiro, é partilhado entre os heróis. Há, no entanto, um fator de personalização que é equipado separadamente, na forma das armaduras em 3 peças: cabeça, tronco e pernas. Há várias armaduras a colecionar pelos mundos, e na arena do bar do Mr. Zurkon, e podemos escolher o equipamento à vontade, podendo ainda escolher as cores de cada elemento da armadura. É algo que fica muito bem no modo fotografia, e que vai agradar a quem gosta de personalizar a aparência dos protagonistas. No meu caso, prefiro a aparência “standard”, pelo que aprecio a abordagem oferecida, onde basta colecionar as peças para ter os seus bónus, mas equipá-las é apenas visual.

No que toca a dificuldade, Rift Apart oferece vários modos, sendo os últimos dois suficientemente desafiantes, algo que se nota mais por exemplo na Arena, mas nunca proibitivo. A longevidade do jogo é adequada, mas se não forem muito exploradores, pode parecer algo curta. Para ajudar, temos uma lista de troféus adequada, com um Platinum que provavelmente muitos quererão fazer. O “Challenge Mode” entretará os que quiserem prolongar um pouco a experiência, mas sinto a falta de por exemplo um modo dedicado para a Arena, com mais desafios.


Opinião Final:

Ratchet & Clank: Rift Apart é um jogo fantástico, para além de ser extremamente divertido e visualmente de tirar a respiração. A qualidade de animação atingida pela Insomniac faz inveja a muitos filmes, mas o que realmente distingue Rift Apart do resto, é a forma como integra as funcionalidade da PlayStation 5 no centro das suas mecânicas. A forma como consegue apresentar novos protagonistas e contar uma história cativante num universo que já conta com 16 jogos é louvável, e ficamos a querer mais

Do que gostamos:

  • Apresentação visual ímpar;
  • Variedade de armas e armaduras;
  • Uso das funcionalidade exclusivas da consola;

Do que não gostamos:

  • Algumas ações na história parecem forçadas;
  • Bugs no decorrer do jogo, pricipalmente com NPCs;
  • Jogo poderia ser mais extendido, e modo arena poderia ser separado.

Nota: 9/10


Ratchet & Clank: Rift Apart chega em exclusivo à PlayStation 5 no dia 11 de Junho de 2021, por 79.99€.

 

Esta análise foi feita na PS5, com código gentilmente cedido pela PlayStation Portugal.